Quando a “pílula do exercício” estará disponível?
Apesar dos avanços, o composto ainda está longe de estar disponível para a sociedade. Ele só foi testado em células e modelos animais e portanto, por enquanto, não pode ser usado em seres humanos.
O desenvolvimento de medicamentos é um processo longo. De acordo com Burris, são necessários mais estudos de segurança e eficácia, otimização de sua administração (atualmente em injeções) e testes em humanos antes de chegar ao público em geral. “Levar isso para os seres humanos exige tempo”, adverte o coautor Bahaa Elgendy. Os especialistas estimam que pode demorar uma década até sua comercialização.
Para acelerar o processo, os cientistas fundaram a startup Pelagos Pharmaceuticals, que tem como objetivo levar o SLU-PP-332 a testes clínicos. Atualmente, versões melhoradas estão sendo testadas em modelos de obesidade, insuficiência cardíaca e insuficiência renal, além de explorar seu potencial em doenças neurodegenerativas.
Como o nosso corpo reagiria ao SLU-PP-332?
Se aprovada, a “pílula do exercício” poderá ter efeitos fisiológicos significativos. Os possíveis benefícios incluem:
- Metabolismo aprimorado: ela aumenta a queima de gordura e o gasto energético basal, o que poderia ser útil no tratamento da obesidade e do diabetes.
- Manutenção da massa muscular: em estudos com animais, evitou a perda muscular, o que poderia ajudar pessoas com mobilidade reduzida ou adultos mais velhos.
- Maiores benefícios em órgãos vitais: a ativação dos receptores ERR pode fortalecer o coração e ter efeitos neuroprotetores.
Por outro lado, embora melhore o metabolismo e a resistência, não fortalece os ossos e as articulações, nem é conhecido por reproduzir os benefícios psicológicos do exercício, como a redução do estresse ou a melhora do humor.
Portanto, com o que foi testado até agora, não se pode dizer que esse composto possa substituir completamente o exercício.
Efeitos além da medicina
O impacto dessa “pílula do exercício” pode ir além dos limites da medicina. Embora possa melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças metabólicas, ela também apresenta riscos sociais.
Um deles é a percepção errônea de que o exercício não é mais necessário. Se for comercializada como uma solução fácil, algumas pessoas podem abandonar a atividade física, o que pode prejudicar a cultura do esporte e levar a problemas de saúde associados a um estilo de vida sedentário.
Outra preocupação seria o seu possível abuso em esportes competitivos. No passado, compostos como GW501516 e AICAR, que também aumentavam a resistência, foram proibidos pela Agência Mundial Antidoping.
Se o SLU-PP-332 se mostrar eficaz em humanos, é provável que seja proibido em competições, e as agências antidoping teriam de desenvolver testes específicos para detectá-lo.
Também há dúvidas sobre a acessibilidade. Como acontece com tratamentos inovadores, seu custo inicial provavelmente será alto, o que pode levar a desigualdades entre os que podem pagar e os que não podem.
Além disso, surge a pergunta: os sistemas de saúde devem cobri-lo? Se for usado para tratar doenças graves, o financiamento pode ser justificado. Mas se for simplesmente para melhorar o desempenho físico, sua cobertura seria questionável.
Se aprovado, a sociedade deve decidir como integrá-lo de forma responsável. As próximas fases da pesquisa serão fundamentais para definir se esse composto será um aliado da saúde ou uma desculpa para a inatividade. Trata-se de uma revolução ou de um conforto perigoso? O tempo e a ciência darão a última palavra.