Novo projeto de exploração de petróleo no Ártico é um pesadelo

Companhia nacional de petróleo da Rússica iniciará exploração no Ártico graças às geleiras que estão derretendo
Foto: Alexander Zemlianichenko (AP)

A petrolífera nacional da Rússia iniciou a construção de um grande projeto no Ártico. A nova operação só irá acontecer porque agora é possível atravessar em alguns onde antes não era –tudo graças à queda dos níveis de gelo marinho à medida que o planeta aquece e o derrete.

O Barents Observer relatou esta semana que navios de construção foram avistados na costa da Península de Taimyr, na Sibéria, e despejaram cerca de 20 mil toneladas de materiais de construção para começar a obra que pretende ser o maior terminal de petróleo do Ártico. O projeto, chamado Vostok Oil, é propriedade da Rosneft, que é controlada pelo governo russo, mas tem uma série de investidores privados (incluindo a Bloomberg, que, se você se lembrar, tem grandes planos de ser zero poluente até 2050 ). O CEO da Rosneft disse a Vladimir Putin que a empresa também começou a perfurar em uma nova área licenciada neste mês, como parte do projeto.

O projeto proposto é assustadoramente grande. A Rosneft disse que prevê exportar 25 milhões de toneladas de petróleo por ano até 2024, 50 milhões de toneladas até 2027 e 115 milhões de toneladas até 2030. (A empresa planeja construir 15 cidades inteiramente novas para os 400 mil trabalhadores necessários). A agência, é claro, disse no início deste mês que toda a nova produção de petróleo e gás precisa parar no próximo ano para manter o mundo no caminho certo para cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. Mas isso aparentemente não é tão importante! Há petróleo a ser perfurado em uma das regiões mais sensíveis do mundo! Por que não? 

Está preparado para sentir mais raiva? Aqui vai: a Rosneft disse que o óleo que será produzido a partir do projeto Vostok é “amigo do ambiente”, relatou o Barents Observer. Aparentemente, a empresa disse que o petróleo terá “uma pegada de hidrocarboneto muito pequena” (eles não forneceram mais detalhes sobre como estão calculando isso, embora tenham se gabado de desenvolver fluidos de perfuração “ecológicos ), e Rosneft disse está planejando alimentar sua extração com turbinas eólicas. Uau, saber disso torna tudo muito melhor! (Esqueceram de avisar que queimar óleo justamente é a maior fonte de emissões de gases nocivos.)

A área onde o terminal está sendo construído é uma das regiões de aquecimento mais rápido do mundo. No início deste ano, a Península de Taimyr registrou temperaturas 12ºC a mais do que a média. 

Um relatório climático da agência meteorológica russa disse que a península está esquentando com uma velocidade surpreendente, maior do que qualquer outra área do país, registrando um aumento de 1,2 ºC desde 1976. 

A temporada de incêndios do ano passado foi um saga para os livros, com os cientistas descobrindo que eles eram 600 vezes mais prováveis de acontecer graças às mudanças climáticas. As chamas liberaram quantidades recordes de carbono, e os incêndios, causados ​​pela turfa que ardia sob a neve durante o inverno, já reacenderam na superfície este ano

Algumas penínsulas adiante, a tundra (um bioma com baixas temperaturas que impedem o desenvolvimento de plantas)  também começou a explodir com uma regularidade alarmante nos últimos anos devido ao aumento do calor.

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O derretimento do gelo marinho tornou possível a exploração de combustível fóssil no Ártico, uma vez que os navios agora podem levar suprimentos e combustível em rotas que antes estavam congeladas. No início deste ano, um navio-tanque de gás usou um quebra-gelo para atravessar os mares do Ártico no auge do inverno, um feito inédito sobre o qual a empresa de navegação produziu um vídeo um tanto alegre demais

Como a jornalista Amy Westervelt apontou no início deste ano, as empresas americanas de petróleo e gás estão basicamente ansiosas para que o Ártico se abra por décadas: empresas como a Chevron e a Exxon (bem como empresas internacionais como a Shell) têm patentes que datam as décadas de 1970 e 1980 com máquinas e técnicas que já eram capazes de perfurar o Ártico.

Tudo isso é horrível? Sim, a não ser que você seja uma empresa de petróleo e gás. 

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