O que é necessário para vender a fotografia mais cara da história?

A arte é cara. Não, melhor: a alta arte é cara. É um dos mercados mais manipulados e desregulados do mundo, com uma minoria de artista na estratosfera superior e uma maioria de desconhecidos no piso térreo. Recentemente falamos das dez fotografias mais caras já vendidas, e três delas são do mesmo artista: Andreas Gursky, […]

A arte é cara. Não, melhor: a alta arte é cara. É um dos mercados mais manipulados e desregulados do mundo, com uma minoria de artista na estratosfera superior e uma maioria de desconhecidos no piso térreo. Recentemente falamos das dez fotografias mais caras já vendidas, e três delas são do mesmo artista: Andreas Gursky, que iniciou uma nova exibição no Japão neste mês. Então parece um momento apropriado para perguntarmos: como a “Gurskymania” começou?

Tanto o Priceoconomics quanto o Quartz já falaram sobre a matemática do mercado de arte, e a realidade é chocante quando definida por economistas. A essência básica do mercado? Como o valor real do trabalho no mundo da arte é subjetivo, cabe às galerias de arte manipular o custo do trabalho dos seus artistas. Elas fazem isso de duas formas complexas: ao definir preços que caminham em uma linha cuidadosa entre o muito barato (mandando uma mensagem de que o artista não vale muita coisa) e o muito caro (passando a mensagem de que o artista é superestimado), e ao controlar quem compra (dizendo sim a colecionadores de prestígio e não para todo o resto). Na essência, é algo opaco e totalmente fabricado e manipulado e ocorre há décadas.

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Bolsa de Chicago II, Andreas Gursky, 1999

É uma dança complicada, e é preciso ser um mestre para aperfeiçoá-la. Gursky é um dos ratos fotógrafos que conseguiu. Ele começou como um fotógrafo qualquer, parte da Dusseldorf School, que defendeu o realismo, liderado por Bernd e Hilla Becher. Como ele conseguiu se diferenciar de um grupo de pensadores documentaristas?

A carreira profissional de Gursky começou com amostras em grupo em 1985. Um ano depois ele ganhou destaque, e uma exposição apenas dele foi feita em um pequeno museu alemão. Pouco depois, ele estava em galerias espalhadas pela Europa. Até agora, nada demais.

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Trabalhadores de uma fábrica de móveis em Nha Trang, Vietnã. Foto por Andreas Gursky.

A partir daqui as coisas ficam mais complicadas. No começo dos anos 1990, o mundo da arte estava se expandindo. Os colecionadores mais entusiastas, como Allison Schrager do Quartz lembra, “preferiam trabalhos provocativos… artistas que ultrapassam as fronteiras e refletem a desordem social servindo um papel importante na história e na nossa sociedade moderna.” O trabalho de Gurksy se encaixava nessa definição. Ele fotografava o que você pode chamar de “fenômenos de mercado”> prédios de escritórios, lojas de 99 centavos, e bolsas de valores. Eram imagens densas e estáticas nas quais todos os detalhes eram tão importantes quanto os outros. Fotos em centros do capitalismo como Tóquio, Hong Kong, e Los Angeles, e impressão em escala massiva, elas eram as fotografias perfeitas para um tempo obcecado com o consumismo e saúde econômica.

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99 centavos, Andreas Gursky. Cortesia do Centro Nacional de Arte.

O assunto em si exigia atenção – e, logo, grandes museus o chamaram. Em 1998, Gursky foi convidado para fazer sua primeira exposição solo nos Estados Unidos no Museu de Arte de Milwaukee, então uma instituição com uma reputação que estava começando a se concretizar no mundo da arte (graças, em parte, ao recém-aberto prédio por Santiago Calatrava). A exposição foi um sucesso. Naquele ano, a taxa de crescimento para uma venda média de Gursky subiu 3.000%.

Apenas três anos depois, o MoMA abria as portas para uma retrospectiva do trabalho de Gursky (ele tinha 46 anos na época). Um grande sucesso o acompanha desde então, passando por prêmios e retrospectivas da carreira ao redor do mundo. Há dois anos, seu Reno II foi vendido em leilão por US$ 4,3 milhões. A foto mostra as margens do rio entre duas amostras de verde, abaixo de um céu cinzento.

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Reno II, Andreas Gursky

Mas forças externas têm conspirado para dar a Gursky ainda mais fascínio. Ele foi um dos primeiros fotógrafos a experimentarem impressão cromogênica – também conhecidas como “c-prints” – que usam composições instáveis de cores. No fim dos anos 2000, colecionadores perceberam que essas impressões sumiam com o tempo. Ninguém sabe quanto tempo as c-prints duram, mesmo quando são devidamente preservadas. Então não apenas as imagens de Gursky são desejadas – elas também estão em perigo.

Ao mesmo tempo, o mundo mudou desde que Gursky começou a retratá-lo. E como em qualquer boa febre, a Gurskymania tem seu lado ruim. “Gursky ainda está tentando renderizar o espaço pré 11/9, onde o comércio corria sem uma corrente de medo”, disse Jerry Saltz, da New York Magazine. “As novas fotos de Gursky são cheias de anfetamina visual, mas agora elas também acompanham clorofórmio psíquico.”

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Qatar no Centro Nacional de Arte

Apesar de não chamar mais tanto a atenção de críticos, Gursky continua a render leilões altíssimos – e o fascínio por sua obra não diminuiu para os curadores. Neste nês, em Tóquio, o Centro Nacional de Arte iniciou uma grande exposição, incluindo novos trabalhos que mostram paisagens carregadas. Há o Qatar (2012), por exemplo, que lembra o interior de um cofre de ouro, ou o Bahrain (2007), representando o vazio Circuito Internacional de Losail, construído para sediar corridas de automobilismo.

Normalmente não pensamos em arte como uma atividade de mercado, mas frequentemente ela é. O que é realmente interessante é ao segurar um espelho para mercados de intensa atividade econômica, Gursky se tornou extremamente bem sucedido ao manipular um deles. A exposição continuará até o dia 16 de setembro em Tóquio.

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Imagens via Centro Nacional de Arte

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