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Por que ninguém ainda foi morto por matéria escura, perguntam os físicos

Se uma das classes de partículas descrita como matéria escura existisse, ela já deveria ter causado uma ferida inexplicável, como um tiro, em um ser humano.

Os "fios" da matéria escura são descritos em um artigo que apresenta uma teoria totalmente diferente sobre o material. Ilustração: NASA/JPL-Caltech

O fato de que até agora ninguém morreu atingido pela matéria escura é prova suficiente para descartar certas ideias sobre o material misterioso, de acordo com um novo artigo.

Há um dilema enfrentado pelos físicos: a maior parte da massa do universo parece estar faltando, baseada em observações da estrutura do universo, de como as galáxias se movem e de como elas parecem deformar a luz distante. Milhares de físicos estão agora procurando o que poderia estar produzindo esses efeitos.

Entretanto, o mero fato de estarmos vivos aqui na Terra pode oferecer algumas dicas sobre o que a matéria escura não é, e os pesquisadores por trás do novo artigo dizem que o próprio corpo humano pode servir como um detector desse material.

Há muitas teorias sobre a matéria escura, a maioria das quais tem algo em comum: é um material que sente a força da gravidade, mas não interage através de outras forças físicas, como o eletromagnetismo. Isso significa que, em vez de “escura”, é melhor pensar nela como “invisível” ou “transparente”.

Os cientistas gastaram muito tempo e esforços na construção de detectores para encontrar esse material. A maioria de seus experimentos opera sob a mesma estratégia, que é construir um sensor incrivelmente sensível, protegê-lo de qualquer fonte potencial que possa causar falsos positivos e esperar. Os cientistas da última década têm estado mais interessados ​​na ideia dos WIMPs, ou Partículas Maciças de Fraca Interação, que seriam, talvez, aproximadamente do tamanho das partículas subatômicas mais pesadas existentes.

Mais recentemente, os cientistas Jagjit Singh Sidhu e Glenn Starkman, ambos da Case Western Reserve University, e Robert J. Scherrer, da Vanderbilt University, consideraram outra classe de partículas que seria macroscópica e tão ou menos massiva que um ser humano.

Mas a questão é: se tal partícula existiu, e dada a quantidade de matéria escura que imaginamos que exista no universo, tal partícula deve em algum momento ter causado uma ferida inexplicável como um tiro em um ser humano, de acordo com o estudo publicado no servidor preprint (onde artigos prontos, mas ainda não revisados por especialistas, são compartilhados) de física arXiv.

Basicamente, este estudo fornece, apenas com um experimento teórico, algo que outras pesquisas forneceram com um monte de equipamentos caros: uma restrição, significando uma série de características que os cientistas não deveriam se incomodar em procurar.

“É bom ter certeza de que estamos plenamente conscientes de nossas limitações físicas mais básicas, que incluem não romper com a vida cotidiana”, Chanda Prescod-Weinstein, professora assistente de física e astronomia da Universidade de New Hampshire, disse ao Gizmodo por e-mail. “Isso exemplifica um dos desafios que os físicos teóricos enfrentam quando imaginam como resolver problemas como encontrar uma explicação para a matéria escura.”

Um especialista que não participou do estudo, James Beacham, físico de partículas do experimento ATLAS no Large Hadron Collider do CERN, gostou do trabalho, mas acredita que ele não se aprofundou o suficiente — ele quer ver dados que mostrem que não há, de fato, registros de ferimentos inexplicáveis, parecidos com tiros, ocorrendo em todo o mundo.

“No fim das contas, porém, acho que este artigo é fascinante porque é um exemplo de como um resultado nulo — ou algo que parece um resultado nulo, como a falta de matéria escura WIMP em nossos experimentos atuais — podem inspirar as pessoas a pensar de maneiras diferentes”, disse Beacham ao Gizmodo em um e-mail.

Esta não é a primeira vez que os cientistas consideram o efeito que a matéria escura pode ter no corpo humano. Um artigo de 2012 de Katherine Freese, da Universidade de Michigan, e Christopher Savage, do Nordic Institute for Theoretical Physics, imaginou como os WIMPs prejudicariam os seres humanos, e descobriu que eles não seriam perigosos, ou pelo menos não mais preocupantes que outras fontes de exposição diária à radiação. Freese disse ao Gizmodo que não tinha reclamações sobre o novo estudo.

Para ser honesto, talvez haja questões mais urgentes, como por que ainda não encontramos nenhum sinal de matéria escura e se é porque estamos errados sobre algum elemento das leis da física. Em última análise, a matéria escura pode não se parecer com os WIMPs padrão que os cientistas estão procurando atualmente.

Suponho que há maneiras piores de morrer do que ser atingido por matéria escura, até porque a sua morte poderia resolver um dos maiores mistérios da física. Talvez até nomeassem a partícula em sua homenagem.

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