O problema com pílulas é que você precisa toma-las regularmente. Uma inovadora nova forma de cápsula resolve este problema ao ficar em seu estômago por alguns dias, liberando aos poucos o medicamento durante o tratamento da enfermidade.
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Este sistema chamado “ultra long-acting oral drug delivery” (algo como entrega longa de drogas por via oral, em tradução livre) foi desenvolvido por pesquisadores do MIT e da empresa de saúde Lyndra, e o conceito muda a forma como pensamos as pílulas. Após engolir, a cápsula “desabrocha” e fica em um formato parecido com o de uma estrela — uma configuração que previne que ela entre no trato digestivo e permite que a comida passe. Então, pelos próximos sete ou 10 dias no estômago, ela vai lentamente liberando a medicação. A estrela eventualmente é desmembrada, permitindo que saia de forma segura pelo intestino.
Em um novo estudo publicado na Science Translational Medicine, as cápsulas funcionaram em porcos Yorkshire pesando entre 35 kg e 45 kg — os porcos têm um sistema digestivo parecido com o dos humanos. Testes mostram que a cápsula liberava doses de medicação por até 10 dias. Na forma como está, a liberação ideal diária é de 20 a 50 miligramas de medicamento. Mais análises precisam ser feitas para provar a segurança e a eficácia, mas se tudo continuar dando certo, testes clínicos em humanos devem logo ser feitos.
“Esta tecnologia promete redefinir a velha definição sobre a ação de longas terapias orais”, afirmou Robert Langer, um dos coautores do estudo, em um comunicado. A liberação do medicamento de cápsulas tradicionais dura entre 12 e 24 horas, mas esta nova pílula faria, por exemplo, que a duração chegasse a mais de uma semana. Feita de materiais poliméricos, a cápsula é capaz de resistir às poderosas forças do sistema digestivo , permitindo que fique lá por até duas semanas.
A equipe de Langer desenvolveu a pílula após uma sugestão de Bill Gates, que concebeu a ideia de uma pílula de longa duração que poderia fornecer um tratamento completo. A Bill and Melinda Gates Foundation ajudou a financiar parte da pesquisa, e a sugestão é que a pílula inicialmente ajudasse a combater a Malária. Inclusive, o protótipo estava carregado com uma droga antiparasitária chamada ivermectin.
Esta pílula de longa duração resolve uma série de problemas. No entanto, há ainda uma questão de testes.
“Pessoas de várias partes do mundo dependem de medicações que exigem tomar uma pílula por dia ou mesmo múltiplas vezes ao dia”, observou Amy Schulman, que é cofundador da Lyndra. “Aproximadamente 50% dos pacientes em países desenvolvidos não tomam as doses de remédio conforme a prescrição — esta estatística é ainda mais desafiante nos países em desenvolvimento — o que tem efeitos demonstráveis nos resultados de saúde e um custo estimado ao sistema de saúde dos Estados Unidos de mais de US$ 100 bilhões por ano.”
Como notado por Schulman, esta pílula será particularmente útil no mundo em desenvolvimento, e também para aqueles que têm dificuldade em tomar remédios como prescrito, incluindo pacientes com hipertensão, diabetes, problemas neurológicos e adição a opiáceos.
[Science Translational Medicine]
Foto do topo: a pílula “ultra long-acting oral drug” vai liberando medicamento aos poucos no estômago do paciente por até 10 dias. Imagem: Bellinger et al.,/Science Translational Medicine