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O que realmente acontece com seu corpo quando ele é sugado para o vácuo

Devagar, Dave. Você já irritou o comandante da nave o bastante para garantir uma passagem sem volta da câmara pressurizada. Agora, você se vê abraçado pelo frio do espaço sideral sem capacete. Aqui temos o que acontece contigo nesses últimos momentos vivo. A morte pelo vácuo se transformou em uma marca registrada do cinema espacial moderno. 2001, Total […]

Morrendo no espaço.

Devagar, Dave. Você já irritou o comandante da nave o bastante para garantir uma passagem sem volta da câmara pressurizada. Agora, você se vê abraçado pelo frio do espaço sideral sem capacete. Aqui temos o que acontece contigo nesses últimos momentos vivo.

A morte pelo vácuo se transformou em uma marca registrada do cinema espacial moderno. 2001Total RecallOutland – Comando Titânio, Armageddon, cada um dos filmes da série Alien — nenhum filme situado fora da atmosfera terrestre está completo se não tiver alguém sendo sugado de uma câmara pressurizada com seu uniforme rasgado ou, de qualquer outra forma, estando sujeito ao vácuo absoluto do espaço. No entanto, cada filme parece encontrar uma nova e inventiva maneira de fazer as pessoas perecerem nessa situação. Alguns vão pela descompressão explosiva — Quaid teve seus olhos quase estourados em Total Recall e o trabalhador da construção de Outland teve a sua cabeça explodida na hora. Outros simplesmente viram um picolé humano (como em O Enigma do Horizonte). Qual das duas é a certa? Bem, um pouco de ambas, para ser sincero.

Felizmente, os efeitos retratados nos filmes são exagerados em magnitude e velocidade. Você não explode ou congela instantaneamente na realidade — a transferência de calor é muito vagarosa para isso. Nem seu sangue ferve imediatamente, graças à resistência do seu sistema tegumentar. Você não frita na hora como uma batatinha devido à radiação solar não filtrada, embora pegue uma queimadura feia. Não, não, você tem uns bons dez ou quinze segundos para ensandecer antes de começar a desfalecer, e dois minutos mais ou menos antes de morrer.

Você só tem quinze segundos porque é, mais ou menos, o tempo que leva para o sangue desoxigenado circular dos seus pulmões para o seu cérebro. Quando você é colocado em um vácuo, o processo de troca de gases trabalha no reverso — seus pulmões na realidade puxam oxigênio do seu corpo e despejam-no de volta aos pulmões quando é exalado. A diferença de pressão dentro e fora do corpo causa uma grave forma de doença descompressiva, similar a que mergulhadores têm quando sobem muito rápido. Isso provavelmente causará rupturas nos seus pulmões. Na realidade, você permanecerá consciente por até trinta segundos se você expirar nos primeiros segundos.

Além do seu corpo expelir ativamente a coisa da qual ele mais precisa, várias outras mazelas começar a aparecer na marca dos dez segundos. A pele exposta começa a queimar (na forma de queimaduras, não pegam fogo mesmo) e os tecidos dérmicos começam a inchar devido à água em seus músculos que evapora espontaneamente, causando pequenas manchas escuras. A umidade do nariz, olhos e boca evapora, causando úlceras localizadas. O início da hipóxia tem seu conjunto próprio de sinais, incluindo a perda da visão (e do discernimento), seguida de convulsões, perda da consciência e cianose (quando a sua pele fica azul). Nesse ponto, você não está morto morto”, apenas “bastante” morto — seu cérebro ainda funciona e seu coração também. Você ainda pode ser revivido, surpreendentemente com sequelas permanentes mínimas, se você for recolocado imediatamente em uma atmosfera. Entretanto, essa janela de salvação dura apenas 90 segundos. Depois disso, a sua pressão sanguinea cai o bastante para começar a ebulir, o que danifica seu coração e praticamente acaba com as chances de salvação. De acordo com o Bioastronautics Data Book, o seu fim é mais ou menos assim:

