O telefone/tablet/netbook da Asus parece uma ótima ideia. Mas ainda estamos em 2012

Na CES 2011, ficamos empolgados com o Atrix, da Motorola. Foi o destaque da feira, e chamamos de “Smartphone dos seus sonhos“, porque além de ser aparentemente o aparelho mais rápido até então, ele se transformava em notebook. A ideia de um “Transformer” habita o imaginário popular de amantes de gadgets desde antes do desenho […]

Na CES 2011, ficamos empolgados com o Atrix, da Motorola. Foi o destaque da feira, e chamamos de “Smartphone dos seus sonhos“, porque além de ser aparentemente o aparelho mais rápido até então, ele se transformava em notebook. A ideia de um “Transformer” habita o imaginário popular de amantes de gadgets desde antes do desenho animado, e nos deixamos levar pela empolgação ali. Hoje, mais de um ano depois, vemos que a ideia da smartphone-notebook ainda precisa de um bocado de trabalho — o pouco sucesso do Atrix mostra um pouco isso. Mesmo assim, a Asus parece convencida que os modelos híbridos são o futuro ao mostrar o seu Padfone, smartphone que vira tablet que vira netbook. Cético, gastei bons minutos testando-o no escondido estande da Asus, no último dia do MWC.

O Padfone aparentemente tem seu público — tanto que muitos de vocês se mostraram bastante empolgados. Nós explicamos especificações e conceito no outro post, e se você quiser saber como ele funciona pode ver este post do ZTop (com fotos) ou do Adrenaline (com vídeo). Das minhas impressões, trago boas e más notícias. Antes, os reclames oficiais:

As coisas legais

* O conceito de autonomia compartilhada: Quando o Padfone se conecta ao tablet, ele não só deixa de usar sua capacidade, como passa a ser carregado pela bateria grande (6600 mAh) da tela sem cérebro. Acrescente o dock com teclado (o mesmo do Transformer), e ele passa a carregar as duas coisas. Então, o Padfone “dockado” tem mais de 16 horas de autonomia.
* A canetinha mil e duas utilidades: Além de ser uma stylus, coisa que bizarramente está voltando à moda, a caneta da Asus é um fone bluetooth, onde você pode atender ligações. Cenário de espião de filme: você deixa o telefone “dockado” para carregar na sua pasta ou mochila e atende a ligação na caneta.
* O Ice Cream Sandwich. A Asus diz que atrasou o lançamento do Padfone porque esperava por um novo sistema do Google. E o ICS, ao unificar a experiência, permite uma integração rápida de telas de tamanho diferente. Você está vendo o app do Gmail no telefone, por exemplo, e quando pluga coloca na carcaça o “user agent” muda (o software entende que agora está num tablet) e o app reorganiza suas janelas. Você ganha novas e mais largas colunas, por exemplo. A rapidez da transição é bem impressionante. Em cerca de 2 segundos o app o software se transforma.
* O teclado: O Asus Transformer é pra mim o melhor tablet com Android, por muito, porque tenta ser algo um pouco diferente do iPad: no caso, um netbook. O teclado aqui é bom e as teclas dedicadas, a possibilidade de um “Alt+Tab” para trocar entre tarefas fazem com que ele tenha mais potencial produtivo que o iPad, por exemplo.

