PepsiCo está “automatizando implacavelmente” sua força de trabalho, e isso é mais distópico do que parece

Declaração sem rodeios do novo CEO da Pepsi, Ramon Laguarta, alimenta preocupações uma perda progressiva de empregos movida pela automação
Justin Sullivan/Getty

Na manhã de quinta-feira (21), viralizou uma notícia de que a PepsiCo estava gastando US$ 2,5 bilhões em um plano para reestruturar a empresa que envolvia a demissão de um número não revelado de funcionários. O artigo provavelmente se espalhou bastante por causa do trecho “automatizando implacavelmente” que o Business Insider colocou na manchete. O novo CEO da Pepsi, Ramon Laguarta, havia dito em uma conferência de resultados financeiros na semana passada que a Pepsi já estava “automatizando implacavelmente e incorporando o melhor dos nossos modelos de negócio otimizados com o melhor do novo pensamento e das novas tecnologias”.

A maioria das empresas não fala abertamente sobre questões delicadas assim. Portanto, o entusiasmo corporativo sem rodeios de Laguarta foi ao menos revigorante nesse sentido. Porém, a fala também alimentou justificadamente medos de uma perda progressiva de empregos movida pela automação, já que, no fim das contas, o grosso desses US$ 2,5 bilhões seria gasto pagando a rescisão de, aparentemente, uma parte significativa dos 263 mil funcionários da PepsiCo, que seriam demitidos.

Porém, essa não é a parte mais inquietante dessa saga de eficiência corporativa — mas, sim, que a PepsiCo teve um lucro robusto no ano passado.

De acordo com o veículo de notícias da indústria de bebidas Just Drinks, a “PepsiCo anunciou seus resultados anuais, que mostraram um aumento de 1,8% na receia, para US$ 64,6 bilhões, e crescimento orgânico de 3,7%. O lucro líquido subiu de US$ 4,9 bilhões para US$ 12,6 bilhões. A empresa está prevendo crescimento orgânico de 4% para o novo ano fiscal”.

Isso é aproximadamente um aumento de 158% no lucro anual. Então, por que a PepsiCo está automatizando se já é imensamente lucrativa? A resposta simples é: porque ela pode.

Na conferência de resultados financeiros, Laguarta antecipou a parte sobre se virar para a automação, dizendo que isso era impulsionado pela necessidade de fortalecer a empresa. “Isso envolve se tornar mais capaz, mais enxuto, mais ágil e menos burocrático”, afirmou. Portanto, embora a PepsiCo esteja certamente automatizando seu armazém e seus equipamentos de fábrica, a implicação parece clara de que a companhia está automatizando também cargos burocráticos, de escritório. Cortar esses empregos, segundo Laguarta, irá “reduzir os custos, e isso nos permite colocar as economias de volta no negócio para desenvolver escala e aprimorar as principais capacidades que impulsionam ainda mais eficiência e eficácia, criando um ciclo virtuoso”.

E quando você achava que as coisas não poderiam ser uma maior distopia corporativa, espere até ouvir onde essas economias serão “encaixadas”. Alerta de spoiler: em “ocasiões de consumo”. Laguarta apontou o seguinte na conferência: “Nos lanches e bebidas, vamos investir para capturar uma maior fatia de ocasiões de consumo, de indulgentes a funcionais, sociais a individuais, acessíveis a premium, e em diferentes partes do dia, de manhã à noite”.

Claro, isso é secundário em relação à questão da automação, mas existe algo muito desconcertantemente “perfeito” na ideia de que milhares de pessoas estão sendo demitidas de uma empresa rentável para que sistemas automatizados possam assumir seu lugar e produzir ainda mais salgadinhos para uma população cada vez mais ociosa e sem emprego.

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