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O que acontece se você não tomar a segunda dose da vacina contra Covid-19?

Conversamos com cientistas e médicos para explicar quais as possíveis consequências de quem não tomar a segunda dose do imunizante.

Ilustração: Elena Scotti (Photos: Shutterstock)

Ilustração: Elena Scotti (Shutterstock)

A vacinação contra Covid-19 já começou em vários países do mundo, inclusive aqui no Brasil (mesmo que a passos bem lentos). E no momento em que escrevo este artigo, todos os imunizantes em uso dependem de duas doses cada para alcançar a eficácia prometida pelos respectivos laboratórios farmacêuticos. No Brasil, por enquanto, somente as vacinas CoronaVac e de Oxford/AstraZeneca estão sendo aplicadas.

Nos Estados Unidos, mais de 42 milhões já receberam pelo menos uma dose das vacinas disponíveis no país — as da Pfizer/BioNTech e da Moderna. Ambas as vacinas são altamente eficazes na prevenção dos sintomas de Covid-19 para aqueles que recebem duas doses com intervalo de um mês.

No entanto, algumas pessoas, até mesmo cientistas, se perguntam se uma única dose ou duas doses tomadas com mais de um mês de intervalo podem fornecer benefícios semelhantes, em grande parte com base em dados selecionados dos ensaios clínicos usados ​​para garantir sua aprovação de emergência. O Reino Unido, por exemplo, permitiu que os médicos adiassem a segunda dose da vacina Pfizer/BioNTech por até 12 semanas.

Além disso, algumas pessoas podem acabar recebendo apenas uma dose ou sendo expostas ao coronavírus antes de receberem a segunda dose. Então, conversamos com cientistas e médicos para esclarecer sobre o que aconteceria em tal cenário.

Dr. David Lo

Imunologista e professor da Divisão de Ciências Biomédicas da Universidade da Califórnia

A segunda dose pode ser muito importante para garantir uma resposta imunológica adequada. Se pudesse fazer uma analogia seria em como aprendemos algum material complexo em uma aula. Algumas pessoas de sorte podem entender as informações imediatamente, sem a necessidade de revisão ou lembretes de reforço, mas a maioria dos estudantes precisa revisar e repetir para lembrar as informações de forma sólida em suas mentes.

Haverá variação individual [para alguém que toma apenas uma dose], mas uma possibilidade é que eles podem não ter a imunidade protetora total. No entanto, mesmo um pouco de imunidade da primeira dose ainda pode ajudar a reduzir a gravidade de qualquer infecção, pois ainda é capaz de fornecer uma vantagem inicial ao sistema imunológico.

Dra. Rebecca Wurtz

Médica de doenças infecciosas e especialista em saúde populacional da Universidade de Minnesota

Se houver algum imprevisto ou a segunda dose não estiver disponível no dia de tomá-la, eu tentaria recebê-la o mais rápido possível, preferencialmente dentro de alguns dias. Até aí, você tem menos proteção — embora ainda tenha alguma — contra infecções e doenças graves e ainda pode transmitir o vírus se for infectado. E é quase certo que você obterá uma proteção significativa, mesmo se receber a segunda dose com semanas de atraso. Planos de dosagem alternativos estão sendo estudados.

Eu faria uma distinção entre o esquema de dosagem inicial (duas doses administradas com algumas semanas de intervalo para as vacinas Pfizer e Moderna) e uma dose de “reforço”, que geralmente é administrada em uma data muito posterior para aumentar a resposta imunológica. As doses de reforço contra o tétano, por exemplo, são administradas a cada 10 anos após a série inicial de vacinas na infância. A diminuição da resposta imune inicial conferida pelas vacinas contra Covid-19 ainda é desconhecida, mas já vem sendo estudada. Doses de reforço podem se tornar rotineiras.

Dados recentes sugerem que, se você teve o novo coronavírus, uma única dose da vacina Pfizer ou Moderna, que atuariam como uma dose de reforço, é suficiente para estimular os níveis de anticorpos em níveis aceitáveis de proteção. Resumindo: por enquanto, tome a segunda dose na hora certa, ou o mais rápido possível após a primeira dose. Mas não entre em pânico se ela atrasar, mesmo se for por várias semanas.

Dra. Cheryl Healton

Reitora da Escola de Saúde Pública Global da Universidade de Nova York

Os testes das vacinas da Pfizer e Moderna nos EUA registraram cerca de 70% de eficácia contra casos graves após uma dose, 25% menos do que tomar as duas doses. Resta saber se as vacinas serão igualmente protetoras contra outras variantes, mas os estudos de laboratório são promissores.

É importante receber as duas doses, mas certamente uma dose é melhor do que nenhuma. A esperança é que vacinas de dose única e com armazenamento mais fácil serão uma grande melhoria em comparação com os imunizantes atuais [em uso nos EUA].

Dr. David Alland

Professor e chefe da Divisão de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de Rutgers

Em primeiro lugar, não temos dados de longo prazo sobre nenhuma dessas vacinas em termos de quanto tempo a imunidade vai durar. Normalmente, a segunda dose de vacinas é usada para aumentar a proteção, mas também para aumentar sua duração. Sabemos que o nível de proteção aumenta com a segunda aplicação, e há uma vantagem nisso. Mas não sabemos quanto tempo essa proteção vai durar. E é provável que sua imunidade dure mais com a segunda dose.

No momento atual precisamos de mais proteção por ainda estarmos no pico de transmissão. Estamos começando a ver cair agora, e esperamos que isso continue. Contudo, com a chegada das novas variantes, é muito importante que façamos tudo o que pudermos para interromper a propagação do vírus. Portanto, por motivos de saúde pública, acho que queremos fazer o que for possível para obter uma proteção excelente com essas duas vacinas disponíveis, ao invés da proteção incerta de um intervalo maior entre uma dose e outra.

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