O que não empolga

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* O Ice Cream Sandwich. Volte lá nos nossos primeiros posts do iPad e veja se você foi uma das 150 milhões de pessoas que achou que ele era apenas um “iPhone gigante”. Pois então. Se você gosta do Padfone, força na autocrítica agora, porque o Padfone na forma de tablet é o epítome de “telefone gigante”. Sim, o iPad também o é (o sistema é o mesmo!), mas os apps tem muito mais diferenças em relação às versões de smartphone lá do que aqui. Isso muito em parte porque o Google aconselha que os desenvolvedores façam apps basicamente iguais para telas bastante diferentes, apenas prevendo as mudanças de posicionamento e tamanho (vide diagrama). Em coisas simples, como no Gmail, funciona direito. Mas em apps mais elaborados, como aplicações de design, editores de texto ou jogos, não. É claro que a relativa escassez de apps pensados para tablets de tamanho específico é mais um problema dos desenvolvedores do que algo inerente ao PadFone, mas em nenhum outro Android o conceito de “apps alargadas” é mais claro que aqui.
* O peso: Só o tablet tem 729 gramas, contra menos de 598 g do Galaxy Tab 10.1 ou o 610 do iPad 2. E ele também não é fino. Acrescente o telefone e o teclado e não temos um conjunto exatamente esbelto.
* A prisão de formatos. Se você quiser “fazer valer” o investimento na tela-tablet do PadFone, você terá que escolher, na hora de fazer upgrade, um outro smartphone Asus com mesmo tamanho de tela. Você não tem opção de outro tamanho de tela do tablet também.
* A canetinha: O aspecto comunicador é legal, mas ela não é sensível a diferentes níveis de pressão como a S Pen da Samsung, e não há um lugar na carcaça para guardá-la, como no Galaxy Note.
* O hardware: Por enquanto, as únicas aplicações que tomam real partido dos últimos processadores potentes são os jogos disponíveis na Tegra Zone para o Tegra 3, como o Shadowgun, onipresente no MWC. O Padfone usa o Snapdragon S4, um dual-core de 1.5 GHz que não é nada ruim, mas não conta com o apadrinhamento gamístico da Nvidia. Além disso, se você comprar um tablet dedicado conseguirá uma tela menos reflexiva e provavelmente mais memória. E tem um outro tablet que sai na quarta que em especificações será decididamente melhor, se você curte esse lance de especificações.
* Preço: A Asus não anunciou quanto ele custaria. Eu perguntei algumas vezes e a resposta foi bem vaga, com algumas dicas de “não vai ser barato”. É seguro acreditar que a soma das 3 partes (smartphone, tablet e dock com teclado) custaria na casa dos mil dólares. A ideia da Asus é vender o aparelho através das operadoras, com descontos pesados para planos pesados. Ainda assim, será um gadget caro em comparação com smartphones ou tablets, com preço comparável (um pouco mais barato, é claro) que as duas coisas separadas. Fora que haverá smartphones melhores e tablets melhores, o que também é óbvio, e é possível combinações que aproveitam o melhor de dois mundos, como um smartphone com Android 4.0 e um iPad. Deixemos claro que o preço do negócio e seus acessórios só deverá ser anunciado em algum momento de abril, então o que estou fazendo aqui é trabalhando com a hipótese de algo caro. Se o conjunto telefone mais tablet for, sei lá, 2 mil Reais, esqueça tudo que eu escrevi ali atrás. O Kindle Fire por 400 dólares é um péssimo tablet, por 200 é um gadget muito bom (nos EUA). Se este Padfone fosse bem barato, seria o gadget do ano. Mas ele não vai ser, e então eu não entendo como ele poderia fazer sucesso. Fora o fator novidade, qual é a real valor deste conjunto?

ASUS Padfone 03

Há uma visão de futuro que parece fazer bastante sentido: a de que nós só teríamos um “computador” que plugaríamos em telas diferentes — TVs, o monitor do trabalho, ou no caso aqui o tablet. Isso fará mais sentido quando tivermos telas dobráveis e pudermos guardar o apetrecho-tablet no bolso, não sei. Mas hoje, eu vejo muito pouco sentido nessa ideia. Para que o tablet e o telefone tenham valor, é interessante que você faça coisas diferentes nos dois, porque compartilhar os seus arquivos também tem cada vez menos vantagem. Quando eu tiro uma foto no iPhone hoje, ela quase que imediatamente está disponível no app de fotos do iPad (via iCloud). Mesma coisa para os apps que baixo ou músicas que compro no iTunes. A sincronização também é parecida com o Google+ e Picasa, Google Docs, Evernote, etc etc. Então você não precisa levar os seus arquivos para todos os lados e plugar em algo para lê-los. A nuvem vai ser mais onipresente.

Vejo bastante gente comprando telefones cada vez maiores para não precisarem de tablets — o sucesso do Galaxy Note aponta para isso. O PadFone segue um caminho bizarro: ele quer a convergência-separada. Não consigo ver isso decolando a não ser, é claro, que ele seja surpreendentemente barato. Alguém aí estaria disposto a pagar uma bolada para ter o conjunto? Mas bom, isso sou eu. E vocês, que ficaram empolgados, por que ele seria tão melhor que as partes separadas?

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