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O insano diário secreto de John McAfee

John McAfee, fundador da empresa de antivírus de mesmo nome, está sendo procurado pela polícia de Belize para ser interrogado sobre o assassinato do expatriado americano Gregory Faull. Em setembro deste ano, McAfee publicou um diário em três partes de suas recentes “aventuras” em Belize em um fórum privado, onde ele descreveu como sua vida […]

John McAfee, fundador da empresa de antivírus de mesmo nome, está sendo procurado pela polícia de Belize para ser interrogado sobre o assassinato do expatriado americano Gregory Faull.

Em setembro deste ano, McAfee publicou um diário em três partes de suas recentes “aventuras” em Belize em um fórum privado, onde ele descreveu como sua vida foi transformada – e de acordo com a McAfee, ameaçada – nos últimos dois anos pela corrupção no governo local e nacional, assim como por seu harém pessoal de mulheres locais. De acordo com a McAfee, uma dessas mulheres, “Amber Smith”, era uma assassina. Ele chamou a história de “Darkness Falls”.

Eis a história da McAfee em suas próprias palavras. Os nomes de pessoas não-públicas foram alterados, e detalhes que pudessem identificá-las foram editados.


Nota do autor: Esta é uma história em três partes, pois não é possível contá-la de uma só vez. A Parte Um, a seguir, define o cenário para a história.

Contar esta história de forma visual não seria possível sem a presença d'[O Cartunista] antes e durante o clímax da história. Ele levava sua câmera constantemente com ele e suas fotografias narraram os acontecimentos e capturaram a essência dos personagens na história. [O Cartunista] tem colhões de aço, aliás.

Esta é uma história de intriga e mentiras, envolvendo grandes riscos e perigos. Ou, talvez, esta seja uma história de paranoia onde acontecimentos inócuos são mal interpretados por uma mente instável.

Minha mente.

Alguém próximo a mim perguntou se a paranoia pode ter desempenhado um papel na criação de muitos dos eventos nesta história. Essa pergunta me atingiu profundamente. Os eventos eram certamente fora do comum, e os motivos aparentes por trás deles beiravam o inacreditável – na verdade, um excelente indicador de paranoia. No entanto, eventos semelhantes com motivos semelhantes aconteceram comigo em menos de dois anos, e envolveram a mesma Amber que recentemente se apresentou para [omitido]. A garota era real, a arma era real e eu ainda estou praticamente surdo na minha orelha esquerda como um indicador que os eventos realmente ocorreram.

Talvez o dilema da paranoia seja causado por uma desconexão cultural. Muitos eventos que são comuns em Belize são desconhecidos nos Estados Unidos. A criminalidade violenta e generalizada é um exemplo. Poucos querem o envolvimento adicional de uma força policial que é em grande parte corrupta e universalmente brutal em uma situação já brutal e instável. Como outro exemplo, os maridos que têm múltiplas famílias simultâneas são a norma em Belize, e não a exceção. Isto dá origem a métodos exemplares de prevaricação e hipocrisia.

A mentira em comunidade é certamente um dos exemplos mais estranhos de diferenças culturais. Por exemplo, não importa quanta animosidade e ódio exista entre os vários membros de uma comunidade da aldeia, eles, como uma só voz, menosprezam uma pessoa de fora e todos eles, sem exceção, aderem a qualquer ardil que o consenso julgar necessário para afastar essa pessoa de fora. É um mecanismo de defesa surpreendente e poderoso. Então o sigilo e a mentira compõem o ar que todos respiram aqui. Ou talvez isso seja apenas a paranoia se justificando.

Mas chega de introspecção. Vamos continuar a história.

Por onde começar? Poderíamos começar quando eu chamei o primeiro-ministro de mentiroso na imprensa nacional há alguns meses. Ele ficou irritado, claro: isso provavelmente exacerbou minha situação, e certamente acelerou o plano dele para me expulsar do país, ou para acabar comigo. Mas isso parece ser tarde demais para ser um começo. Ou podemos começar com a minha recusa em ajudar o filho do primeiro-ministro, Shyne, a ganhar uma libertação antecipada de uma prisão americana em 2009, ou a minha recusa em doar para o partido político do primeiro-ministro no ano passado. Mas os eventos parecem demasiado brutos e mundanos para serem usados como o começo de uma história que, apesar de concentrada em ações com extremo destaque, era articulada sobre forças muito sutis.

Ou poderíamos começar com a minha chegada, há cinco anos, em Belize, que começou a desfazer lentamente o verniz já frágil de gentileza que estava presente em mim.

Mas isso parece muito remoto e, nos recessos sombrios da minha mente, isso é simplesmente um evento aleatório na cadeia de causa e efeitos que não tem começo. Não, o início da história tem que ser mais recente. Acredito que começa no período em que comecei a viver com cinco mulheres e meia. A mudança de vida foi motivada por uma necessidade de economizar tempo. Andar por aí visitando minhas várias amantes consumia recursos enormes, e meu tempo diário de viagem excedia a duração média da viagem entre Newark e Manhattan, ida e volta.

As cinco mulheres e meia são, na verdade, sete. Mas duas das mulheres se comprometeram a relacionamentos com outros homens e também vivem comigo. As duas mulheres são minhas duas ex-amantes, e uma delas ainda dorme comigo, então eu a conto como “meia”. Os homens são ambos músicos, por puro acidente, e não por planejarem isto. As outras cinco mulheres partilham a minha cama de forma regular.

Minha querida Amber, que se apresentou a [omitido] há algum tempo, encontrou um bom músico gringo chamado Brandon, e se apaixonou. Ambos preferem morar comigo, por razões práticas óbvias, e Amber e eu ainda somos bem próximos.

E Susan, minha amante há 11 anos, agora tem um parceiro que mora aqui chamado Stephen. Stephen é [omitido], e é um dos melhores músicos que eu tive o prazer de conhecer.

As outras cinco mulheres são todas de Belize. A primeira, você já conheceu antes. Eu contei a história de Tiffany há dois anos e meio, que muitos de vocês pareceram gostar. Não muito tempo depois da história, Tiffany e eu nos tornamos amantes e, cerca de um ano atrás, ela se mudou para minha casa. Ela já não trabalha mais no bar. Ela tem [idade omitida] agora.

A próxima é Marly. Marly é prima de Amber, e somos amantes há um ano e meio. Ela tem [idade omitida]. Marly morou na aldeia de [omitido] durante a maior parte de sua vida, e foi criada em pobreza abjeta. Ela fala muito pouco inglês e tem o equivalente a uma educação de terceira série. Ela é suave e encantadora.

E então, temos Jane. Jane se envolveu, com 15 anos de idade, com um senhor chamado A.P. Leonard, o outro morador branco de Orange Walk. A.P. possui um Centro de Missão de 81.000m² chamado La Estima, cujo objetivo é “ajudar os necessitados”. [Presumivelmente, McAfee está se referindo a este centro. -Ed.] Ele está localizado no outro lado do rio, em frente à minha casa.

Seu único programa ativo é ajudar as mulheres jovens carentes mandando outras jovens para as vielas de Orange Walk, a fim de convencer meninas rebeldes a irem para o tal centro. A.P. escolhe aquelas cuja necessidade pareça maior e lhes dá um emprego no local. O salário é de US$ 25 dólares por semana, e as jovens recebem um quarto – há 50 ou mais deles – e não é permitido sair dos quartos exceto para trabalhar. A.P. visita as jovens mulheres para lhes oferecer orientação espiritual tarde da noite. Da última vez que soube, havia cerca de 20 jovens no programa. Toda a propriedade é cercada por um muro de pedra de 4 metros coberto por vidro quebrado.

Jane escapou desse centro há cerca de quatro meses, com a ajuda de um guarda de segurança, e encontrou seu caminho até mim. Sua irmã Amanda ainda está no local e se tornou uma consorte para A.P. Jane é prima de Tiffany. Ela tem [idade omitida].

E há Betsy. Betsy me caçou há dois anos para reclamar que um dos meus cachorros havia comido uma de suas galinhas. Ela pesava 39kg e tinha a atitude e o temperamento de um wolverine. Ela disse: “Só porque você é um Homem Branco não significa que eu tenho que puxar seu saco! Eu não sou sua puta!” Eu gostei dela imediatamente. Betsy se mudou há 10 meses, ficou dois meses e saiu, e depois voltou há 5 meses. As coisas parecem mais estáveis entre nós agora.

E depois temos Anna, e o começo da História:

Que não pode ser contada sem apresentar sua co-conspiradora:

A quem todos chamavam de “Amber Dois”.

Anna apareceu cerca de 4 meses atrás. O notório Nick, sobre quem eu fiz uma história para [omitido] há alguns anos, apresentou-a para mim. Nick a apresentou como sua prima, e a trouxe com ele para a ilha para uma visita de fim de semana. Na primeira noite que ela estava aqui, ela foi para o quarto de Jane, com quem eu estava dormindo no momento, e entrou na cama com a gente. Dentro de alguns minutos, ela simplesmente disse a Jane para sair, o que Jane fez. Eu frequentemente me pergunto como a história teria sido muito diferente se eu tivesse dormido com Amber 1 naquela noite. Nós todos teríamos memórias desagradáveis de variadas partes do corpo.

Foi Amber 1 quem deu o alarme sobre Anna pela primeira vez. “Tem algo de errado nela”, dizia. Achei que era apenas ciúme. Eu devia ter escutado. A Amber 1 tem uma longa história de mentir com sucesso, e tem uma antena altamente refinada em sintonia com seu próprio povo. Seu aviso final para mim foi na manhã daquele dia fatídico, que abordaremos em breve, onde no caminho para a reunião crítica, ela me puxou de lado e disse: “Você vai fazer todos nós morrerem. A Anna é responsável por tudo isso. Sei disso como um fato. Faça algo agora antes que seja tarde demais.”

Era, infelizmente, tarde demais.

Tiffany foi a próxima. Ela comentou no início: “Eu passo mais tempo com ela do que qualquer uma e eu estou dizendo a você – ela está tramando algo ruim”. Tiffany fez amizade com Anna desde o começo. É uma técnica competitiva que ela usa para avaliar mais facilmente os pontos fortes e fracos do seu oponente.

“Ela vai lhe causar sérios problemas. Só estou lhe dizendo. Você precisa se livrar dela”, se tornou o mantra de Tiffany. Mais uma vez, eu achei que era ciúme. Tiffany acompanha quantas horas por semana eu passava com todas, e me confronta com frequência sobre eu passar menos tempo com ela. Ela também “percebeu” que eu durmo mais perto da Anna quando nós três dormimos juntos:

Então o ciúme parecia ser a fonte óbvia das opiniões de Tiffany sobre Anna.

Betsy se limitou a dizer: “Eu não gosto dela”. Marly disse: “Ela sorri demais”.

Meus erros de julgamento foram monumentais. Eu deveria ter notado tudo no momento em que a Amber 2 chegou. Ela era namorada de Arthur Young, o notório gângster da Cidade de Belize que foi baleado pela GSU no dia 23 de abril, ao tentar tirar um arma de seis oficiais corpulentos GSU enquanto suas mãos estavam algemadas atrás das costas. [Link estava no texto original.]

Amber 2 estava fugindo quando chegou aqui. Ela tinha delatado Arthur por US$100.000 em dinheiro – pago pela GSU – então a gangue de Taylor Street que Arthur comandava colocou uma recompensa de US$50.000 pela cabeça dela. Além disso, a gangue rival de George Street, comandada por Pinky Tillett, colocou um alvo nela porque Arthur supostamente havia matado Pinky uma semana antes. [Link estava no texto original.]

Gangues rivais aqui frequentemente têm como alvo as namoradas de líderes de gangues.

Em todo caso, ela estava temendo por sua vida, e correr para o “homem branco” parecia a aposta mais segura. Eu tive meus próprios desentendimentos com a GSU e fui, até agora, a única pessoa em dois anos a sair ileso. Eu tinha muitos seguranças e uma abundância de armas, e diziam que eu era amigável com os moradores ao redor. Ela apareceu e pediu proteção. Quando eu descobri que ela era uma das melhores cozinheiras em Belize, eu a deixei entrar. [O Cartunista] vai, com certeza, validar a minha avaliação da culinária dela. Ele, creio eu, se apaixonou um pouco pela Amber 2.

