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Plantas definitivamente não têm consciência, argumentam cientistas

A incrível habilidade das plantas de responderem ao seu ambiente fez com que alguns cientistas acreditarem que esse era um sinal de consciência. Um novo artigo de opinião argumenta contra essa posição, dizendo que as plantas “não possuem ou precisam de consciência”. Muitos de nós damos como certa que as plantas, que não possuem cérebro […]

JLHA3050/Wikimedia

A incrível habilidade das plantas de responderem ao seu ambiente fez com que alguns cientistas acreditarem que esse era um sinal de consciência. Um novo artigo de opinião argumenta contra essa posição, dizendo que as plantas “não possuem ou precisam de consciência”.

Muitos de nós damos como certa que as plantas, que não possuem cérebro ou um sistema nervoso central, não teriam capacidade de consciência. Isso não quer dizer, no entanto, que as plantas não tenham inteligência.

As plantas parecem demonstrar um conjunto surpreendente de habilidades, como comunicação, reconhecimento da superlotação e mobilização de defesas, entre outros truques inteligentes.

A defesa de quem acredita que as plantas têm consciência

Para explicar estes comportamentos, cientistas conhecidos como neurobiólogos de plantas argumentaram que os vegetais possuíam uma forma de consciência. A ecologista Monica Gagliano tem realizado experimentos que supostamente sugerem capacidades como habituação (de aprender com a experiência) e condicionamento clássico (como os cães de Pavlov) em plantas.

Nestes experimentos, os vegetais aparentemente “aprenderam” a parar de encaracolar suas folhas depois de serem derrubadas repetidamente ou a estender suas folhas em antecipação a uma fonte de luz.

Com esta evidência experimental, Gagliano e outros cientistas têm afirmado, de forma bastante controversa, que o fato de as plantas poderem aprender e exibir outras formas de inteligência significado que elas devem ter algum nível de consciência.

Besteira, dizem outros

Tudo isso é tolice, conforme o argumento de um novo artigo publicado na revista Trends in Plant Science. O principal autor do artigo, o biólogo Lincoln Taiz, da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, não nega a inteligência vegetal, mas apresenta um forte argumento contra a consciência das plantas.

“Desde que o grupo de ‘neurobiologia vegetal’ surgiu em 2006, alegando que as plantas têm seus próprios sistemas nervosos e muitas das mesmas características de consciência e disposição que os animais, o tema tem sido objeto de um verdadeiro frenesi alimentar na mídia que não é visto desde a publicação da Vida Secreta das Plantas no início dos anos 1970″, disse Taiz ao Gizmodo.

Para alguns, pode parecer óbvio que as plantas não são conscientes, mas só porque algo parece óbvio não significa que é verdade.

“A grande vantagem da comunidade científica é que ela não rejeita automaticamente tais afirmações, desde que elas pareçam ser apoiadas por algum tipo de evidência”, disse Taiz. “Sabemos pela história que muitas coisas que pareciam óbvias à primeira vista não são necessariamente verdadeiras, por isso é necessário avaliar a evidência e, se necessário, repetir os experimentos ou observações que foram usados para obtê-la”.

Tentando provar

Em particular, Taiz e seus colegas contestaram a afirmação feita por alguns neurobiólogos de vegetais de que o cérebro e o sistema nervoso central não são requisitos para a consciência, e que a sinalização elétrica dentro das plantas efetivamente desempenha a mesma função.

Em um esforço para desmascarar esta afirmação, os autores voltaram-se para trabalhos anteriores do neurocientista Todd Feinberg e do biólogo Jon Mallatt, que recentemente descreveu os requisitos neurológicos específicos para a consciência subjetiva.

Feinberg e Mallatt concluíram que vertebrados (como peixes e mamíferos), artrópodes (crustáceos e insetos) e cefalópodes (lulas e polvos) têm a neurologia básica necessária para a consciência. Taiz e seus colegas foram um passo adiante, alegando que as plantas não têm os requisitos necessários para a consciência.

Além disso, os autores mostraram que as plantas, de uma perspectiva evolutiva, não requerem consciência.

“Feinberg e Mallat têm avançado nossa compreensão da base biológica da consciência com estudos que sugerem que em animais, pelo menos, a consciência não evoluiu com a primeira aparição de um sistema nervoso, mas com a evolução de um cérebro com um nível limiar de especialização funcional e complexidade”, disse Taiz a Gizmodo.

“Tais limiares cerebrais, de acordo com seus critérios, são encontrados apenas nos vertebrados, artrópodes e cefalópodes. É claro que ainda há muitas perguntas sem resposta, mas o ponto que fazemos no artigo é que a análise de Feinberg e Mallat torna a consciência nas plantas altamente improvável”, complementou.

Ele ainda acrescentou que “seria preciso ‘evidência extraordinária’, para usar a frase de [Carl] Sagan, para salvar a hipótese deles.”

E por que as plantas parecem inteligentes?

Como Taiz e seus colegas apontaram, as plantas parecem ser inteligentes por causa de seus comportamentos geneticamente programados. Por exemplo, as plantas usam sinais elétricos para regular a distribuição de moléculas carregadas por meio de suas membranas, o que faz com que as folhas se enrolem.

Quando um inseto pousa em uma folha, estes mesmos sinais podem disparar uma resposta de defesa. A um observador externo, isto pode parecer como se a planta estivesse respondendo conscientemente ao ambiente e fazendo escolhas, mas estas respostas são simplesmente ações pré-programadas, conforme o argumento dos autores.

“Não há evidência de que as plantas requerem, e assim tenham evoluído, faculdades mentais de alto custo energético, tais como consciência, sentimentos e intencionalidade, para sobreviver ou reproduzir-se”, escrevem os autores no estudo. “O desenvolvimento e o comportamento das plantas podem ser considerados como uma série de consequências [não intencionais] que emergem de redes de sinalização internas e externas que evoluíram através da seleção natural”.

Por que isso é importante

Alex Jordan, do Max Planck Institute of Animal Behaviour, disse que, se quisermos compreender a evolução da cognição, consciência e inteligência, temos de estar abertos à ideia de que estes traços podem existir na vida não humana.

“Estou muito feliz em ver a discussão e o debate sobre a consciência não-humana se estendendo além dos mamíferos, dos peixes, dos invertebrados e das plantas”, disse Jordan, que não estava envolvido com o novo artigo, ao Gizmodo.

“Acho que este é um passo essencial para que possamos finalmente entender o nosso lugar na diversidade da vida. No entanto, concordo com Taiz [e seus co-autores] que falta evidência de que as plantas são entidades conscientes, e enquanto paralelos entre a fisiologia das plantas e a neurobiologia podem ser desenhados, estes não são sistemas equivalentes”, concluiu.

A natureza tem valor, seja um mamífero, um peixe, um inseto, uma planta ou mesmo um rio. Só porque algo não é consciente, não significa que se justifique mal tratá-lo.

Ao mesmo tempo, porém, precisamos reconhecer a consciência real porque ela nos permite reconhecer a presença de dor, desconforto e angústia. Como o filósofo inglês Jeremy Bentham disse uma vez:

A questão não é ‘Eles são capazes de raciocinar?’, nem ‘Eles são capazes de falar?’, mas sim, ‘Eles são capazes de sofrer?’

Pode parecer paradoxal, mas se acreditarmos erroneamente que as plantas podem sofrer, isso pode diminuir nossa apreciação e preocupação com as criaturas que realmente sofrem.

Portanto, é extremamente importante para nós reconhecer quando a consciência é residente em uma entidade, e quando não é.

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