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O Google OnHub é um dispositivo estranho para um mundo que ainda não existe

O roteador com 14 antenas do Google é para o mundo das casas conectadas. Mas esse mundo ainda não existe em 2015.

O OnHub é o mais recente experimento bizarro do Google – um roteador de US$ 200 com catorze antenas que está sendo apresentado como a solução para as pessoas que possuem zilhões de dispositivos wireless em casa com diferentes necessidades de rede. Mas o que isso realmente significa? Eu desmontei meu OnHub com os hackers de hardware do iFixit para descobrir.

Para aqueles que não conhecem, o iFixit é uma pequena empresa da Califórnia, nos EUA, devotada à ideia de que todo dispositivo deve ser reparável caso ele quebre. Fundado em 2003 por Kyle Wiens e Luke Soules, o iFixit vende kits de ferramentas e peças de reposição para praticamente qualquer gadget – mas o mais importante é que eles desmontam novos dispositivos assim que chegam ao mercado, documentam cuidadosamente todo o processo, e postam um manual de reparos gratuito na internet. Se você comprar um dispositivo como o OnHub, o iFixit vai falar tudo o que você precisa saber sobre ele.

Quando falei com Wiens sobre o OnHub, ele me disse que ainda não tinha conseguido um. Então me voluntariei a sacrificar o que tinha pedido em nome do conhecimento. E quanto mais a gente desmontava o roteador, mas as coisas ficavam estranhas.

Eu assisti aos mestres do desmonte do iFixit Andrew Goldberg e Samantha Lionheart trabalharem. Como podem ver acima, o OnHub tem um acabamento plástico e um anel LED brilhante em torno do alto-falante na parte superior para que você saiba se o dispositivo está funcionando normalmente ou não. Também há um pequeno sensor de iluminação incorporado ao alto-falante, que especulamos servir para diminuir as luzes do dispositivo em ambientes escuros.

Além disso, o que você vê na imagem é na verdade a traseira do dispositivo. Como descobrimos, a antena direcional principal está localizada no outro lado, então você vai querer que a fonte, a entrada USB 3.0 e os cabos de rede fiquem virados para a parede de onde você colocar o OnHub. O que acaba atrapalhando um pouco quando queremos plugar alguma coisa rapidamente.

Antenas

Na imagem que abre esse post, você encontra o OnHub pelado – sem a carcaça de plástico exterior. Mas por dentro desse corpo você encontra uma máquina que busca um propósito. Abrir o dispositivo – com uma ferramenta especial usada apenas para processos de abertura – deixou Goldberg com ao menos um dedo cortado, e a carcaça ganhou algumas rachaduras. Não foi a última vez que desejamos que o OnHub fosse feito para ser facilmente desmontado.

Nosso desejo aumentava conforme desmontávamos o dispositivo, e percebemos que ele não foi feito para qualquer um. Acima, você pode ver a placa-mãe posicionada entre dois dissipadores de calor, uma antena direcional dupla presa à caixa, e uma placa de antenas em forma de anel na parte superior amplificando nada menos que doze antenas. E você não consegue ver na imagem a antena de “detecção de congestionamento”, que fica acima disso tudo. Então sim, falamos de catorze antenas enfiadas nesse dispositivo estranho com um alto-falante e um sensor de luz… mas nenhum microfone, e apenas uma porta de rede. Isso tudo, que foi montado pela fabricante de roteadores TP-Link, cheira a protótipo.

Abaixo, você pode ver os conectores entre as antenas, e a placa-mãe. Sim, todos esses pequenos conectores dourados alinhados são para as antenas (seis deles fazem o 2.4GHz e seis o 5 GHz). Cada um desses buracos pretos conta com duas antenas, a maioria delas para Wi-Fi normal – mas uma é para Bluetooth, e outra para um protocolo de redes de casas inteligentes conhecido como 802.15.4.

Abaixo você vê a placa das antenas novamente, rodeando o alto-falante. Por que esse aparelho precisa de tanto poder de antenas quando ele não faz quase nada? “É um experimento com as antenas!” disse Lionheart enquanto tirava as fotos.

