As primeiras pistas do que pode estar causando doença mortal relacionada a cigarros eletrônicos

O número de pessoas atingidas por uma doença pulmonar grave ligada a cigarros eletrônicos e vapers continua crescendo nos Estados Unidos. Já são quase 500 suspeitas em todos os EUA somente na semana passada, além de duas mortes confirmadas em Oregon e Indiana. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e […]
Pessoa assoprando vapor de um vaper
AP

O número de pessoas atingidas por uma doença pulmonar grave ligada a cigarros eletrônicos e vapers continua crescendo nos Estados Unidos. Já são quase 500 suspeitas em todos os EUA somente na semana passada, além de duas mortes confirmadas em Oregon e Indiana.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e outros órgãos dizem que há diversas razões possíveis sobre o por quê de esses produtos estarem deixando as pessoas doentes. Porém, autoridades de saúde de Nova York apontaram que um ingrediente específico está relacionado aos casos: óleo de vitamina E.

Em uma coletiva de imprensa dada na última sexta-feira (6), autoridades do CDC deram uma atualização sobre a situação. Existem 450 casos suspeitos ou confirmado em 33 estados, de acordo com o relatório liberado na quinta-feira.

Em Wisconsin, o primeiro estado a relatar uma série de casos em julho, houve 34 casos confirmados, além de outros 12 que estão sendo investigados. Illinois, com 49 casos suspeitos ou confirmados, foi o primeiro estado a relatar uma morte ligada ao consumo de cigarros eletrônicos ou vapers.

Na última quarta-feira, autoridades de saúde de Oregon relataram que um homem de meia idade com uma severa doença respiratória ligada ao vaping não resistiu e morreu em julho. Na sexta-feira, outra morte foi relatada em Indiana. Uma outra morte possivelmente relacionada com cigarros eletrônicos também está sendo investigada, segundo o CDC.

A condição ainda não tem nome oficial, mas o CDC criou uma diretriz de definição para que os médicos diagnostiquem e relatem os casos. As vítimas relatam agravamento de sintomas como tosse, fadiga e dificuldades de respiração dias ou semanas depois de usarem um vaper ou cigarro eletrônico, enquanto que outros também tiveram problemas estomacais como vômito e diarreia.

Praticamente todas as vítimas foram hospitalizadas, algumas durante semanas. Parte das pessoas também tiveram problemas pulmonares e cardíacos, mesmo depois do tratamento. Em muitos dos casos, seus pulmões mostraram evidências de pneumonia lipídica, um tipo de inflamação ligada à inalação de óleos.

Durante a coleta de imprensa de sexta-feira, autoridades do CDC destacaram novamente que esses casos não estão ligados a um único produto, ingrediente ou marca de cigarro eletrônico ou vaper. Porém, a maioria das vítimas relataram a utilização de produtos que continham THC, como ceras e óleos que eram aquecidos e inalados.

Muitas das vezes, as pessoas compraram esses produtos do mercado ilegal em vez de lojas autorizadas. Esses produtos incluíam versões falsificadas de cigarros eletrônicos com cannabis disponível em alguns estados nos quais o uso recreativo de cannabis é legal.

Na quinta-feira, o Departamento de Saúde do Estado de Nova York atualizou a sua própria investigação, afirmando que pesquisadores detectaram acetato de vitamina E – um componente em forma de óleo da vitamina comumente utilizado em cremes para pele ou suplementos – em praticamente todas as amostras dos produtos que continham cannabis ou THC e que foram usados pelos pacientes.

A agência disse que a vitamina E poderia ser a chave para a investigação. Também na quinta-feira, o Washington Post publicou que a Food and Drug Administration (FDA, equivalente à Anvisa) tinha encontrado vitamina E em produtos que continham THC e que foram consumidos por pacientes em todo os EUA.

De acordo com Sven-Eric Jordt, pesquisador da Duke University que tem estudado os potenciais prejuízos do uso de vapers e cigarros eletrônicos com nicotina, a vitamina E nunca apareceu em produtos “regulares” com nicotina que ele ou outros pesquisadores estudaram. Nem que a vitamina E parece estar presente em quaisquer cigarros eletrônicos baseados em nicotina que são comercializados legalmente e utilizados por pacientes.

Isso significa que há pouca pesquisa sobre como a vitamina E poderia afetar nossos pulmões quando é aquecida e inalada. Mas há, definitivamente, um motivo para pensar que seus efeitos nos pulmões poderiam ser desastrosos, mesmo que se trate de um componente seguro para aplicarmos na pele.

“Se inalada em quantidade suficiente, ela certamente poderia causar problemas respiratórios, talvez até mesmo pneumonia lipídica, uma inflamação pulmonar associada com a inalação de óleos”, disse Jordt ao Gizmodo por e-mail. “Ela é um antioxidante, e talvez queime e desintegre quando é aquecida em um cigarro eletrônico, liberando tóxicos”.

Não está claro neste momento, entretanto, por que a vitamina E está presente nesses produtos. Jordt aponta que um pouco de vitamina E é encontrada naturalmente na cannabis, então existe a chance de o componente ser encontrado no óleo de cannabis não adulterado que muitos dos produtos de vaping utilizam.

“Por outro lado, é completamente possível que os produtos ilegais possuam acetato de vitamina E extra, para aumentar o volume ou dissolver o TCH/CBD melhor – ou que um óleo de produto de beleza tenha sido misturado”, adicionou. “Por exemplo, existem muitos óleos de cuidados para a pele com CBD que são comercializados online e possuem acetato de vitamina E e outros óleos além do CBD”.

Ainda existem muitas perguntas sem respostas. O mercado ilegal de produtos é uma ligação em comum entre os pacientes, mas há uma minoria de pessoas doentes que disseram ter utilizado apenas produtos com nicotina (existe a possibilidade de esses pacientes estarem relutantes em admitir o uso de cannabis ou produtos com THC). No caso de morte em Oregon, o paciente relatou utilizar óleo de cannabis, mas disse que foi comprado de uma loja de vaping legal.

Um dos grandes problemas é que o líquido do cigarro eletrônico pode contem um grande número de ingredientes, especialmente se for preparado de forma ilícita. Ainda estamos arranhando a superfície de como esses químicos interagem uns com os outros e com os nossos pulmões.

Jordt apontou que algumas empresas – colocando a si mesmas como alternativas saudáveis ao vaping com nicotina – estão vendendo produtos de cigarros eletrônicos que explicitamente fazem com que as pessoas ingiram vitaminas, incluindo a vitamina E.

Nem o CDC nem outras agências de saúde implicaram que esses tipos de produto estão relacionado ao surto de doenças. De qualquer maneira, vai demorar um bom tempo até que possamos ter certeza de quais são os efeitos de todos esses produtos na nossa saúde.

Enquanto isso, o CDC tem um conselho: evite comprar produtos de vaping vendidos de forma ilegal ou no mercado cinza, mesmo online.

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