Já faz muito tempo (séculos!) desde que Istambul deixou de ser o ponto de comércio entre a Ásia e o Ocidente. Mas, ontem, na inauguração da ferrovia submarina mais profunda já feita, autoridades turcas descreveram a visão deles para “restaurar a Rota da Seda” ligando Londres a Pequim – graças a uma ferrovia financiada pelo Japão que passa por baixo do estreito de Bósforo.
O novo túnel Marmaray atravessa um solo sagrado (e manchado de sangue). O estreito que separa a Europa e a Ásia foi disputado por mais de um milênio – muito antes do Cristianismo (e das Cruzadas) entrarem na jogada. Foi o catalizador geográfico para dúzias de guerras e centenas de acordos de comércio (para saber mais sobre alguns deles, leia o livro 1453: A Guerra Santa por Constantinopla e o Confronto entre o Islã e o Ocidente), e fez Constantinopla – hoje Istambul – ser o que é.
Imagem via Turkey Analyst.org.
Rodando a cerca de 60 metros abaixo da superfície do estreito canal de água, a ferrovia de 13,5 km agora é dona do título de “túnel submerso mais profundo do mundo”. Ela estava em construção desde 2004, e sua abertura ocorreu quatro anos após o planejado – em partes, graças à descoberta de restos de uma embarcação bizantina descrita como “a maior coleção de naufrágios do mundo” pelo arqueólogo Ufuk Kocabas, da Universidade de Istambul. “Elas variam de pequenos barcos de carga a grandes embarcações navais bizantinas que ajudaram a derrubar cercos árabes e repelir outras tentativas de conquistadores”, explicou à NPR.
Nove anos ainda é um período curto para algo deste tamanho, e alguns críticos dizem até que foi rápido demais.
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O Guardian, por exemplo, detalha diversas acusações contra a integridade estrutural do túnel da Marmaray, começando com um alerta da Câmara de Arquitetos de Istambul, que afirma que o design não conta com um sistema de emergência eletrônica. Ainda mais grave: preocupações em relação à estabilidade sísmica do solo por baixo do estreito.
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O estreito de Bósforo encontra-se em uma falha geológica: o chão é instável graças ao ponto de encontro de duas placas tectônicas. O estreito de Bósforo, como você pode ver, encontra-se em uma falha geológica: o chão é instável graças ao ponto de encontro de duas placas tectônicas. Estimativas sísmicas atuais indicam uma probabilidade de 75% da terra ao redor – e abaixo – de Istambul sofrer com um terremoto de magnitude 7.0 nas próximas três décadas. Autoridades da cidade, entretanto, respondem aos críticos avisando que eles precisam desconsiderar esses alertas: um artigo de 2007 da Wired descreve o processo de estabilização do chão ao redor do túnel com a injeção de argamassa industrial.
Mesmo em meio a essas questões de segurança, ninguém contesta que esta cidade em rápida expansão precisa de mais opções de transporte público – o túnel deve transportar quase um milhão de pessoas por dia. E como pessoas em tantas outras partes do mundo, eles vão tentar não pensar nos riscos durante a viagem. [The Guardian]
Foto (e imagem de topo) por Muhammed Enes Okullu.
Construção do túnel, por Brian Stokle.