A chegada de Amber 2 poderia ter sido contada apenas como uma mulher extra. Mas ela havia sido recentemente solta da prisão, após esfaquear a namorada rival de Arthur sete vezes no rosto com uma tesoura de cabelo. Ainda com a mente em bom estado, eu decidi que dormir com a namorada de Arthur Young poderia desestabilizar um conjunto complexo de relações que já incluía, pelo menos, um psicopata. A discórdia é alta.

Amber 1 ameaçou Betsy mais de uma vez com uma faca, e alterna entre o amor e o ódio por Tiffany. Betsy ameaçou cortar minha garganta muitas vezes e já entrou em briga de puxões de cabelo com Jane em duas ocasiões. Tiffany mantém o controle de tudo e nos trata de forma passiva-agressiva para nos manter tristes. Marly invadiu meu quarto com uma arma enquanto eu estava dormindo com Anna e deu um tapa no rosto de Jane mais vezes do que eu posso contar. E Anna, bem, ela tentou várias vezes matar todos nós. Mas eu vou chegar a isso. Geralmente a discórdia é acalmada por uma viagem em grupo ao salão de beleza:

Mas nem o salão de beleza, nem seu aliado mais poderoso, o Final de Semana no Spa, poderia ter qualquer efeito sobre os eventos ocultos que se desenrolam sob a superfície desta família feliz.

Nick sabia dos eventos porque ele ajudou a montar a armadilha. Ele se tornou meu confidente e conselheiro em assuntos culturais neste país e eu passei a gostar dele, e até a confiar nele. Como vendedor ambulante de carne de primeira, ele tem um olhar afiado para os gostos dos que o rodeavam, e seria natural para ele escolher o veneno.

E Anna sabia porque ela foi treinada e preparada durante muitas semanas antes de ser apresentada a mim. Ela é irmã dos três bandidos mais durões de Orange Walk (algo que eu não sabia na época) e, desde que nasceu, ela presenciou incontáveis horrores feitos a membros de gangues rivais, lavadores de dinheiro e outros infelizes que entraram em conflito com seus irmãos. Depois que a trama foi descoberta, ela me contou calmamente sobre ver seus irmãos cortarem os dedos de um lavador de dinheiro, e como isso a deixava entusiasmada. Ela também me disse que eles estavam planejando usar a mesma técnica em mim para eu revelar onde meu dinheiro estava escondido.

Amber 2 estava preparada para me encontrar também. Como namorada de Arthur Young, não precisamos nem mesmo adivinhar o que ela já testemunhou.

E Eric Swan sabia porque ele tinha as armas e os “soldados” que seriam utilizados para me pegar. [Link estava no texto original.]

E James, o primo de Eric, sabia. Mas não por muito tempo. James foi morto duas semanas depois de nosso encontro, algo que conto na Parte II.

Um simples roubo e assassinato foram os motivos dessa trama, mas nas mentes dos autores os ganhos deveriam ser na casa dos milhões de dólares – assim, a preparação elaborada e com um grande número de participantes. Mas por trás desses motivos simples havia segredos mais escuros, e é nesse âmbito que surgem as questões de paranoia.

Por que eu fui escolhido? Essa é a pergunta que surge mais frequentemente. Eu acredito que é porque eu sou o único gringo que mora em tempo integral em Orange Walk, e os moradores acham que eu sou ser notoriamente rico. Meu vizinho, A.P. Leonard, gosta de dizer que ele vive aqui há doze anos ou mais e não teve problemas. Na verdade, A.P. passa só três meses por ano em Belize – vindo uma semana a cada mês – e durante suas visitas, ele permanece bloqueado atrás de uma parede de pedra com 4 metros de altura. Eu morei em Orange Walk por dois anos antes de saber que alguém morava no terreno à frente. Eu, por outro lado, estou aqui em tempo integral e eu deixo tudo exposto.

Mas a Parte Dois vai abordar estas questões em detalhe. Ela vai apresentar um assassino de aluguel chamado Mac-10 – antes um inimigo, e agora amigo e um participante fundamental da história. Para os dois outros membros da [omitido] que o conhecem, ele foi atacado há dois dias em Dangriga por um homem com uma marreta e abandonado para morrer. Ele está em estado crítico.

»Stuffmonger ↩
Terça-feira, 11 setembro, 2012 às 17:36:49 x28


Joel Johnson escreve sobre ciência e tecnologia para diversos veículos, e também para seu site, o Mote and Beam.

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