Nos últimos meses, as evidências de que existe um oceano de água líquida sob a superfície congelada de Plutão tem ganhado muita força. Modelos propostos por pesquisadores da Universidade Brown sustentam essa hipótese e dá um passo além: o oceano do planeta pode ter mais de 100 quilômetros de profundidade.
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A conclusão, que foi publicada nesta semana na Geophysical Research Letters, foi obtida pela simples observação da Sputnik Planum, aquela mancha enorme que tem forma de coração. A Sputnik Planum fica exatamente no eixo das marés, ligando Plutão à sua maior lua, Charon.
Como outros pesquisadores observaram, a posição da mancha sugere que a anomalia tem massa positiva. A teoria é de que o asteroide responsável por criar a Sputnik Planum teria atingido alguma região próxima ao polo norte do planeta, mas com o passar do tempo o material pesou e fez ele tombar.
Porém, o que teria causado uma grande densidade à região não é algo tão simples.
“Uma cratera de impacto é basicamente um buraco no chão”, diz o líder do estudo, Brandon Johnson, em um comunicado. “Você está pegando um monte de material e o jogando contra algo, então você espera que ele cause uma anomalia negativa, mas não é isso que vemos na Sputnik Planum. Isso fez com que as pessoas pensassem sobre como seria possível ter uma anomalia positiva.”
Esta é uma possibilidade: depois que a cratera se formou, o solo se recuperou, puxando água do interior de Plutão. (Outros estudos indicam que pode existir uma camada muito profunda de líquido, mantida quente por um núcleo rochoso.) O fato da água ser mais densa que o gelo poderia fazer a Sputnik Planum mais pesada do que os arredores.
Mas quanta água, exatamente, é necessária para fazer o coração de Plutão pesado o suficiente? Essa é a pergunta que Johnson e seus companheiros procuram responder, executando uma série de modelos colisionais. Os resultados mostram que, para reproduzir a forma atual da mancha, seria necessário um oceano subsuperficial com mais de 100 quilômetros de profundidade, com níveis de salinidade de aproximadamente 30%. (A salinidade aumenta a densidade da água, aumentando a anomalia positiva da massa.)
Uma salinidade de 30% é algo perto do que temos no Mar Morto — algo extremo, mas que não está fora da nossa experiência terrestre. Um oceano com 100 quilômetros de profundidade, por outro lado, é algo bem fora da nossa realidade. As partes mais profundas do nosso oceano têm pouco mais de 10 quilômetros.
Estamos falando de algo 10 vezes mais profundo, num objeto que é pequeno demais para ser considerado um planeta, no limite congelado do nosso sistema solar.