Os dois lados de colocar um app pago no Android Market

O estúdio de desenvolvimento Mika Mobile tem em seu portfólio alguns joguinhos que fizeram bastante sucesso no iOS. Um deles, o Battleheart, está em boa parte da lista de recomendação de games para o sistema. A empresa decidiu se aventurar no Android Market, portando o jogo do iOS e vendendo o app por US$2,99. E Noah Bordner, […]

O estúdio de desenvolvimento Mika Mobile tem em seu portfólio alguns joguinhos que fizeram bastante sucesso no iOS. Um deles, o Battleheart, está em boa parte da lista de recomendação de games para o sistema. A empresa decidiu se aventurar no Android Market, portando o jogo do iOS e vendendo o app por US$2,99. E Noah Bordner, CEO da empresa e ex-funcionário da Lucas Arts e da EA, tem interessantes considerações sobre o Market, derrubando alguns mitos e expondo alguns problemas do Android em si.

Lado bom: é mais fácil chamar a atenção

Antes mesmo de colocar o app na loja, a Mika Mobile descobriu que o processo seria bem menos complicado do que imaginava: usando a ferramenta Unity, o jogo foi portado do iOS para o Android em apenas um dia — da parte manual, a empresa teve apenas de adaptar o jogo para diversas telas e resoluções, mas nada muito complexo. Colocar o jogo na loja também não foi nada complexo, já que não há nenhuma cerca separando os desenvolvedores e as prateleiras. Para eles, isso fica ainda melhor na hora de atualizar apps, já que não há necessidade de aprovar os updates, que podem ser feitos no mesmo dia que o bug é descoberto.

Mas a principal surpresa ficou com a resposta que o jogo teve na loja. O Android Market é famoso por sua infinidade de apps gratuitos, e criou-se a imagem de que o caminho mais fácil é lucrar com aplicativos gratuitos forrados de publicidade — a Mika argumenta que o “culpado” pelo formato foi a Rovio e o Angry Birds. Vender um jogo de 3 dólares, sem publicidade e sem ajuda do Market (com o app na página principal), parece que ele iria falhar, não? Muito pelo contrário. Ele já figura no top 50 do Android e está dando mais lucro do que a empresa imaginou. Como?

A explicação é simples: o Android Market ainda tem muita porcaria e, mesmo com 200 mil apps, a seleção de apps realmente bons não é tão alta. Para a Mika, o fato de ter menos concorrência ajuda os aplicativos realmente bons, mesmo que eles sejam caros para os padrões Android. E há um efeito “boca a boca” virtual que também facilita — no iOS desde fevereiro, o Battleheart tem 4 mil opiniões, com média de 4.5/5. Já no Android, em poucas semanas já há mil votos, e a média geral é de 4.8/5. Traduzindo: as pessoas adoram dar notas aos apps, mas prinicipalmente se empolgam mais do que no iOS quando um jogo surpreendente surge na loja. Mesmo assim, Noah faz questão de deixar claro as diferenças de tamanho das lojas:

1) O Battleheart para Android está muito bem cotado nas listas do Android (top 50 apps), enquanto o Battleheart para iOS não está mais nem nos 200 melhores jogos e, mesmo assim, ele continua vendendo mais na segunda plataforma. Fica claro que, no total, o tamanho do mercado de apps do iOS ainda é significamente maior.

2) O Battlehear para iOS teve primeiros meses MUITO mais fortes de vendas, graças às ações de promoção da Apple, e desde o boom inicial as vendas diminuíram. A versão para Android também terá um declínio similar. Se compararmos o mês de lançamento de ambos, a versão de iOS vendeu 20 vezes mais do que a versão de Android.

Mesmo assim, investir em apps no Android Market pode fazer muito mais sentido do que parece: a facilidade de transformar um app de iOS em app de Android e a praticidade em colocá-lo na loja somadas ao espaço que bons apps ganham sem a necessidade de publicidade devem render um bom dinheiro — menos do que no iOS, claro, mas mais do que os desenvolvedores imaginam.

Lado ruim: os probleminhas do Android

Noah gosta de desenvolver jogos. Ele sente prazer em rabiscar bonequinhos e ouvir elogios. Mas ele não gosta quando sua caixa de e-mail fica lotada de mensagens de pessoas que tiveram problemas com seu app — principalmente quando a culpa não é do jogo.

A parte mais frustrante em desenvolver para Android é ter de lidar com o mar de e-mails de suporte técnico, a maioria deles relacionados com problemas de instalação e download que não tem nada a ver com o app em si, e que tem na verdade tudo a ver com problemas técnicos próprios que o Android e sua loja têm. Jogue no Google algo como “não consigo baixar apps do androi market” ou qualquer coisa parecida e você verá que trata-se de um problema crônico e antigo em todos os aparelhos e em todas as versões do SO. Há várias causas possíveis, e não há nada que eu possa fazer sobre sendo um desenvolvedor, já que são basicamente problemas intrínsecos da loja. Baseado na pilha de e-mails que recebo diariamente, os problemas de download afetam 1-2% dos compradores, ou em termos mais práticos, dois ou três casos por dia.

E se as pessoas tiveram problemas para baixar o app, isso significa que elas gastaram 3 dólares por nada. E elas querem o dinheiro de volta. E aí entra outro problema grave para Noah: diferente do iOS, onde a Apple cuida da parte de devolução de dinheiro, o Google Checkout transforma o desenvolvedor em contador, que precisa lidar com devoluções pessoalmente. E, bem, isso não é papel de desenvolvedores — no iOS, devoluções também acontecem diariamente, mas ele sequer gasta um neurônio para pensar nisso.

Mesmo assim, Noah conclui que a experiência está sendo surpreendente. Esperamos que isso estimule outros desenvolvedores a seguir o mesmo caminho. Quais apps de iOS você não aguenta mais esperar para Android? [Mika Mobile]

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