Peritos usam vídeos compartilhados em redes sociais para reconstituir explosão de Beirute

Grupo de ciência forense da Universidade de Londres usa vídeos de redes sociais para criar modelo 3D para entender o que aconteceu.

Um dos aspectos mais terríveis da devastadora explosão de 4 de agosto em Beirute, que matou mais de 200 pessoas e feriu mais de 6.500, é que ela poderia facilmente ter sido evitada. Usando vídeos do evento que foram compartilhados nas redes sociais, pesquisadores forenses conseguiram reconstruir exatamente o que aconteceu, incluindo a negligência chocante que levou à tragédia.

Antigamente, determinar o que causou eventos como a explosão de Beirute era um processo mais longo e complicado. Pesquisadores forenses poderiam conseguir vídeos ocasionais de uma câmera de trânsito ou de segurança, o que lhes permitiria reproduzir e dissecar eventos como este. Em grande parte, entretanto, eles tiveram que confiar em uma análise detalhada das consequências, incluindo os destroços e danos resultantes, e depois juntá-la a um amplo conhecimento de explosivos para determinar a causa exata.

Mas hoje, todos temos câmeras e documentamos tudo o que acontece ao nosso redor. Minutos após a explosão de 4 de agosto, quem gravou o incêndio inicial no armazém e capturou a explosão compartilhou vídeos no Twitter, Facebook e outras plataformas de mídia social.

Não demorou muito para que as pessoas em todo o mundo tivessem testemunhado o acontecido, e esses vídeos acabaram se tornando uma ferramenta crucial para os especialistas de um grupo de pesquisa da Universidade de Londres chamado Forensic Architecture (“arquitetura forense”, em tradução livre), reconstruírem o que causou a tremenda explosão que causou o mesmo impacto de quase 1,5 quilotons de TNT.

Suas descobertas foram compartilhadas neste vídeo de 12 minutos que usa vídeos aleatórios capturados por toda a cidade para reconstituir tudo, desde as colunas de fumaça que começaram a subir do armazém até a explosão em si. Infelizmente, só serviu para confirmar o que muitos suspeitavam.

Seis anos antes, em outubro de 2014, 2.750 toneladas de nitrato de amônio (um fertilizante com alto teor de nitrogênio que também serve como ingrediente em explosivos usados ​​para mineração) foram descarregadas nas docas em Beirute e armazenadas em um depósito próximo.

Ao longo dos anos, vários relatórios alertaram sobre os riscos de segurança do material armazenado ali, incluindo um relatório alarmante de um especialista em química forense em fevereiro de 2015, que descobriu que 70% dos quase 3.000 sacos contendo o nitrato de amônio haviam sido abertos e que o material cristalino estava se espalhando.

Reportagens e fotos tiradas dentro do prédio antes do incidente também descobriram que, apesar de conter milhares de toneladas do material explosivo, o depósito também foi usado para armazenar 23 toneladas de fogos de artifício, mais de 1.000 pneus de borracha para carros e cinco rolos de cordão detonante lento. De acordo com pesquisadores forenses e especialistas em engenharia, o conteúdo do armazém, incluindo como e onde os vários materiais foram armazenados, basicamente criou uma bomba improvisada.

Como parte da investigação, os modelos 3D desenvolvidos pela Forensic Architecture — incluindo o armazém, as nuvens de fumaça, a esfera de explosão inicial e partes da cidade de Beirute detalhando onde vários vídeos de referência foram capturados — foram disponibilizados para download no GitHub.

Neste ponto, não há dúvida do que fez a explosão em Beirute ser tão severa quanto foi, mas esta pesquisa contribuirá com novas diretrizes sobre o manuseio seguro e armazenamento desses tipos de materiais, bem como novos métodos de responsabilização. Tomara que, no futuro, quando riscos desse tipo forem alertados, as medidas adequadas sejam tomadas.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas