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O plano esperto de Tóquio para reutilizar os estádios olímpicos de 1964 nas Olimpíadas de 2020

Tóquio foi escolhida como cidade-sede das Olimpíadas 2020 neste fim de semana, graças à sua candidatura de US$ 5 bilhões, surpreendentemente menor comparada ao dinheiro gasto por outras cidades-sede recentes. O ponto crucial da proposta (além daquela coisa toda de construir uma parede de gelo ao redor de Fukushima)? Um plano para reaproveitar grandes locações […]

Tóquio foi escolhida como cidade-sede das Olimpíadas 2020 neste fim de semana, graças à sua candidatura de US$ 5 bilhões, surpreendentemente menor comparada ao dinheiro gasto por outras cidades-sede recentes. O ponto crucial da proposta (além daquela coisa toda de construir uma parede de gelo ao redor de Fukushima)? Um plano para reaproveitar grandes locações construídas para os Jogos Olímpicos de 1964.

Embora muitos estejam questionando se o dinheiro comprometido para o evento esportivo pode piorar a recessão japonesa, a candidatura de Tóquio é uma visão mais esperta e enxuta do que tradicionalmente se espera das cidades-sede olímpicas. Em vez de construir novas locações, eles reaproveitarão estruturas existentes por toda a cidade — incluindo o mesmo estádio levantado para os Jogos de 1964, que receberá uma reforma completa pela Zaha Hadid.

Trabalhando com a “estrutura óssea” do velho estádio, a Hadid acrescentará um teto retrátil e outros recursos contemporâneos — e, nessa, economizará alguns milhões de dinheiros para a cidade. Duas outras locações de 1964 (Nippon Budokan e o Ginásio Metropolitano de Tóquio, abaixo) também serão usados para os Jogos de 2020 e, graças ao excelente sistema de trânsito de Tóquio, a cidade não precisará investir muito em novos trens e linhas de ônibus.

Haverá um punhado de novas estruturas construídas, mas a maioria delas será localizada no centro de Tóquio para reduzir os custos de tempo e a energia no transporte. Uma Vila Olímpica compacta será construída no porto de Tóquio e, quando os Jogos terminarem, convertida em domicílios. Este plano tem suas origens na década de 1960, pelo menos conceitualmente: em 1960, um jovem arquiteto chamado Kenzo Tange propôs a construção de um sistema massivo de domicílios ao longo da Baía de Tóquio. Ele nunca saiu do papel, mas o plano influenciou projetos de urbanização nas décadas que se seguiram.

Embora seja bem menos cara, a candidatura de 2020 tem muita influência dos Jogos de Tóquio de 1964, que foram um triunfo para a cidade e marcaram a reentrada completa do Japão no mundo pós-guerra, reforçando os incríveis trabalhos de reconstrução do país. Projetos de infraestrutura gigantescos, como a reconstrução do Porto de Tóquio, foram feitos. O primeiro trem-bala de alta velocidade do mundo estava pronto para ser usado pelos participantes. O total gasto em locações, estradas, linhas de trem e infraestrutura foi igual a quase 4% doPIB japonês.

Nippon Budokan e o Ginásio Metropolitano de Tóquio, construídos em 1964.

Os Jogos de 64 também foram um marco tecnológico. Foi o primeiro evento a ser transmitido ao vivo para além dos oceanos, graças aos recém-instalados cabos submarinos. A tecnologia de acabamento fotográfico moderno foi implementada. Uma série de pictogramas não-verbais brilhantes foi desenvolvida por Yoshiro Yamashita, servindo para transcender as barreiras linguísticas que dividiam visitantes e atletas.

Muita coisa mudou desde 1964. Seja pelos escândalos de dopping e acusações de corrupção, ou pelo fato de que a maioria das cidades acaba com dívidas enormes com grandes construções, as Olimpíadas meio que perderam a aura econômica e social que a caracterizava nas décadas de 1960 e 70. 2020 é a chance de recobrar um pouco desse otimismo. Se há uma cidade com potencial para mudar a imagem pública abarrotada, gastona e cínica dos Jogos Olímpicos nos anos recentes, esta cidade é provavelmente Tóquio.

Lead: Adam Pretty/Getty Images.

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