_Ciência

Por que bocejamos (e por que isso é contagioso)

Bebês, cachorros, gatos, passarinhos, ratos e até cobras, todos eles bocejam – alguns até faziam isto dentro do ventre. Por milhares de anos, o motivo disso era obscuro, mas estudos recente podem ter descoberto a verdade sobre por que bocejamos. A fisiologia do bocejo Quando uma pessoa boceja, o alongamento dos poderosos músculos da mandíbula aumenta o fluxo […]

Bebês, cachorros, gatos, passarinhos, ratos e até cobras, todos eles bocejam – alguns até faziam isto dentro do ventre. Por milhares de anos, o motivo disso era obscuro, mas estudos recente podem ter descoberto a verdade sobre por que bocejamos.

A fisiologia do bocejo

Quando uma pessoa boceja, o alongamento dos poderosos músculos da mandíbula aumenta o fluxo de sangue na cabeça, no pescoço e no rosto, além de mandar líquido cefalorraquidiano para baixo, para longe do cérebro.

Do mesmo modo, durante um bocejo, flexionam-se as paredes dos seios paranasais – espaços preenchidos de ar que ficam ao redor da cavidade nasal. Combinado à ampla abertura da sua boca, isso puxa uma grande quantidade de ar através das cavidades nasais e das passagens da boca e dos seios paranasais.

Teorias do bocejo

Há três teorias principais para explicar por que as pessoas bocejam.

Bocejar aumenta os níveis de oxigênio no sangue

Como bocejar puxa grandes quantidades de ar, muita gente aposta na teoria de que a função do bocejo é inspirar mais oxigênio e exalar gás carbônico; este princípio de senso comum, entretanto, não encontra apoio em qualquer evidência.

Na verdade, um estudo de 1987 mostrou que os bocejos não aumentam nem diminuem quando sobe o nível de gás carbônico ou oxigênio no sangue. Isto levou alguns cientistas a concluírem que bocejar não tem nada a ver com oxigenar o sangue.

Bocejar estimula e ajuda a despertar

Também notou-se que, em muitas espécies, os bocejos aparentemente ocorrem “na expectativa de eventos importantes e durante transições comportamentais“. O bocejo acompanha mudanças nos níveis neurotransmissores e endócrinos, e por isso facilitaria o aumento no estado de alerta e consciência.

Bocejar diminui a temperatura do cérebro

Postulada recentemente, a teoria termorregulatória dos bocejos parte do fato de que a temperatura do cérebro é controlada por três fatores: a temperatura do fluxo sanguíneo, sua velocidade e o metabolismo. Como bocejar aumenta o fluxo sanguíneo, não é absurdo considerar a hipótese de que ele existe para resfriar o cérebro.

A teoria apareceu primeiro num estudo de 2007 que envolveu dois experimentos relacionados. No primeiro, os participantes foram instruídos a respirar pelo nariz ou pela boca e, então, foram expostos a vídeos de pessoas bocejando. Quem respirava nasalmente não demonstrava contágio ao bocejo.

No segundo experimento, pediu-se aos participantes para colocar bolsas térmicas frias ou quentes nas testas e, de novo, ver vídeos de pessoas bocejando. 41%, um número bem alto, daqueles que tinham uma bolsa quente na cabeça foram contagiados pelos bocejos, enquanto apenas 9% dos que tinham bolsas frias foram levados a repetir o gesto. Por isso, os pesquisadores concluíram que resfriar o cérebro tinha no mínimo um pouco a ver com bocejar.

Em 2010, uma pesquisa com cérebros de ratos mostrou que aumentos na temperatura precediam um bocejo e, imediatamente depois dele, as temperaturas caíam. Em um estudo posterior, cientistas descobriram que o cérebro todo esfriava depois de um bocejo, mas ele só acontecia depois que o córtex passava por um aumento na temperatura.

Mecanismos

Três mecanismos são tratados como hipóteses de como o bocejo resfria o cérebro. Antes de tudo, é bom lembrar que a temperatura cerebral é, “de forma consistente, 0,2° C maior que a do sangue arterial“. Logo, segundo esta teoria, à medida que o fluxo sanguíneo aumenta, o sangue quente do cérebro é empurrado para fora, e depois entra o sangue mais frio do resto do corpo. Este é o primeiro mecanismo; pesquisadores o comparam ao processo de um radiador.

O segundo mecanismo também trata de trocas de calor, mas desta vez envolve ar frio, que entra e vai para a boca, nariz e seios paranasais. Quando ele entra em contato com áreas venosas que contêm sangue quente, o ar refrigera este sangue e remove o calor quando ocorre a expiração. Este processo é semelhante à refrigeração.

O terceiro mecanismo também envolve a interação do ar frio com os seios paranasais, que ficam ao redor do nariz. Mas desta vez, trata-se de estimular a evaporação ao longo da mucosa dos seios paranasais. É semelhante à forma como o corpo se esfria usando o suor na superfície da pele – aqui também se utiliza a evaporação.

Se o motivo dos bocejos é resfriar o cérebro, então à medida que a temperatura ao seu redor aumenta, você inicialmente bocejará mais; e conforme ela se aproxima ou excede sua temperatura corporal, os bocejos irão diminuir. Um paralelo desta teoria também diz que, depois que a temperaturas caem abaixo de certo ponto, os bocejos diminuem – senão poderiam potencialmente esfriar demais o cérebro.

Esta teoria foi testada em 2009 com periquitos, e de fato, eles bocejaram mais de acordo com o aumento da temperatura, mas os bocejos diminuíram nas temperaturas mais altas, “quando mecanismos evaporativos se tornaram mais frequentes (como, por exemplo, ofegar)”. Estas descobertas foram confirmadas também em um estudo com humanos, realizado em 2011.

No entanto, nem todo mundo acredita na teoria termorregulatória. Os críticos notam que bocejar não pode causar quedas significantes na temperatura, além de que há um atraso considerável entre o bocejo e o resfriamento, e tanto fetos quanto animais de sangue frio fazem isso.

Por que bocejar é contagioso?

As teorias populares para explicar isso se concentram em dois motivos: imitação e empatia. Elas são confirmadas por evidências empíricas, como as observadas em imagens de ressonâncias magnéticas de cérebros durante bocejos. Em um desses estudos, as áreas envolvidas com o processamento de emoções (tanto as nossas quanto as dos outros) foram ativadas. Isto levou pesquisadores a concluírem que “a minha capacidade de se colocar no seu lugar… é um fator para prever minha suscetibilidade a ser contagiado por bocejos”. Deve-se notar, entretanto, que bocejos só são contagiosos em cerca de 60-70% da população.

Um corolário desta teoria é que o contágio de bocejos em populações selvagens (como os periquitos) cresce depois de perceber ameaças ambientais. Isso leva muitos estudiosos a opinarem que isto evoluiu como um mecanismo de sobrevivência, estimulando todo o grupo a ficar mais vigilante e, portanto, mais atento ao perigo.


Melissa escreve para o site TodayIFoundOut.com, com muitos fatos interessantes. Clique aqui para assinar a newsletter “Conhecimento Diário”, ou curta a página no Facebook aqui.

Este post foi republicado com permissão do TodayIFoundOut.com.

Foto por Hilary Quinn/Flickr

Sair da versão mobile