Parabéns, Twitter: você é incrível e estúpido

Hoje o Twitter faz cinco aninhos de idade! Que belíssima e importante marca. Nesses 5 anos, o Twitter se tornou onipresente na internet. E também se transformou na ferramenta mais singularmente idiota e brilhante da história da web. Eu não lembro bem quando foi a primeira vez que ouvi falar do Twitter, do mesmo jeito […]

Hoje o Twitter faz cinco aninhos de idade! Que belíssima e importante marca. Nesses 5 anos, o Twitter se tornou onipresente na internet. E também se transformou na ferramenta mais singularmente idiota e brilhante da história da web.

Eu não lembro bem quando foi a primeira vez que ouvi falar do Twitter, do mesmo jeito que eu não lembro quando alguém disse “sms”, “sala de bate-papo” ou “pornografia gratuita” para mim. Pensando agora, parece que faz muito, mas muito tempo — o que não deixa de ser algo assustador. É uma sensação de permanência retrospectiva, como a própria internet, e ao mesmo tempo novo o suficiente para não entrar no apressado museu da web. Eu entro em pânico quando vejo um repórter pedindo tuítes de sua audiência na TV.

Mas por quê? Nos últimos meses, o Twitter provou ser uma das ferramentas mais capazes de trazer informações mastigadas da história da comunicação. Com o equipamento mais rudimentar em mãos, praticamente qualquer um no mundo pode falar de qualquer coisa — uma morte, uma explosão, um pedido de ajuda, um desafio. Eu acompanho a CNN e vários outros canais que prometem informações 24 horas por dia, sete dias por semana, e mesmo assim eu fuço no Twitter quando o assunto é Líbia, Egito e qualquer outro país que esteja participando das revoltas árabes e que utiliza o Twitter como forma de garantir que sua voz será ouvida.

Do outro lado, há todo aquele mar de pessoas falando sobre Big Brother e o quanto elas odeiam suas mães e como o futebol de domingo é um saco e como elas odeiam provas e sobre qual videogame é o pior e como a chuva está forte e tentando fazer comentários engraçadinhos sobre o BBB e zilhões de outras tentativas vergonhosas de se autoafirmar na rede. Parece óbvio dizer que o Twitter é uma máquina de lamúrias para milhões de pessoas falando sobre o que comeram no almoço, mas enquanto eu escrevo isso, uma busca por “sanduíche” encontrou uma cascata de resultados em segundos. “Partiu comer um sanduíche com as meninas, fome exalando!”, disse Mayra Alves há dois minutos.

Podemos deduzir então que o Twitter é literalmente útil apenas para duas situações: autoafirmação patética e revolta popular em busca de democracia.

E o que o torna histórico é que esse ar estúpido e esplêndido surge por conta de sua concepção — porque, ei, você pode dizer, o e-mail também está lotado de besteiras. Aumente seu pênis! É verdade — mas o spam é um ato de mau uso do meio. A verdadeira concepção do Twitter é simples: multidões de adolescentes entrando em pânico após cada tuitada do Fiuk. Notas. Fragmentos. Soluços. Uma câmara de eco — notícias e sons estranhos flutuando e sendo retuitados ad infinitum pela simples vontade de ser ouvido e repetido. É a maneira mais fácil de ser reconhecido, o meio mais fácil de garantir que alguém perceba que você existe. É bom se sentir seguido. É bom ser retuitado. Todos nós estamos sedentos por atenção, e assim como as amizades aleatórias que o Facebook sugere e você aceita, as conversas de Twitter são o símbolo da interação sem qualquer substância.

E nós estamos nos afogando nisso. Basicamente, nós simplesmente não damos a mínima para a maioria das coisas que lemos no Twitter. Talvez você o faça por causa do trabalho, ou por pura cortesia — mas o Twitter gira sozinho como uma bolha pulsante de interferência, a medida em que soluções como o Proxlet surgem para diminuir o ruído. Ruído que nós estamos enfiando em nossas cabeças por nossa própria vontade. Ruído que nós queremos, porque todos queremos fazer parte do grupo. De todos os grupos.

O típico nerd de tecnologia — Alguém sabe como usar o [insira alguma coisa obscura de CSS aqui] sem zoar tudo? RT SE SEU IPAD JÁ ESTÁ TODO HACKEADÃO

Os frenéticos da mídia — deem uma lida no meu novo artigo no [insira link de alguma publicação impressa e falida]! RT RT RT RT

As celebridades — GALERAAAA VALEU POR TUDO !!! AMAMOS V6 VIVEM EM NOSSO CORAÇÕES !!!!!

Os idiotas — #winning #forasarney #afff #chupaqueédeuva

Os adolescentes — AI DANIEL SAI LOGO DESSA CASA NAUM AGUENTO MAIS VC BEBADO !!!! #tyamurodrigaum

As fãs do Bieber — argh, melhor você clicar aqui e conferir. Fãs de Harry Potter, Saga Crepúsculo, Luan Santana e afins também entram neste diagrama sórdido de hormônios e falta de raciocínio.

E quando tudo indica que concordaremos que o Twitter é uma ferramenta estúpida, é por ele que nós encontramos todas as informações reais e rápidas sobre o colapso nuclear de Fukushima.

A velocidade forçada de informação nos levou ao pior e melhor bate-papo online do mundo. O que nos coloca numa situação paradoxa, não? Se nós não queremos deixar de ter um nível de acesso nunca antes visto às crises do mundo — e nós não queremos — temos que dar o mesmo espaço para a multidão que vive falando idiotices. Não há melhor e pior. Ambos usam o Twitter exatamente para o que ele foi criado — para explosões. Se esse tipo de desabafo  em forma de explosão virá de um mártir de alguma revolução contra algum ditador ou de alguma fraternidade secreta fã de algum cantor pop, não sabemos, porque não temos mais controle nenhum sobre o Twitter.

Assim, parabéns, Twitter, sua aberração mutante de duas cabeças. Nós te amamos e te odiamos com todas as forças.

Ilustração por Sam Spratt. Torne-se fã dele no Facebook e siga Sam no Twitter.

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