Como o Facebook vai lidar com o problema das notícias falsas na rede social

Mark Zuckerberg divulgou os planos do Facebook para tentar resolver o problema de notícias falsas na rede social. Infelizmente, ele foi muito vago.

O problema das notícias falsas na internet está motivando debates intensos nos EUA: elas circularam com força pelo Facebook, e podem ter influenciado o resultado da eleição presidencial por lá.

Mark Zuckerberg divulgou recentemente os planos do Facebook para tentar resolver o problema de notícias falsas na rede social. Infelizmente, ele foi muito vago em suas intenções, e emendou afirmações bastante questionáveis ou simplesmente falsas.

Facebook e Google combatem sites de notícias falsas após eleição americana
Se o resultado da eleição foi diferente do previsto no Facebook, você deve estar numa bolha

Zuckerberg começa o post dizendo: “em resumo, levamos desinformação a sério”. Isso não é bem verdade: o Gizmodo americano revelou que o Facebook tinha ferramentas para combater notícias falsas, mas decidiu não usar porque elas “afetavam desproporcionalmente os sites de notícias de direita, rebaixando ou removendo esse conteúdo dos feeds dos usuários”.

Então, o CEO escreve: “nosso objetivo é conectar as pessoas com as histórias que elas acham mais significativas, e sabemos que as pessoas querem informações precisas”.

Será mesmo? Há algo profundo motivando a disseminação de notícias falsas: as pessoas querem acreditar nelas, por reforçarem sua própria visão de mundo.

Os dois problemas das notícias falsas

Existem dois grandes problemas quando se trata de notícias falsas. O primeiro é bem complexo: se um veículo é estabelecido, mas tem uma visão de mundo diferente da sua, ele deveria ser marcado como “mentiroso”? Nos debates mais recentes, há quem acredite que sim: liberais querendo barrar sites conservadores, e vice-versa.

Isso reflete tanto a desconfiança do público em relação à mídia, como o desejo de reforçar as próprias crenças, em vez de questioná-las. E quando um veículo estabelecido publica algo incorreto, ou divulga uma notícia com um título exagerado? O Facebook deveria reagir a isso – se sim, como?

O segundo problema é menos difícil de ser resolvido: sites amadores dedicados a publicar apenas mentiras, porque isso gera tráfego e dinheiro vindo de propagandas.

Paul Horner conta ao Washington Post que ganha US$ 10.000 por mês com seus dez sites de notícias falsas. Em um deles, consta a história de que um manifestante recebeu bastante dinheiro para protestar contra Donald Trump.

Meus sites eram mencionados por defensores de Trump o tempo todo. Acho que Trump está na Casa Branca por minha causa… O gerente de campanha dele postou como fato a minha história sobre um manifestante recebendo US$ 3.500.

Tipo, eu inventei isso. Eu postei um anúncio falso no Craigslist… os defensores de Trump achavam que as pessoas estavam sendo pagas para protestar nos comícios dele. Eu só queria me divertir com essa crença insana, mas ela decolou. Eles realmente acreditaram.

Esse tipo de site pode estar com os dias contados, já que Google e Facebook vão impedi-los de usarem suas redes de anúncios. Mas o motivo subjacente pelo qual esses sites fazem sucesso não vai acabar tão cedo.

Era pós-verdade

Estamos na era da “pós-verdade”, em que a opinião pública é fortemente moldada por apelos à emoção, que são imunes aos fatos. E esse não é o caso apenas de defensores de Trump ou Hillary Clinton: isso está no debate político em geral, no mundo inteiro.

Como nota o New York Times, uma mentira no Facebook – repetida diversas vezes – foi o bastante para mudar os planos de um candidato à presidência na Indonésia:

Na Indonésia, onde o Facebook é tão popular que algumas pessoas o confundem com a internet mais ampla, o serviço tem considerável influência.

Quando Joko Widodo, presidente da Indonésia, se candidatou ao cargo em 2014, ele foi acusado através das mídias sociais de ser um cristão chinês e um comunista – severas críticas no país profundamente islâmico. O político indonésio divulgou o seu certificado de casamento para provar que não era chinês, e fez uma peregrinação a Meca pouco antes da votação.

As redes sociais, especialmente o Facebook, nos colocaram dentro de uma bolha com pessoas que concordam com nossas opiniões e compartilham delas. Agora que vivemos tanto tempo assim, quem quer realmente sair da bolha?

Por exemplo, se você observa para um contato no Facebook que ele postou uma notícia falsa, qual será a reação mais provável: ele vai questionar as próprias crenças, ou desconsiderar seu aviso e dizer que “poderia ser verdade“?

O plano

Em meio a tantas perguntas, eis o plano para corrigir o problema de notícias falsas que Zuckerberg está propondo:

– Detecção melhor. A coisa mais importante que podemos fazer é melhorar nossa capacidade de classificar o que é desinformação. Isso significa sistemas técnicos melhores para detectar o que as pessoas sinalizarão como falso antes que elas o façam.

– Maior facilidade em denunciar. Ao tornar muito mais fácil para as pessoas relatarem histórias como falsas, isso nos ajudará a detectar mais desinformação mais rápido.

– Verificação por terceiros. Há muitas organizações respeitadas de verificação de fatos e, embora tenhamos contatado algumas, planejamos aprender com muitos mais delas.

– Alertas. Estamos explorando como marcar histórias que foram acusadas como falsas por terceiros ou por nossa comunidade, e mostrar alertas quando as pessoas lerem ou compartilharem.

– Qualidade dos artigos relacionados. Estamos aumentando as exigências para as histórias que aparecem em artigos relacionados em links no Feed de Notícias.

– Afetar a rentabilidade das notícias falsas. Boa parte da desinformação é impulsionada por spam motivado financeiramente. Estamos analisando como afetar a rentabilidade disso com políticas de anúncios como a que anunciamos antes, e uma detecção melhor de fazendas de anúncios.

– Ouvir. Continuaremos a trabalhar com jornalistas e outros na indústria de notícias para obter a contribuição deles – em particular, para entender melhor seus sistemas de verificação de fatos e aprender com eles.

Se o Facebook – que já conta com um quarto da população mundial – quer se transformar na internet, eles terão que mostrar como estão progredindo para combater conteúdo ruim, permitir uma análise independente de suas estatísticas internas, e começar a agir como uma empresa de mídia responsável.

Foto por Eric Risberg/AP

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