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Por que estas incríveis imagens russas da Terra e da Lua são tão diferentes das divulgadas pela NASA?

Apesar da imagem da órbita de Mercúrio ter sido divulgada ontem e ser realmente histórica, eu fiquei fascinado mesmo por estas duas imagens. Mais ainda do que fiquei com a maior e mais mais precisa imagem em alta resolução da Terra até hoje. Mas, diferente da Blue Marble [a icônica foto da Terra-bola-de-gude tirada em […]

Apesar da imagem da órbita de Mercúrio ter sido divulgada ontem e ser realmente histórica, eu fiquei fascinado mesmo por estas duas imagens. Mais ainda do que fiquei com a maior e mais mais precisa imagem em alta resolução da Terra até hoje.

Mas, diferente da Blue Marble [a icônica foto da Terra-bola-de-gude tirada em 1972], estas imagens não são de responsabilidade da NASA. Na verdade elas não se parecem em quase nada com as imagens da Terra divulgadas pela NASA. São bem melhores e mais nítidas, de certa forma. A NASA nos explicou por que elas parecem tão diferentes.

Os russos voltaram à corrida espacial

A imagem foi feita por um veículo espacial russo novo, um satélite meteorológico chamado Elektro-L. Ele está sobre a Terra em órbita geoestacionária 36.000 km acima da linha do equador, depois de ter sido lançado a bordo de um foguete Zenit no Cosmodromo Baikonur dia 20 de janeiro.

Essa é a primeira grande nave espacial desenvolvida inteiramente na Rússia pós-União Soviética, para a Agência Espacial Federal Russa. É um enorme passo na indústria aeroespacial do país, depois de duas décadas com problemas para desenvolver algo novo e vivendo das glórias da época passada do sistema Soviético (que são realmente gloriosas).

O Elektro-L é um monstro de 1620 kg, consumindo 700W dos seus painéis solares de 1.7kW. Seu design é modular, com um módulo de serviço chamado Navigator e um módulo de carga que contém o sistema de monitoramento meteorológico. Um satélite futuro, o telescópio espacial Spektr-R, usará os mesmos módulos base, com uma carga diferente.

No caso do Elektro-L, a carga é uma câmera de resolução “um quilômetro por pixel” para o espectro visível e “quatro quilômetros por pixel” para infravermelho. A nave envia imagens a cada 30 minutos, usando uma conexão de 2,56 a 16,36 Mbits por segundo com o comando terrestre. Em caso de emergência, segundo a agência, eles podem aumentar a frequência para uma imagem a cada 10 minutos.

Por que elas são diferentes das imagens da NASA?

Toda essa complicação tecnológica não é nada em comparação com estas imagens. A imagem do topo do post mostra a Lua e um trecho próximo à região do Mar Vermelho. Esta aqui do lado, incrivelmente detalhada, mostra o nosso planeta, especificamente a região da África, Arábia e Índia.

Eu não sei qual filtro do Instragram os russos estão usando, mas há algo nessas fotografias de baixa saturação que me fascina. Elas parecem mais reais que as da NASA, mas na verdade não são — ao menos segundo a própria. Robert Simmon, um cientista da Agência Espacial Americana, diz que as imagens russas não são melhores ou piores que as americanas. Elas são apenas visualizações diferentes da realidade, baseadas em diferentes conjuntos de dados:

O Elektro-L é um satélite russo similar ao GOES (que fornece as imagens de nuvens em looping que vemos no noticiário toda noite). As imagens publicadas são uma combinação das larguras de onda visível e próximas de infravermelho, então elas mostram a Terra de um modo não visível ao olho humano (a vegetação fica vermelha, por exemplo). Não são melhores nem piores que as imagens da NASA, mas mostram coisas diferentes.

Então a Elektro-L é similar aos seus satélites GOES. “É um satélite meteorológico geoestacionário orbitando acima do equador a ~54? Leste”, diz Tobert. “Os Estados Unidos têm dois satélites geoestacionários similares em operação sobre o país, a EUMETSAT tem um sobre a Europa e um sobre o Oceano Índico, o Japão tem um sobre o limite oeste do Oceano Pacífico”. A diferença entre eles é que o Elektro-L usa três bandas de luz refletida — uma vermelha e duas próximas do infravermelho –, enquanto o GOES não tem as bandas próximas do infravermelho.

Dennis Chesters, Cientista de Projeto no Goddard Space Flight Center (onde também trabalha o citado Robert Simmon), explica o processo russo:

“As três bandas de luz solar refletida podem simular uma fotografia colorida vermelha-verde-azul convencional. O canal próximo ao infravermelho é um indicador de vegetação, já que plantas o refletem, assim como a cor verde em geral. Você pode conhecer mais sobre as características básicas do gerador de imagens de dez canais do Elektro-L, chamado MSU – Multichannel Scanning Unit, aqui.

As imagens do GOES da NASA, no entanto, vêm em preto e branco. Ele captura imagens em múltiplas larguras de onda infravermelha, que são diferentes de qualquer foto que você possa imaginar. As imagens coloridas finais produzidas pelo GOES “são uma combinação da luz visível, infravermelho térmico e da fotografia Blue Marble original”.

Qual imagem é mais próxima da realidade?

A Blue Marble usa imagens em cores reais, combinando vermelho, verde e azul em uma composição global, renderizadas em um programa 3D. É o que o olho humano consegue ver. O satélite russo, no entanto, apresenta uma visão diferente. Pode parecer mais realista, mas não é exatamente.

Eu não diria que uma abordagem é mais precisa que a outra: ver a Terra em larguras de onda diferentes dá mais informações aos cientistas. Já que a Blue Marble é uma imagem em cores reais, as imagens baseadas nela são de interpretação mais fácil por não-especialistas em relação a imagens com cores falsas. No entanto, ela é composta por muitos dias de dados, então não será tão detalhada quanto imagens da mesma resolução que mostrem um ponto fixo do tempo. Mas ela mostra o planeta inteiro, enquanto o Elektro-L só mostrará o hemisfério para o qual está apontado.

Todos estes processos são similares aos usados pelos astrônomos para criar as imagens do Hubble no Photoshop. Para mim, todos os resultados, independente de qual parte do espectro eles representem, são igualmente fascinantes e inspiradores. [Russian Space Web via Facebook]

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