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Projeto brasileiro de carro elétrico precisa de sua ajuda para se tornar realidade

O PodCycle é um veículo elétrico urbano para duas pessoas, e pensado para ser usado em carsharing.

Uma equipe de Santa Catarina quer tirar do papel um projeto bem bacana: um carro elétrico chamado PodCycle, feito para carsharing e fabricado no Brasil. O Gizmodo Brasil conversou com Brener Martins, idealizador do veículo, para conhecer mais sobre o projeto.

O PodCycle é um veículo elétrico urbano para duas pessoas, e pensado para ser usado em carsharing – isto é, em um serviço no qual você aluga o carro temporariamente.

O carro chega a até 100 km/h e tem autonomia de 100 km. A bateria leva 4h para ser carregada em uma tomada comum – ou seja, não é preciso ter uma base dedicada de recarga. Mas se tiver, tanto melhor: um posto de recarga, que pode ser tanto fixo como móvel, enche a bateria em 1h.

Para finalizar a construção do primeiro carro, uma campanha do Catarse está arrecadando R$ 68.000. Para cada valor de contribuição – que vai de R$ 15 a R$ 900 – o apoiador recebe uma recompensa, seja um cartão postal, camiseta, ou até um modelo do PodCycle feito em impressão 3D.

Com o dinheiro, a equipe também planeja realizar um tour que exibirá o veículo em Florianópolis, Curitiba, São Paulo e talvez mais cidades – depende de quanto dinheiro eles conseguirem. “O objetivo do tour é apresentar o veículo e o conceito de carsharing no maior número possível de cidades”, diz Brener. Ele nota que “não colocaremos o carro na estrada, já que ele foi desenvolvido para as cidades” – ele será transportado de outra forma.

O custo estimado do carro é maior, de R$ 95.000. Para chegar a esse valor, a equipe do PodCycle – composta por cerca de 20 integrantes, incluindo designers, engenheiros e cientistas da computação – investiu dinheiro do próprio bolso. Eles também conseguiram auxílio financeiro do programa Sinapse da Inovação, apoiado pelo governo de Santa Catarina – no total, foram cerca de R$ 40.000 antes da campanha no Catarse.

Com esse dinheiro, já foram adquiridos alguns componentes do carro, como motor elétrico, inversor e carregador. Todos foram importados dos EUA, “devido à inexistência no mercado nacional de componentes nos parâmetros necessários”, explica Brener. Por exemplo, eles não conseguiram encontrar por aqui um motor elétrico que fosse compacto e que oferecesse uma potência de 50kW com uma curva de potência adequada para a propulsão do carro.


O PodCycle em seu estágio atual

O PodCycle está sendo fabricado na oficina da equipe, na Cidade Criativa Pedra Branca, em Palhoça (SC). “O chassi está praticamente pronto e estará 100% funcional em novembro; a carenagem será produzida por parceiros e montada também em Pedra Branca”, afirma Brener.

Para usar o carsharing do futuro serviço PodShare, será necessário pagar uma mensalidade de R$ 10, mais R$ 16 por meia hora de uso. “Com o custo de produção que temos hoje com o protótipo, um investidor teria retorno a partir do 18º mês de operação”, diz Brener.


Conceito de base para o PodShare

Ele também lembra que há outros possíveis retornos para o projeto. Pense no aluguel de bicicletas do Itaú, por exemplo: a ideia não é simplesmente ganhar dinheiro – o banco já fatura bilhões com sua atividade principal – e sim obter uma imagem positiva junto ao público. “Ser patrocinador de iniciativas como a nossa poderia colocar um banco mais próximo do público jovem”, diz Brener.

O projeto do PodCycle já foi apresentado no MIT e também em Ingolstadt, na Alemanha. Eles têm uma parceria com o AWARE, programa de cooperação entre a Technische Hochschule Ingolstadt, a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e a UFPR (Universidade Federal do Paraná). “Nós trocamos expertise; eles são especialistas em powertrain elétrico e eletrônica para veículos elétricos”, diz Brener.

O PodCycle foi idealizado no final de 2012, e ficou mais concreto a partir de 2014: “a ideia surgiu depois de alguns anos trabalhando na E3 – Equipe UFSC de Eficiência Energética – na qual construíamos protótipos veiculares para fazer a maior quilometragem com um litro de gasolina ou o equivalente em energia elétrica”. (Inclusive, em 2012 e 2013, Brener e sua equipe participaram do projeto Shell Eco-marathon de eficiência energética nos EUA.)

Antes de começar o projeto, a equipe entrou em contato com quem já estava fazendo algo semelhante no Brasil – por exemplo, o Vez do BrasilDirijaJa e Wake Motors.

O custo do PodCycle tornaria difícil vendê-lo de forma tradicional, segundo Brener, por isso ele passou a buscar alternativas – daí a ideia do carsharing.

Com o PodCycle, Brener quer evitar falhas que sua equipe identificou nas iniciativas de veículos elétricos que existem no Brasil. Alguns têm caráter artesanal, projetados sem pensar em como se encaixariam no mercado; outros têm preço de venda muito alto. Além disso, alguns dependem de processos caros e complexos para serem fabricados; enquanto outros dependem muito do apoio do governo, que vem cortando custos.

Por isso, o PodCycle é projetado para o uso urbano e para ser usado dentro de um serviço – o carsharing – em vez de pertencer a uma só pessoa. O processo de produção é pensado para usar um número reduzido de ferramentas, através da colagem dos elementos estruturais, e para ser feito até mesmo em microfábricas:

O PodCycle é um veículo totalmente modular e pode ser montado em micro fábricas na região onde será comercializado… O que permite esta estrutura é o conjunto de processos inovadores usados na concepção das partes do PodCycle. Na microfábrica não será necessário investimento em planta de soldagem, por exemplo, pois o PodCycle faz amplo uso de adesivo estrutural ao invés de solda. O chassi não requer pintura nem tratamento anticorrosivo, dispensando o investimento em cabines.

Brener diz que, no estágio atual, não queria depender muito de recursos do governo. “Quando uma ideia ou um produto é validado e financiado pelo seu potencial consumidor, isso traz uma agilidade e maiores chances de sucesso. Entendo que o momento correto para a participação governamental seja na hora de aumentar a produção e massificar a adoção”, explica.

E por que não arrecadar dinheiro com a iniciativa privada, em vez do crowdfunding? Brener explica que, “pensando na ótica de investidor e não na de entusiasta, o PodCycle é visto como uma iniciativa de alto risco e complexidade”.

É de se esperar que um novo veículo tenha que passar por muita burocracia. Brener diz que “as exigências no Brasil são um tanto confusas e certamente caras”, mas o PodCycle foi desenvolvido prevendo as exigências regulatórias.

Mesmo se a campanha do Catarse não chegar ao objetivo, Brener afirma que o projeto vai continuar: “terminaremos o ano com o chassi funcional e teremos etapas mais longas para finalizar o veículo”. Ele diz, no entanto: “tudo leva a crer que vamos conseguir”.

Saiba mais na página da campanha no Catarse.

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