O Kindle Fire não é um tablet com Android. Ele é um tablet com Amazon

É impossível escapar da tentação de dizer que o iPad finalmente tem um concorrente: já era a hora de alguma empresa conseguir lançar um aparelho apoiado em um conteúdo invejável. Mas o Kindle Fire, da Amazon, poderia ser chamado de “o tablet Android que acabará com os outros Androids”. Mas eis o truque: não há […]

É impossível escapar da tentação de dizer que o iPad finalmente tem um concorrente: já era a hora de alguma empresa conseguir lançar um aparelho apoiado em um conteúdo invejável. Mas o Kindle Fire, da Amazon, poderia ser chamado de “o tablet Android que acabará com os outros Androids”. Mas eis o truque: não há necessidade alguma de enxergar o tablet da Amazon como um tablet com Android.

Na realidade, é muito mais fácil encontrar semelhanças entre o iPad e o Fire. Ambos trazem uma loja gigantesca de livros, músicas e aplicativos na bagagem. Ambos se apoiam na fama e no histórico de suas empresas para garantir confiança dos consumidores. E nenhum deles pensa muito em hardware, especificações ou versões de sistema: eles preferem ser práticos, ponto final. E julgando pelo cenário atual do mercado de tablets, é isso que as pessoas procuram.

Mas se os dois trabalham com distribuição de conteúdo em telas portáteis, por que eles não são concorrentes diretos? O preço é, basicamente, o fator decisivo. Desde o início da família Kindle, a Amazon tem como objetivo oferecer bons produtos por preço de produtos capengas. Agora, um Kindle poderá ser comprado por 80 dólares. E o Fire chegou como uma bomba no mundo dos tablets: como alguém pode vender um aparelho de 200 dólares?

A conta é simples: provavelmente a Amazon perderá dinheiro em cada unidade vendida do Fire. Mas como o pensamento por trás do tablet é aumentar a distribuição do gigantesco conteúdo multimídia da empresa, a expectativa é de que, aos poucos, ela recupere o prejuízo com venda de livros, músicas e apps. Isso pode demorar alguns anos. E isso apenas mostra como o projeto da Amazon é de longo prazo: mais do que a Apple, que ainda gera muito lucro com hardware, a empresa de Jeff Bezos quer que você viva ao redor de seu conteúdo, gastando um dólar aqui, dez ali, e fazendo girar o comércio online da empresa.

200 dólares é menos da metade de um iPad, você pode dizer. E é também metade do preço de um Galaxy Tab 10.1, de um Motorola Xoom e de muitos outros tablets que chegaram de sopetão no mercado, sem estratégia alguma, como se fosse necessário marcar território. O mercado da Amazon será diferente do mercado do iPad: enquanto o segundo é visto como um enorme investimento, algo que precisa de meses de debate para descobrir se vale realmente a pena, o Fire pode muito bem ser uma compra de impulso de milhares de pessoas — por US$200, ou R$375 reais atuais, quem não gostaria de brincar com o conteúdo da Amazon?

E se no cenário premium o iPad é líder absoluto e o Fire chega para dominar a categoria inferior, onde ficarão abarrotados tantos tablets com Android?  Tirando um Coby e outro xing-ling, os aparelhos com Android custam o mesmo que o iPad — e o dobro do Fire. E se alguém quer uma experiência que não seja da Apple, por que ele escolherá hoje um Xoom, de US$500, e não um Fire, de US$200?

Você pode usar seu tablet da forma que bem entender, mas a Amazon e a Apple tem uma visão bem clara da função dos aparelhos: consumo de conteúdo, com utilização quase antagônica ao de um computador convencional. Se você pretende tirar férias do trabalho e não ouvir mais um pio sobre o assunto, você provavelmente não viajará com seu notebook — mas seu tablet estará na mochila. Ele será seu videogame, seu livro e seu MP3 player. O número de apps vendidos pela App Store e os mais de 20 milhões de iPads vendidos indicam que as duas estão no caminho certo.

Se o cenário já era difícil para o Honeycomb antes do Fire, infelizmente o Android não ganhou um parceiro na luta — ele ganhou mais um inimigo. Se antes o Galaxy Tab, o Xoom e tantos outros enfrentavam apenas o iPad, agora eles terão que dar conta do pequeno Fire — e isso significa um corte de preço que talvez nenhuma empresa esteja pronta.

Além da dificuldade de tração dos aparelhos, o sistema operacional também não anda bem. Poucos apps são lançados para a plataforma, revistas e livros interativos parecem fugir do Honeycomb e a solução é viver dentro de um navegador. A proposta do Honeycomb, por mais interessante que possa ser, não é aquilo que a maioria dos usuários busca.

Faça uma busca na página do Fire. Há uma mísera menção ao Android. A Amazon não fez questão alguma de citar o sistema em sua apresentação. Sabemos que ele roda um Andorid 2.3 por pura sede de curiosidade, mas é inútil chamá-lo de tablet com Android. O redesenho criou um sistema da Amazon baseado no robô. Ele não é um layer, como o TouchWiz ou o Motoblur, ele é um sistema completamente novo: o sistema da Amazon. E é assim que a Amazon quer que o Fire seja visto: como algo novo, e não como um novo soco na ponta da mesma faca.

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