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Ovários feitos em impressão 3D podem um dia restaurar a fertilidade das mulheres

Laboratório líder em pesquisas de fertilidade pode ter desenvolvido método resistente para a criação de biopróteses de ovários

A fertilidade se tornou um grande alvo para a medicina regenerativa. O raciocínio é: e se ciência e medicina pudessem ser usadas para simplesmente restaurar a fertilidade de mulheres que, por alguma razão, não a têm mais? Os cientistas acabaram de fazer isso em ratos.

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Em um novo estudo que saiu nesta terça-feira (16) na Nature Communications, cientistas da Northwestern University relatam ter removido com sucesso o ovário de uma rata e tê-lo substituído por um impresso em 3D, feito de seus próprios folículos ovarianos. Além disso, usando essas biopróteses de ovário, as ratas conseguiram ovular como uma rata normal, acasalar, dar à luz ratinhos saudáveis e até amamentá-los.

“A ideia seria que uma paciente de câncer jovem que precise fazer quimioterapia teria um ovário retirado antes do primeiro tratamento de esterilização, esse tecido seria preservado, seus folículos ovarianos, isolados, e então, quando ela estivesse pronta, poderíamos dar-lhe um novo ovário”, disse Teresa Woodruff, cientista reprodutiva e diretora do Women’s Health Research Institute, da Northwestern University, em entrevista ao Gizmodo.

Mas essa não é sequer a parte mais legal disso tudo. Nos últimos anos, outros cientistas já conseguiram na verdade esse feito em ratos usando impressão 3D algumas vezes. Mas os ovários humanos são muito maiores e mais complicados do que os de ratos, e havia preocupações de que o material e o método de construção dos ovários não fossem aguentar se você tentasse a mesma coisa em pessoas.

“Nosso verdadeiro avanço aqui foi usar gelatina, um biomaterial que compõe maior parte do nosso tecido mole, e criar um ovário substituto”, disse Woodruff. “Isso será importante para todo o campo de engenharia de tecidos.”

Woodruff e sua equipe conseguiram fazer uma estrutura rígida o bastante para aguentar a cirurgia, mas também porosa o suficiente para funcionar com os tecidos corporais da rata. Eles também descobriram que o padrão no qual o novo ovário foi impresso tinha um impacto significativo no sucesso da prótese de ovário.

Eis como funcionou: cientistas removeram ovários de rato para esterilizá-los e então preservaram o tecido ovariano e isolaram suas células produtoras de hormônios que suportam óvulos prematuros. Usando uma impressora 3D e gelatina, eles então imprimiram a estrutura básica do ovário e dosaram-na com os folículos ovarianos cultivados. Esses ovários foram então cirurgicamente transplantados de volta nas ratas, onde seus óvulos começaram a amadurecer e ovular. Vasos sanguíneos se formaram, o que permitiu aos hormônios circularem dentro da corrente sanguínea da rata, tomando conta de todas as outras partes da gravidez, como a lactação após o nascimento.

Uma mamãe rata com seu filhote (Imagem: Northwestern University)

Eventualmente, as ratas deram à luz seus filhotes. Os filhotes foram também projetados para brilhar no escuro, como uma maneira de identificar quais nasceram de mães com biopróteses de órgãos.

Woodruff disse que o objetivo final foi não apenas permitir às mulheres engravidar, mas restaurar a saúde completa do sistema endócrino de uma mulher.

“Algumas pessoas só pensam no ovário como fertilidade”, disse. “Mas é muito mais do que isso. Ele é parte de um sistema completo da saúde da mulher.”

Existe muito interesse em torno do uso de tecnologias avançadas para restaurar e melhorar a fertilidade — e vários planos malucos de como fazer isso. O trabalho de Woodruff, no entanto, pode ser uma das abordagens mais realistas até agora. Ele já se provou funcional em ratos várias vezes. A essa altura, muito do que se precisa é refinar os detalhes de como isso vai se traduzir para pessoas. Woodruff espera resolver alguns dos desafios, como encontrar um método de impressão que crie as melhores chances de maturação dos óvulos e um material que crie um órgão resistente que dure em humanos.

O laboratório de Woodruff tem estado na vanguarda da tecnologia de fertilidade várias vezes. Nesse ano, seu laboratório usou culturas de tecido para criar uma miniatura em 3D do trato reprodutivo da mulher, uma “menstruação em placa de petri“. E eles conseguiram, com sucesso, criar óvulos prematuros até que atingissem a maturidade em laboratório. Regras de financiamento federal impediram-na de levar essa pesquisa mais adiante, fertilizando o óvulo para ver como ele continua a se desenvolver, mas ela está buscando vias não-governamentais para prosseguir seu projeto.

O trabalho do laboratório agora será testado em porcos, e há muito a ser feito antes de que ele esteja pronto para os humanos. Mas, segundo Woodruff, isso não será muito adiante no futuro.

“Isso está a menos de dez anos de chegar às pessoas”, ela disse. “Mas ainda não estamos lá.”

[Nature Communications]

Imagem do topo: Andrew Harnik/AP

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