Ciência

Peixes cascudinhos são descobertos por meio de financiamento coletivo e revelam segredos da evolução de subfamília

Estudo encontrou evidência de convergência evolutiva para formato do focinho, adaptado à dieta dos animais, que são predadores de pequenos invertebrados
Foto: Foto: Hans Evers

Texto: Agência Bori

Highlights

  • Pesquisa descreve duas novas espécies de peixes-cascudos do gênero Hoplisoma: Hoplisoma noxium e Hoplisoma tenebrosum, encontradas na bacia do rio Tapajós
  • O projeto de pesquisa liderado por pesquisadores da UFMT, UFAM e Museu Nacional foi parcialmente financiado por iniciativa de crowdfunding com a qual contribuíram aquaristas de todo o mundo
  • Estudo encontrou evidência de convergência evolutiva para formato do focinho, adaptado à dieta dos animais, que são predadores de pequenos invertebrados

Uma recente expedição realizada por pesquisadores da UFMT à bacia do rio Tapajós, na Amazônia brasileira, resultou na descoberta e descrição formal de duas novas espécies do gênero Hoplisoma, um tipo de cascudo. Os peixes, batizados de Hoplisoma noxium e Hoplisoma tenebrosum, tiveram sua descrição taxonômica detalhada em estudo publicado nesta sexta (4) na revista Neotropical Ichthyology.

O artigo também apresenta uma ampla discussão sobre a relação entre a anatomia do mesetimoide, um osso da cabeça, e o formato do focinho dentro da subfamília Corydoradinae, pequenos cascudos predadores de invertebrados. Segundo os pesquisadores, as modificações relacionadas ao focinho têm um impacto direto na interação dos peixes com o ambiente, especialmente em relação à alimentação.

A pesquisa revelou que o formato do focinho, por si só, não é tão informativo quanto se pensava, com diferentes tipos de focinho ocorrendo independentemente nos diversos gêneros, indicando convergência adaptativa, o que ocorre quando espécies que não são estreitamente relacionadas evoluem independentemente características semelhantes como resultado de terem se adaptado a ambientes ou nichos ecológicos (funções) semelhantes.

Outro achado durante a expedição foi a constatação, através do conhecimento dos “piabeiros” — ribeirinhos coletores de peixes ornamentais —, que as duas novas espécies têm uma toxina extremamente forte, muito mais potente do que a de outras espécies de Corydoradinae conhecidas. Segundo os nativos da região, ser “espetado” por esses peixes causa dor intensa, inchaço e vermelhidão, e eles podem rapidamente matar outros peixes no mesmo recipiente de transporte, tornando a água leitosa e espumosa. Esse conhecimento tradicional dos ribeirinhos se mostrou crucial para a compreensão das características únicas dessas novas espécies.

O financiamento do projeto foi viabilizado por uma iniciativa de crowdfunding realizada por aquaristas de todo o mundo. Essa colaboração entre ciência e hobby permitiu a coleta de amostras no rio Tapajós, nas proximidades de Jacareacanga (PA) e Maués (AM).

“Para minha sorte, os peixes que eu estudo têm um apelo muito grande na aquariofilia mundial, e a minha relação com esse público sempre foi muito benéfica e produtiva. Esta oportunidade ímpar me ajudou a realizar essas expedições mais longas e em locais distantes, o que aumenta consideravelmente seus custos”, explica Luiz Fernando Caserta Tencatt, um dos autores do artigo.

Hoplisoma tenebrosum, a outra espécie descrita no novo estudo da Neotropical Ichthyology (Foto: Ingo Seidel)

Hoplisoma tenebrosum, a outra espécie descrita no novo estudo da Neotropical Ichthyology (Foto: Ingo Seidel)

DOI: https://doi.org/10.1590/1982-0224-2024-0100

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas