Como o Photo Sphere do Android 4.2 se sai na prática?
Embora não tenha ganho um novo codinome de doce, o Android 4.2 trouxe novidades suficientes para despontar como uma atualização grande. Dentre elas estava o Photo Sphere com a promessa de dar aos usuários o poder de criar ambientes em 360º iguais aos do Google Street View. Aquilo nos empolgou bastante! Em tese, pelo menos. E na prática, como ficou? É o que tentamos descobrir.
Não é de hoje que o Photo Sphere levanta questionamentos. Desde que chegou às mãos dos usuários, muita gente tem criado cenários que, na maioria dos casos, não passam de mera curiosidade: são divertidos de se fazer, mas repletos de imperfeições, ângulos retos quebrados ou tortos, rejuntes mal feitos, elementos cortados pela metade e outros glitches. Aquela galeria do Verge foi um banho de água fria, corroborada por testes próprios feitos para a análise do Nexus 4.
Resolvemos dar uma segunda chance ao Photo Sphere, dessa vez com uma análise mais profunda, depois de vermos exemplos do próprio Google, na figura de Hugo Barra, no anúncio do Nexus 4 brasileiro — o executivo gastou um bom tempo de sua apresentação mostrando fotos, resultados e mágicas do Photo Sphere. Aquelas imagens eram muito boas. O update 4.2.2 trouxe tantas melhorias assim? Nós estávamos segurando errado o aparelho na hora dos disparos? Essas imagens do Google sofreram pós-produção? Nada melhor que testes de campo, reais, para tirar a prova.
Brincando com o Photo Sphere
Saímos pela bela Maringá, no Paraná, para fazer algumas esferas. O processo em si é bem simples e um tanto legal, embora as pessoas ao redor devam achar estranho um maluco rodando em seu próprio eixo apontando um celular para todas as direções.
A interface da câmera possui, no canto inferior direito, um botão que se estende para mostrar quatro — os modos de câmera. Além dos tradicionais foto e vídeo, completam o rol o (fraquinho) modo panorama e o Photo Sphere, novidade do Android 4.2.
Ao selecionar o Photo Sphere, a tela se transforma em um ambiente asséptico, parecido com a sala de treinamento de Street Figter IV. O sistema pede para que o usuário alinhe a câmera na horizontal e, depois de tirar essa primeira foto, diversas bolinhas azuis aparecem no entorno dela e seguem surgindo, de modo que o usuário acerte a mira da câmera para fazer o restante das imagens.
Há dois botões nesse processo: no canto superior direito, um “desfazer” de apenas um nível; e no centro, um grande botão para parar a captura das imagens. Ele pode ser acionado a qualquer momento, mas para que a esfera funcione é preciso preencher todo o ambiente com fotos, sem deixar bolinhas azuis para trás.
Como é um emaranhado de fotos com diferentes configurações (exposição, abertura, equilíbrio de branco etc), um algoritmo faz a colagem e nivela essas diferenças após o fim da captura. Isso põe o SoC do smartphone para trabalhar — no Nexus 4 leva pouco mais de um minuto para processar as esferas. Finalizado esse processo, dá para visualizar a imagem com zoom e em 360º na Galeria do Android, ou na web através do Google+.
As esferas nada mais são que grandes imagens (~4 MB, com a câmera do Nexus 4) e um arquivo XML aberto com metadados. Tanto que, acessando a memória do aparelho através do Windows/OS X/Linux, o que você vê no lugar das esferas são as imagens coladas, um JPEG convencional como esse abaixo (redimensionado para não pesar aí):
Alguns exemplos
Aparentemente o Photo Sphere não sofreu mudanças com as últimas micro atualizações do Android. É o ambiente que afeta a qualidade dos resultados, como bem notou o dpreview desde o lançamento.
A análise de lá cita dois pontos que embananam o Photo Sphere severamente: objetos móveis e objetos próximos. Baseado nos nossos resultados, dá para incluir um terceiro: ângulos retos, linhas em geral.
Objetos móveis já eram um problema com fotos panorâmicas. Ir para cima e para baixo em adição às laterais apenas agrava a situação. É bem comum uma pessoa que está passando por ali aparecer em dois pontos diferentes, ou sem as pernas, ou ainda borrada. Não há muito o que fazer aqui, a menos que o Google desenvolva um algoritmo sem precedentes capaz de completar objetos e identificar e remover repetições.
Quanto à proximidade, as junções entre as fotos por vezes não saem muito boas. Como já dissemos, o processamento do Photo Sphere é bem impressionante do ponto de vista técnico: quando há luz do Sol, por exemplo, diversas características das fotos mudam drasticamente entre uma captura e outra dentro de uma mesma esfera. Traduzindo, duas fotos lado a lado podem ter céus em diferentes tonalidades de azul, sombras mais ou menos acentuadas, brilho, contraste e saturação bem diversos. A imagem de abre do post dá uma boa ideia de como isso é na prática. Ao juntar os pedaços, o Android faz um trabalho lindo de equilibrar tudo e essas diferenças somem. Mas não dá para fazer milagre e, não raro, vemos ângulos “quebrados”, linhas tortas e sem continuidade e outras bizarrices do gênero. Às vezes até mesmo com objetos que estão longe.
As nossas esferas foram todas feitas em espaços abertos e, com exceção de uma, com poucos ângulos retos ao redor. A primeira da galeria, um descampado na Universidade Estadual de Maringá, foi a melhor: sem objetos próximos e muita natureza (objetos irregulares) ao redor, ela praticamente não tem imperfeições.
O oposto foi observado na Av. São Paulo, com a fiação elétrica acima e muitos prédios ao redor. Os fios ficaram tremidos e com quebras, a marquise do prédio próximo, da esquina, cheia de falhas e o prédio do shopping, do outro lado da rua, também apresentou problemas.
Além dessas, fizemos outras quatro esferas. Confira todas no Google+.
Em nenhum lugar o Google explica se existe um modo “certo” de criar as esferas, então testamos de dois modos: primeiro, fazendo vários giros em cara uma das cinco “linhas” horizontais de fotos que compõem uma esfera. Depois, cobrindo-a de fotos verticalmente. Os resultados foram variados, de modo que não dá para dizer que a ordem os afete.
Ainda no Android, as esferas completas podem ser manipuladas pelo software de edição de imagens nativo do sistema. O recurso mais bacana é o que as transformam em “mini mundos”: o efeito converte a paisagem em um círculo, como se fosse um mundinho minúsculo fechado naquela esfera. Veja um exemplo:
Tem que melhorar isso aí
Mais uma vez: confira aqui as cinco esferas que produzimos, no Google+.
Os testes que fizemos só confirmaram a certeza que já tínhamos. Embora conceitualmente incrível, o Photo Sphere precisa melhorar. Bastante. Ele já faz algumas coisas muito bem, como o equilíbrio de imagens diversas em uma só, mas as rebarbas, os objetos mal tratados e a dificuldade com linhas retas são bem desestimulantes para quem está disposto a usar o recurso com mais seriedade.
O Google acredita bastante nisso, tanto que permite o envio de esferas para complementar o Google Maps. O alcance, porém, é limitado, já que só dá para ver as imagens em movimento no Android e no Google+ — e foi um parto para subir as esferas lá; na maioria dos casos o sistema compartilhou uma imagem pequena estática, em vez da grandona com os poderes do Photo Sphere.
Vale como curiosidade, vale para capturar alguma paisagem de tirar o fôlego, especialmente se for natural e sem objetos próximos. De resto, não leve a sério para não se frustrar. O Street View democrático ainda precisa melhorar muito.