Nova solução para o Paradoxo de Fermi diz que a vida alienígena morre rápido demais
A humanidade ainda não descobriu vida alienígena, apesar da chance extremamente alta de que ela exista em algum lugar. Esta contradição é popularmente conhecida como o Paradoxo de Fermi. Uma nova teoria tenta resolver este enigma, sugerindo que planetas habitáveis são bastante comuns em nossa galáxia, mas a vida é extinta muito rápido.
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Uma solução muito citada para o Paradoxo de Fermi – isto é, a falta de evidências de que nossa galáxia foi colonizada por uma civilização extraterrestre – é a hipótese do Grande Filtro. Esta teoria foi concebida por Robin Hanson, pesquisador no Future of Humanity Institute da Universidade Oxford, e sugere que algum tipo de obstáculo cósmico está impedindo que a vida se desenvolva para além de um certo estágio.
O problema é que não sabemos se este grande filtro realmente existe, ou como ele é. Alguns astrobiólogos olham para o passado remoto do nosso planeta e apontam a presença de três possíveis filtros: o surgimento de moléculas reprodutivas; a vida unicelular simples; e a vida unicelular complexa.
Se pudéssemos provar que qualquer uma destas etapas evolutivas é realmente crítica, isso seria uma notícia ótima – isso implicaria que sobrevivemos ao grande filtro. Por outro lado, alguns futuristas pessimistas temem que o grande filtro ainda esteja por vir, um evento que provavelmente será uma catástrofe causada por nós mesmos.
A hipótese do gargalo de Gaia
Mas, como aponta um novo estudo dos astrobiólogos Aditya Chopra e Charley Lineweaver, da Universidade Nacional da Austrália, pode haver outra possibilidade. Eles dizem que a vida existe por um breve tempo em outros planetas, mas é extinta muito rapidamente. Os pesquisadores chamam isso de “hipótese do gargalo de Gaia”.
Chopra diz em um comunicado à imprensa: “o início da vida é frágil, por isso acreditamos que ela raramente evolui com rapidez suficiente para sobreviver”. O problema, segundo ele, é que a maioria dos ambientes planetários são instáveis.
A fim de sustentar a vida, um planeta precisa regular gases de efeito estufa para manter estáveis as temperaturas da superfície. Este processo, chamado de regulação de Gaia, aconteceu em nosso planeta – mas Chopra e Lineweaver especulam que esta é uma ocorrência rara.
Os pesquisadores apontam para Marte e Vênus como exemplos em potencial. Ambos os planetas podem ter sido habitáveis no passado, mas ambos não conseguiram estabilizar o ambiente em rápida mutação. Hoje, Marte é um deserto gelado, e Vênus é uma estufa. Mas aqui na Terra, a vida desempenhou um papel fundamental na estabilização do clima do planeta. Como os pesquisadores explicam em seu estudo:
Se a vida emerge em um planeta, ela raramente evolui com rapidez suficiente para regular gases de efeito estufa e albedo [poder de uma superfície em refletir luz], mantendo assim temperaturas de superfície compatíveis com água líquida e habitabilidade.
A presença de um gargalo de Gaia, portanto, sugere que a extinção é o “padrão cósmico” para a maior parte da vida que emerge na superfície dos planetas rochosos e úmidos no Universo, e que os planetas rochosos “precisam ser habitados para permanecerem habitáveis”.
Crédito: Chopra & Lineweaver, 2016/Astrobiology
“Por que ainda não encontramos sinais de aliens? Esse mistério pode ter menos a ver com a probabilidade de existir vida ou inteligência, e se relacionar mais com a dificuldade em se manter um ciclo biológico em superfícies planetárias”, disse Lineweaver.
Críticas
Esta é uma teoria interessante, mas para satisfazer as demandas da hipótese do Grande Filtro, ela precisa ter um âmbito bastante universal. No estudo de Chopra e Lineweaver, não fica imediatamente claro porque a regulação de Gaia deve ser tão rara em outros mundos habitáveis.
Dado que provavelmente existem dezenas de bilhões de planetas potencialmente habitáveis em nossa galáxia, e dado que a nossa galáxia tem sido capaz de sustentar vida por cerca de 5-6 bilhões de anos, esse gargalo precisa ser gigantesco.
Robin Hanson, criador da hipótese do Grande Filtro, também pensa assim. Ele explicou ao Gizmodo por e-mail:
A ideia básica é bastante plausível como uma parte do Grande Filtro. Mas o grande filtro é enorme, e este trabalho não oferece argumentos concretos para esperar que seu efeito de filtro seja enorme. Assim, podemos adicioná-lo à nossa longa lista de efeitos de filtro plausíveis, mas não temos uma boa razão para vê-lo como o principal causador do Grande Filtro.
Da mesma forma, o astrônomo Milan Ćirković, do Departamento de Física da Universidade de Novi Sad (Sérvia e Montenegro), tem preocupações sobre o estudo. Ele diz ao Gizmodo que a premissa básica parte de uma perspectiva bastante antropocêntrica da vida no universo:
Toda a configuração é antropocêntrica, tanto quanto todas as versões da “hipótese de Terra rara”. Para sair da conclusão de que os planetas semelhantes à Terra são raros e chegar à conclusão de que esta é a razão para não descobrirmos alienígenas avançados, precisamos provar que todos os aliens avançados devem evoluir numa definição semelhante à Terra. E essa prova simplesmente não virá num momento próximo.
Eu acredito que é um erro levar isso a sério até mesmo como uma hipótese provisória. A convergência evolutiva é basicamente um absurdo inspirado pela religião. Eu não vi, por exemplo, qualquer razão remotamente aceitável para que a vida marinha não possa evoluir para uma civilização inteligente – e habitats marinhos são muito menos suscetíveis a perturbações do clima do que os ecossistemas terrestres.
Dito isto, esta possível solução para o Paradoxo de Fermi pode ser testável, algo importante quando se trata de hipóteses científicas.
“Uma previsão intrigante do modelo de gargalo de Gaia é que a grande maioria dos fósseis no universo será de vida microbiana extinta, não de espécies multicelulares, como dinossauros ou humanoides que levam milhares de milhões de anos para evoluir”, disse Lineweaver. Ou seja, teremos que perfurar e escavar exoplanetas distantes em busca de pistas.
[Astrobiology via Australian National University]
Imagem por ESA