“Algum grau de consciência será mantido por 9 a 11 segundos (veja o capítulo 2 em Hipóxia). Em uma rápida sequência posterior, a paralisia será seguida por convulsões generalizadas e paralisia novamente. Durante esse tempo, o vapor d’água se formará rapidamente nos tecidos moles e um pouco menos rapidamente no sangue venoso. Essa evolução do vapor d’água causará marcas de inchaço para algo como o dobro do seu volume a menos que seja contido por um uniforme pressurizado. (Já foi demonstrado que uma vestimenta elástica apropriada pode prevenir completamente esse efeito a pressões de até 15 mm Hg absoluta [Webb, 196, 1970].) O batimento cardíaco inicialmente aumentará, mas cairá rapidamente em seguida. A pressão arterial também cairá ao longo de um período de 30 a 60 segundos, enquanto a pressão venosa aumentará devido à distenção do sistema venoso por gases e vapores. A pressão venosa chegará ou excederá a arterial em um minuto. Virtualmente, não haverá circulação sanguinea efetiva. Depois de um excesso de gases dos pulmões durante a descompressão, ele e o vapor d’água continuarão a fluir para fora através das vias aéreas. Essa evaporação contínua de água resfriará a boca e o nariz a temperaturas próximas do zero; o restante do corpo também começará a congelar, mas mais devagar.”

A ciência é geralmente certa a respeito da complexidade da morte pelo vácuo, em grande parte devido a um número de erros e situações de risco ocorridas desde o início da Corrida Espacial. Por exemplo, em 195, um astronauta foi exposto a algo próximo ao vácuo (menos de 1 psi) por 14 segundos devido a um vazamento em seu uniforme espacial. Nesse curto período, ele perdeu a consciência e sofreu cianose, e depois relatou que pouco antes de desfalecer ele podia sentir a água em sua língua começar a ferver. Em outro acidente no JSC, um técnico de voo ficou preso em uma câmara de altitude com mau funcionamento por quase quatro minutos antes que um gerente de pensamento rápido chutou um dos medidores de vidro da câmara de teste para pressurizá-la imediatamente.

O Almanaque Soviético de Voo Espacial Tripulado também descreve os efeitos da exposição ao vácuo como experimentado por três cosmonautas a bordou de um protótipo da Soyuz em 1971:

“…o módulo orbital estava normalmente separado por 12 dispositivos pirotécnicos que deviam ser disparados sequencialmente, mas eles dispararam, incorretamente, todos ao mesmo tempo, e isso gerou uma esfera que na válvula de equalização da pressão da cápsula, permitindo que o ar escapasse. A válvula normalmente abre a baixa altitude para igualar a pressão do ar da cabine com a do ar fora dela. Isso fez com que a cabine perdesse toda a sua atmosfera em cerca de 30 segundos enquanto ainda estava a uma altura de 168 km. Em segundos, Patsayev se deu conta do problema e se desprendeu de seu assento para tentar e cobrir a saída da válvula e desligá-la, mas havia pouco tempo restante. Levaria 60 segundos para desligar a válvula manualmente e Patsayev conseguiu fechar metade disso antes de desmaiar. Dobrovolsky e Volkov estavam virtualmente incapazes de ajudar já que estava amarrados a seus assentos, com pouco espaço para se moverem na pequena cápsula e sem condições de ajudarem Patsayev. Os homens morreram pouco depois de desmaiarem. […] O resto da descida foi normal e a cápsula aterrissou às 2h17 AM. As forças de recuperação localizaram a cápsula e abriram a escotilha apenas para encontrar os cosmonautas estáticos em seus assentos. À primeira vista eles pareciam estar dormindo, mas um exame mais atento explicou por que não havia comunicação normal da cápsula durante a descida.”

Embora o fim da sua vida no espaço não soe nem de longe tão dramático como Hollywood tenta fazê-lo acreditar, a exposição ao seu vácuo interminável ainda é bem ruim. E, mais do que certamente, você morrerá. Desculpe. Apenas lembre-se de respirar primeiro. [NASAGeoffrey LandisDamn InterestingImagem: eddtoro / Shutterstock]

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