Abaixo você vê a placa-mãe livre dos dissipadores de calor, com todos os componentes listados pelo iFixit no desmonte depois de um pouco pesquisa. Nada muito marcante aqui, além de ZigBee confirmando que estamos olhando para um hub que foi parcialmente desenvolvido para casas inteligentes (O ZigBee é um consórcio sem fins lucrativos que desenvolve padrões abertos para dispositivos conectados como os que você encontra em uma smart home.)

Um dispositivo para um mundo que não existe

Mas deixe-me falar um pouco mais sobre a frase “parcialmente desenvolvido para casas inteligentes” que coloquei acima. Sim, o OnHub é parcialmente para uma smart home ou qualquer espaço com uma floresta de dispositivos conectados. Mas também é para o bom e velho Wi-Fi. E para Bluetooth. Mas ele tem uma mísera porta de rede, o que significa que é basicamente inútil para qualquer rede que ainda dependa de cabos – mas muitos de nós ainda dependemos de muitos fios na nossa vida. E sem um microfone para comandos de voz, a única forma que você tem para controlar é via um app do Google OnHub.

Quando Wiens e eu olhamos a placa-mãe mais de perto, percebemos que alguns dos chips tinham sido fabricados no fim do ano passado, e alguns no começo deste ano. É bem diferente do cenário que Wiens costuma encontrar quando coloca as mãos em um dispositivo da Apple, cujos chips normalmente foram fabricados semanas antes do lançamento. Isso sugere que o OnHub não está sendo fabricado em grande escala, e é só um amontoado de componentes que sobraram de meses atrás. É realmente apenas um dispositivo experimental.

E isso é compreensível considerando que, no fundo, o OnHub é um dispositivo para algo que ainda não existe. Em cinco anos, quando mais pessoas estiverem controlando luzes, fechaduras e comida de bichos de estimação via redes sem fio, aí sim o OnHub vai ser necessário. (Mas mesmo nessa situação continuo achando estranho a ausência de um microfone e as poucas portas disponíveis). É um hub para um mundo de coisas wireless que falam diversos protocolos diferentes.

Mas para o mundo de hoje esse dispositivo não tem um sentido para existir. Minha aposta é que o Google espera que desenvolvedores e hackers de hardware como o pessoal do iFixit façam exatamente o que fizemos – desmontar, avaliar e dar ideias para a próxima versão. E a próxima versão já está sendo preparada, com a Asus no lugar da TP-Link.

Impossível de consertar

Quando testamos novos dispositivos, esquecemos de considerar um aspecto muito importante: quão fácil é desmontar essa coisa? Muitos consumidores se importam com apps e usabilidade, mas essas coisas não importam para o pessoal do iFixit. Eles nem ligaram o OnHub durante todo o processo. Eles só queriam ver a capacidade do hardware dele, e se as pessoas poderiam ser removidas, trocadas, ou recicladas.

Como você pode ver na imagem acima, o iFixit deu ao OnHub a nota 4 de 10 em reparabilidade. O dispositivo parece ter sido projetado para evitar que as pessoas desmontem facilmente. Isso significa que se você der US$ 200 por um cilindro experimental que dispara ondas de rádio, você provavelmente não vai conseguir consertá-lo, caso seja necessário. E isso também significa que ele não vai poder ser usado por muito tempo. Quando chegar a hora de jogar fora, centrais de reciclagem vão ter dores de cabeça despedaçando o OnHub para fazer com que ele valha dinheiro para compensar a reciclagem.

Então o Google OnHub foi desenvolvido para um ecossistema de dispositivos que ainda não existe. E sua impossibilidade de ser consertado quase que certamente prejudica o ecossistema que existe. Então eu acho que o OnHub é para um futuro distópico? Vamos torcer para que a Asus consiga mudar a linha do tempo com a próxima versão desse dispositivo ao nos oferecer um dispositivo verdadeiramente útil que possa ser consertado com qualquer que tenha as ferramentas corretas. [iFixit]

Fotos por Samantha Lionheart

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