Pesquisadores parecem ter descoberto o que torna a cepa B.1.1.7 do coronavírus tão contagiante

A variante Alpha, identificada no Reino Unido, pode inibir as células de defesa do organismo e facilitar a infecção
CDC/Unsplash
CDC/Unsplash

Uma descoberta dos cientistas da University College London (UCL) pode ajudar a entender o comportamento da variante B.1.1.7 do coronavírus, agora chamada de Alpha, que foi identificada inicialmente no Reino Unido e é disseminada de maneira muito mais rápida e descontrolada.  A pesquisa publicada na bioRxiv sugere que além da proteína spike – presente no vírus e associada à facilidade no contágio — outras mutações podem tornar a cepa Alpha tão infecciosa.

Para o experimento, os pesquisadores examinaram como as células das vias respiratórias produzem uma proteína do sistema imunológico chamada interferon, que identifica os agentes causadores de doenças. Nas células que foram infectadas com a B.1.1.7, a produção interferon é muito inferior em comparação a outras variantes da Covid-19 que circularam anteriormente. Isso também corrobora com o fato da variante ficar por mais tempo no corpo da pessoa.

Em entrevista à Nature, Clare Jolly, que co-liderou a pesquisa e é virologista da UCL, disse que isso ajuda a Alpha a lidar ou se esconder da imunidade inata — e ela e outros pesquisadores acham que isso é importante para a transmissão.

Essa capacidade de se infiltrar na imunidade que está inativa pode ser um fator decisivo para entender como a variante se espalhou tão rapidamente pelo mundo.

Os cientistas também descobriram que as células infectadas com Alpha tinham altos níveis de RNA (parte do código genético) viral que consegue decodificar a uma proteína chamada Orf9b – que também faz parte do sistema imunológico.

Funciona como um sistema de chave e fechadura. Imagine que seu corpo é a tranca de uma porta e o vírus tenta a todo custo abri-la. Depois de algumas tentativas, ele consegue a ‘chave perfeita’. Nesse caso, os pesquisadores descobriram que a Orf9b neutraliza os anticorpos do corpo quando está em contato com o RNA viral, impedindo que o organismo produza interferons e outros genes importantes para o sistema imunológico.

Outro estudo publicado no bioRxiv, liderado por Silvana Gaudiera, imuno-geneticista da University of Western Australia em Perth, Austrália, reforça a descoberta. Na pesquisa, a equipe avaliou amostras virais de pessoas infectadas com a cepa Alpha e encontraram níveis mais elevados de RNA, quando comparados às pessoas infectadas com variantes anteriores. Eles chamaram isso de ‘mutação fora da proteína spike’.

Gaudiera disse à publicação que o artigo de Jolly destaca a importância de olhar para outras mutações do vírus, além da proteína spike.

Outras questões

A variante B.1.1.7 foi detectada inicialmente no Reino Unido e se espalhou pela Europa e depois pelo mundo inteiro rapidamente. No Brasil, ela foi notificada pela primeira vez em dezembro de 2020. Em janeiro deste ano, o governo inglês disse que a variante pode ser de 30-40% mais letal e até mesmo 70% mais transmissível do que as que estavam registradas até o momento. Apesar disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) assegura que as vacinas disponíveis são eficazes contra todas as variantes conhecidas até o momento.

Assine a newsletter do Giz Brasil

Apesar disso, os cientistas parecem olhar para a Alpha com certo ceticismo. O coautor do estudo liderado por Jolly, Nevan Krong, geneticista da Universidade da Califórnia, São Francisco, destaca que a Covid-19 é sorrateira Ele esclarece que os pesquisadores continuarão com as análises, até mesmo em outras cepas da Covid-19. Mas ele enfatiza que a questão agora é descobrir ‘quais outros truques o coronavírus ainda tem?’

[Nature

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas