O patinete elétrico é a maior invenção recente da história da humanidade

“A Erva do Diabo”, de Carlos Castañeda, é um um livro clássico dos anos 1970 (eu sou velho, mas não tanto assim, só pra você saber). O livro é, grosseiramente, a história de um feiticeiro comedor de peiote e as doideiras do peiote. Em algum momento da história, don Juan, o feiticeiro, descreve para seu […]
duas pessoas usam patinetes elétricos. só se vê as pernas da primeira pessoa na imagem. a segunda está mais distante da câmera. é um dia ensolarado, e há palmeiras ao fundo da imagem.
Getty Images

“A Erva do Diabo”, de Carlos Castañeda, é um um livro clássico dos anos 1970 (eu sou velho, mas não tanto assim, só pra você saber). O livro é, grosseiramente, a história de um feiticeiro comedor de peiote e as doideiras do peiote. Em algum momento da história, don Juan, o feiticeiro, descreve para seu aprendiz os maiores inimigos do homem: 1- o medo; 2- o conhecimento, porque ele leva a; 3 – a confiança; e 4 – a morte.

Lembro-me disso com frequência quando vejo imbecis engravatados e imbecis de salto alto em cima de patinetes na ciclovia da Faria Lima em São Paulo. Cedo ou tarde esses caras vão começar a cair e bater uns nos outros, é inevitável. Eu só espero estar suficientemente longe pra não ser envolvido na confusão e suficientemente perto pra assistir.

O patinete elétrico, e sua sub-categoria, o patinete elétrico compartilhado, é a maior invenção da história da humanidade desde o chocolate. Que essa invenção tenha sido apropriada temporariamente por idiotas é um detalhe, isso passa, esses caras daqui a pouco arranjam um brinquedo mais caro. Mas os patinetes vão ficar — e provavelmente se expandir suficientemente para que esse review possa ter utilidade para quem não mora nem trabalha na Faria Lima.

Os patinetes da Yellow. Crédito: Yellow

São dois os modelos amplamente disponíveis no momento: o amarelo da Yellow, que apareceu inicialmente compartilhando bicicletas; e o verde da Grin (sim, eu sei, os nomes e as cores, não precisava explicar etc.). O da Yellow é melhor, mas mais difícil de achar; o Grin é bacana também e tem bem mais unidades disponíveis.

A mexicana Grin se fundiu com a brasileira Ride. Crédito: Grin

Tem ainda a Scoo, que tem um preço mais atrativo (você pode checar os detalhes de preços mais abaixo). No entanto, os patinetes ficam em estações indicadas no app e estão disponíveis majoritariamente na região da avenida Paulista. A ideia deles é que, após o uso, as pessoas os deixem em locais específicos, e não largados por aí. Como boa parte da minha locomoção é pela região da Faria Lima, não me deparei com nenhum patinete dessa empresa.

Vai pensando que é tranquilo andar de patinete

Voltando a Castañeda e a don Juan, é bom fazer um aviso antes mesmo de começar: patinete é treta, não é bicicleta que, se você aprende, não desaprende. Depende de equilíbrio, depende de atenção e depende, principalmente, de humildade.

No momento em que você achar que dominou a parada, é chão, e o chão nesse caso pode ser o asfalto de uma avenida lotada de carros. Entendido?

Amenizando: eu tenho 45 anos e não sou exatamente um skatista, mas andei de patinete por algum tempo antes de existirem os patinetes elétricos. Porém, o principal não é isso, é entender que, se você acha que pode estar rápido demais, é porque está; que, se existe uma fila na ciclovia, não há nenhum motivo para você achar que ela não vale para você; que as bicicletas que não sejam as Yellow (e algumas do Itaú) serão mais rápidas que você, mesmo que você tenha um motor; SE VOCÊ CAIR NO CHÃO, VAI SE FODER INTEIRO.

Os patinetes na prática

Sobre os patinetes, para quem ainda não testou: para pegar um deles, basta ter um aplicativo e cadastrar um modo de pagamento. No da Grin, você cadastra o cartão, e ele vai debitando; no da Yellow, você compra créditos e usa até acabar o dinheiro. O método da Yellow é um pouco mais mala, mas tem a segurança de que, se você largar o patinete sem acabar a corrida, ele só vai gastar seu dinheiro até o limite que você tiver comprado de créditos.

O funcionamento dos dois é bem parecido. Para pegar o patinete, basta abrir o aplicativo e fotografar um QR code (nunca funciona no da Grin, às vezes funciona no da Yellow) ou digitar o número do patinete. Você usa até quando quiser dentro da área de atuação e, quando não quiser mais, encerra a corrida pelo aplicativo. Eles também têm um período de funcionamento, que vai das 8h às 20h — lembre-se, eles são movidos à bateria e precisam ser recolhidos para manutenção e receberem carga.

O patinete em si também é bem simples: tem um acelerador em uma das manoplas e um breque na outra. Outra coisa importante: esse freio da mão não deve ser o mais importante, o freio de verdade é em cima da roda de trás — motivo pelo qual você deve pilotar o bichinho com os pés colocados lateralmente, um deles próximo da roda de trás pronto para brecar. Acho o da Yellow mais estável, apesar de ser menor, e também mais rápido. Se tiver os dois, pegue o da Yellow.

Duas questões pra ficar atento: 1- o aplicativo que te diz onde estão os patinetes raramente funciona. O negócio é achar na rua e usar. 2 – a não ser que seu percurso seja bem curto, não pegue o patinete com pouca carga de bateria. Você corre o risco de ficar a pé num dia de calor — obviamente, aconteceu comigo.

O patinete elétrico é incrível porque ele te oferece a conveniência de ir de um ponto a outro rapidamente, sem trânsito e sem precisar pensar em onde vai estacionar. Na região da Faria Lima, em São Paulo, tem um monte, então, quando você quiser voltar, vai ter algum lá. Outra vantagem é o quanto é gostoso andar de patinete sem ter que “pedalar”.

Se você já passou da idade de começar a andar de skate, é como andar de skate tendo um corrimão em que segurar. Se não passou, a vantagem é o motor — e o fato de que você não precisa ter o seu. Eu não trocaria pelo chocolate, mas, se tivesse que abrir mão do smartphone para ter o patinete, eu nem pensava duas vezes.

Sem achar que está abafando, obviamente.

Serviço

Yellow


Área de atuação: regiões específicas de São Paulo (SP), São José dos Campos (SP), Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG) e Ilhabela (SP), apenas durante o verão. No site da Yellow, você pode checar a área de cobertura exata.

Preço: R$ 3 para destravar + R$ 0,50 por minuto.

Grin

Área de atuação: regiões específicas São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC)

. Para saber detalhes dos locais, só baixando o app e checando.

Preço: R$ 3 para destravar o patinete + R$ 0,50 por minuto.

Scoo


Área de atuação: regiões específicas de São Paulo (SP), sobretudo na região da avenida Paulista. No site da Scoo, você pode checar a área de cobertura exata.

Preço: R$ 1 por 4 minutos de uso. Após esse período inicial, R$ 0,25/minuto.

Caio Maia

Caio Maia

Caio Maia é o publisher da F451 e do GizBr. Escreve a cada duas semanas sobre mídia, e quando os editores deixam escreve sobre outras coisas também. Passou pela Folha e depois fez Trivela, revistas ESPN e Sustenta! e uma lista longa de blogs, sites e podcasts.

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