Cientistas americanos e australianos registraram polvos arremessando areia e detritos uns nos outros em Jervis Bay, na costa de Nova Gales do Sul, na Austrália. O estudo completo foi publicado na revista PLOS One.
A equipe examinou 24 horas de imagens gravadas no fundo do mar entre 2015 e 2016. No total, os pesquisadores identificaram 102 episódios de polvos pegando e lançando conchas, algas ou lodo. Foram analisados cerca de dez animais no total, todos da espécie Octopus tetricus.
Os polvos não usavam seus tentáculos para fazer suas peripécias. Na verdade, era ainda mais elaborado: os braços eram utilizados apenas para coletar os objetos, que eram depois lançados a partir de jatos d’água expelidos por um sifão sob os tentáculos. O sifão é um músculo interno em forma de funil que os animais também usam para dar impulso e fugir em alta velocidade.
Tanto polvos machos quanto fêmeas foram avistados jogando coisas uns nos outros. As fêmeas, no entanto, faziam isso com mais frequência, sendo responsáveis por 66% dos arremessos gravados.
Os polvos lançavam detritos para limpar suas tocas em 32% das vezes. Neste caso, era mais comum que os animais pegassem conchas ou algas. Por outro lado, em 53% das ocasiões os polvos foram vistos jogando lodo em outros animais.
Os alvos foram atingidos 17 vezes. Era comum que, com a chegada do lodo, o animal na mira se abaixasse ou erguesse os tentáculos para se proteger do projétil. Segundo os pesquisadores, é possível ver diferença entre os lançamentos direcionados feitos pelos polvos daqueles inofensivos.
São poucos os animais que jogam coisas uns nos outros. O comportamento já foi visto para chimpanzés e golfinhos, por exemplo, mas estes são animais sociais, diferente dos polvos.
Os polvos vivem sozinhos e, ao encontrar outros membros da espécie, podem lutar contra eles e até mesmo praticar o canibalismo. Mas a nova evidência sugere que algumas espécies podem estar se comunicando através dos lançamentos, talvez avisando que aquela é sua área e que eles não pretendem dividir o espaço.
Em Jervis Bay, por exemplo, há comida e materiais para abrigo abundantes, o que atrai muitos polvos. Já que os animais precisam ocupar a mesma região, que pelo menos eles saibam os limites que podem ou não atravessar com seus vizinhos, mesmo que aprendam isso com pedradas.