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Novo mapa reconstitui história do Universo e preenche lacuna problemática de 11 bilhões de anos

Consórcio internacional compilou o mapa 3D mais abrangente do cosmos observável já feito, melhorando nossa compreensão da história cosmológica.

Imagem circular em um fundo preto. No raio do círculo no sentido superior esquerdo, há vários números de tempo passado em bilhão de anos, que vão até 13,8 bilhões de anos. As áreas mais próximas do centro do círculo estão em diferentes cores, cada uma representando uma etapa do projeto eBOSS. Há pontos destacados para galáxias com gráficos, mas não há descrição do que são estes gráficos.

Um recorte do novo mapa mostrando as posições e distâncias dos objetos celestes desde o momento do Big Bang, há cerca de 13,8 bilhões de anos atrás, até agora. Imagem: SDSS

Um consórcio internacional compilou o mapa 3D mais abrangente do cosmos observável já feito, melhorando significativamente nossa compreensão da história cosmológica e levantando novas questões sobre as leis fundamentais que governam o universo.

O mapa atualizado, feito a partir de dados coletados pelo Sloan Digital Sky Survey (SDSS, ou “pesquisa digital do céu Sloan”, em tradução livre), oferece um histórico detalhado do cosmos, desde o Big Bang e sua fase inicial de expansão até a era atual.

A fase mais recente do projeto é denominada “extended Baryon Oscillation Spectroscopic Survey” (eBOSS, ou “Pesquisa Espectroscópica de Oscilação Bariátrica Estendida”, em tradução livre). Ela inclui as posições e distâncias de mais de 4 milhões de galáxias e quasares ultrabrilhantes em torno de buracos negros supermassivos, de acordo com um comunicado da EPFL, um instituto de pesquisa suíço. Os novos resultados estão mostrando como o universo evoluiu ao longo de um período de 11 bilhões de anos, preenchendo uma lacuna importante em nosso conhecimento.

“Em 2012, lancei o projeto eBOSS com a ideia de produzir o mapa 3D mais completo do Universo durante toda a sua trajetória, implementando pela primeira vez objetos celestes que indicam a distribuição da matéria no universo distante, galáxias que formam ativamente estrelas e quasares”, disse Jean-Paul Kneib, um dos líderes do projeto e astrofísico da EPFL, em um comunicado. “É um grande prazer ver o resultado deste trabalho hoje.”

O projeto eBOSS resultou em 23 novos artigos científicos (mais o novo mapa), que foram colocados nesta segunda (20) no servidor de pré-impressão arXiv.

Os astrofísicos já haviam recontado os primeiros dias do universo, calculando a abundância de elementos criados após o Big Bang e estudando a radiação cósmica de fundo em micro-ondas — o resíduo resfriado da primeira luz do universo.

Os cientistas também têm uma boa noção da história cosmológica recente, conforme informado por mapas galácticos e medições de distância.

Mas “existe uma lacuna problemática nos 11 bilhões de anos que ficam no meio das duas coisas”, disse Kyle Dawson, cosmologista da Universidade de Utah e principal pesquisador do eBOSS, em um comunicado do SDSS.

Para olhar para essa lacuna de 11 bilhões de anos, os cientistas se concentraram em galáxias e quasares, procurando padrões de como eles estão distribuídos pelo universo. Essas observações foram então combinadas com os dados coletados durante as fases anteriores do SDSS, que remontam a 1998.

“Em conjunto, análises detalhadas do mapa do eBOSS e as experiências anteriores do SDSS forneceram agora as medições mais precisas do histórico de expansão no intervalo de tempo cósmico mais amplo já reconstituído”, Will Percival, astrofísico da Universidade de Waterloo e Survey Scientist do eBOSS, disse na declaração da EPFL. “Esses estudos nos permitem conectar todas essas medidas em uma história completa da expansão do universo.”

O mapa atualizado mostra vazios e filamentos que definiram o universo apenas 300 mil anos após o Big Bang, que ocorreu 13,8 bilhões de anos atrás. Ao identificar quasares antigos — núcleos galácticos extremamente brilhantes em torno de buracos negros supermassivos — os pesquisadores foram capazes de mapear regiões com mais de 11 bilhões de anos. Para mapear períodos mais recentes, ou seja, regiões entre 6 bilhões e 11 bilhões de anos, os cientistas rastrearam padrões na distribuição de galáxias, que posteriormente permitiram medições mais precisas da energia escura.

“Uma das coisas que queremos descobrir é a evolução temporal da energia escura — essa coisa misteriosa que está causando a aceleração do universo”, disse Ashley Ross, cientista do projeto e pesquisadora da Universidade Estadual de Ohio, ao Ohio State News.

De acordo com os novos dados, o universo entrou em sua fase de expansão acelerada há cerca de 6 bilhões de anos e vem aumentando a velocidade desde então.

Curiosamente, os novos dados do eBOSS estão complicando nossa compreensão da taxa em que o universo está se expandindo, conhecida como Constante Hubble. Parece haver uma discrepância entre a taxa local (isto é, recente) de expansão universal em comparação com o universo primitivo, e a diferença chega a 10%. É “improvável que essa diferença de 10% seja aleatória devido à alta precisão e grande variedade de dados no banco do eBOSS”, diz a EPFL.

Não está claro por que deveria haver uma diferença na taxa de expansão entre o universo local e o inicial, mas pode ter algo a ver com uma forma desconhecida de energia ou matéria que existia na época.

Isso agora representa uma possibilidade tentadora que terá que ser pesquisada em trabalhos futuros. Essa pode ser a imagem mais abrangente do universo até o momento, mas também mostra que ainda falta muita coisa para descobrir.

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