Positivo Alfa já esgotou – mas temos um hands-on

  A Bienal do Livro de São Paulo deste ano prometia ser a Bienal do livro eletrônico. Não foi. Mas nem por isso nossos primeiros e-readers deixaram de ter atenção. O mais badalado era o Positivo Alfa que, em duas semanas à venda exclusivamente na Livraria Cultura, já se esgotou. O assédio sobre o Kindle brasileiro (exagero, ok) era tanto que só havia um na Bienal, e tivemos pouco tempo com ele. Mas o nosso leitor Marcelo Paschoalin faturou um e nos conta qual é a experiência do Alfa.

A Bienal do Livro de São Paulo deste ano prometia ser a Bienal do livro eletrônico. Não foi. Mas nem por isso nossos primeiros e-readers deixaram de ter atenção. O mais badalado era o Positivo Alfa que, em duas semanas à venda exclusivamente na Livraria Cultura, já se esgotou. O assédio sobre o Kindle brasileiro (exagero, ok) era tanto que só havia um na Bienal, e tivemos pouco tempo com ele. Mas o nosso leitor Marcelo Paschoalin faturou um e nos conta qual é a experiência do Alfa.

 

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Neste domingo, pela manhã, recebi um email da Livraria Cultura. Até então, meu interesse por um e-book reader se limitava ao Kindle, mas ao ver que a Positivo estava colocando seu equipamento — Alfa (R$ 699) — no mercado, minha curiosidade se aguçou. Em verdade, não pelo nome da Positivo, mas pelo renome da Livraria Cultura.

O pequeno Alfa, com sua tela de 6 polegadas, é um aparelho bonito — ainda mais depois que se usa a capa de couro que vem na caixa (um atrativo de que não sabia até abri-la), deixando-o com um ar de pocket book de luxo. Leve em seus 240 gramas (acho que a capa de couro pesa tanto ou mais que o aparelho) e com 2Gb de memória interna, ele pode suprir muito bem minhas necessidades literárias por um bom tempo — cabem, em média, 2 mil livros. Se precisar mais, há uma entrada para um cartão MicroSD de até 32Gb. A bateria é medida em "viradas de página", já que a tinta eletrônica não tem iluminação traseira. Para o Alfa, são 8 a 10 mil viradas. O que pode significar semanas sem carregar.

A leitura é agradável, pois o contraste (tecnologia e-Ink) pareceu-me adequado para leitura sob a luz de um abajur, sob a luz da sala de estar e mesmo ao ar livre. Poder utilizá-lo com somente uma mão também é um benefício agregado importante, pois apesar de não ter utilizado ainda a função de incluir notas em algumas páginas (por meio da tela touchscreen), não gostei muito do teclado virtual, considerando-o um pouco lento — se estiver fazendo alguma pesquisa no Alfa, é provável que eu use algum outro suporte para as anotações (tanto em papel como já digitando algo no computador).

O dicionário embutido, Aurélio, é outro recurso que consideraria um benefício—ao desejar saber o significado de uma palavra em português, basta clicar três vezes (acesso ao menu, seleciono o dicionário, clico na palavra), mas o Aurélio não sabia o que “marcador” e “marcadores” significavam… ao menos ele me disse o que eram “botões”. Como grande parte dos livros que leio é em inglês, o dicionário é um luxo desnecessário. Mas pode ser útil na hora de pegar grandes clássicos da língua portuguesa em português de Portugal, por exemplo.

O tempo de resposta do Alfa varia com o conteúdo a ser apresentado. Em livros no formato ePub com muito texto e poucas imagens, o tempo de mudança de página é menor que 1 segundo — mesma coisa com PDFs com poucas imagens em lineart. Em compensação, ao ler um PDF com imagens detalhadas no background e/ou ao longo da página, o tempo de resposta chegou a ser maior do que 15s. Ou seja, a menos que se consiga otimizar alguns PDFs mais “pesados”, a leitura no Alfa se torna impraticável — felizmente, são poucos os livros que leio que possuam tantas imagens assim. Em compensação, é fácil usar um programa freeware para converter arquivos RTF em ePub, então textos que consulto com frequência podem ser lidos no Alfa após algum trabalho (extraí todo o texto de um PDF, salvei como RTF e converti para ePub apenas para facilitar minha leitura).

Não sou tão versado nos aspectos técnicos, mas notei que o Alfa foi feito sobre uma base Linux, possuindo uma opção em suas configurações para atualização de firmware. Isso significa que a Positivo deixou um espaço aberto para atualizações futuras, mas estou satisfeito com o aparelho do jeito que ele é — afinal, não preciso de conexão wireless para ler, nem quero que haja distrações com jogos ou outros atrativos. De qualquer maneira, talvez isso dê margem a alguma atualização que dê sentido à presença de botões (como o de volume) que até o momento não tem função alguma—mas o manual, que apesar de bem completo ainda me faz questionar como faço para acionar o protetor de tela. 

Minha opinião é de que o Alfa é um excelente e-book reader, e a Positivo, com sua parceria com a Livraria Cultura, apostou num bom momento para trazer ao Brasil um aparelho robusto e de fácil utilização. Não me fará aposentar meus livros em papel (tenho orgulho da estante cheia), mas me permitirá expandir meus horizontes de leitura. E isso, acredito, seja seu principal mérito.

 

 

Marcelo Paschoalin

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Eu (Pedro) coloquei algumas fotos que tirei do Alfa ao lado e em cima do iPad. A diferença entre a tinta eletrônica e a tela de LCD é bem perceptível. Comparando com o iPad, há algumas óbvias desvantagens, mas vantagens no quesito leitura: a tela do Alfa não reflete tanto, tem dicionário em português, é substancialmente mais barato, tem bateria que dura mais e é muito leve (240g contra 670g do iPad).  

A questão do "conforto de leitura" é bastante subjetiva. Ainda há um grande debate e nenhuma posição definitiva sobre se ler num tablet é definitivamente pior que em e-ink (há alguns fatores envolvidos). Nunca li tanto quanto agora que tenho um iPad e acho que não estou morrendo de dor de cabeça. Mas isso é bastante particular a cada pessoa.   Em relação ao outro leitor nacionalizado (todos são da China), o Cool-ER da Gato Sabido, o Alfa me pareceu um tantinho melhor (tem tela sensível a toque, melhor acabamento, mais menus em português e dicionário), mas não inacreditavelmente melhor. Ambos aceitam o mesmo formato e têm basicamente o mesmo tamanho.

De todo modo, o Alfa é a melhor opção por enquanto, se você lê em português.   Se você pode trazer um leitor de fora, os e-readers da Sony, maiorezinhos, mais rápidos e baratos, são uma melhor pedida. Se você lê basicamente em inglês, é ok com a ideia de ficar preso à loja da Amazon (fora ler uns PDFs aqui e ali), o Kindle é melhor que todos os leitores nacionais, de longe: a tela é maior, com melhor contraste, dá para digitar notas e comprar livros nele mesmo, via Wi-Fi ou 3G. E ele é mais barato (R$ 520 com entrega no Brasil, impostos inclusos).  

Feitas todas as ressalvas, o Alfa é um interessante primeiro esforço da Positivo. O fato de ele ter esgotado rapidamente mostra que ninguém tem ideia de como estamos carentes por opções nacionais de leitores eletrônicos, mesmo que os ebooks ainda sejam ridiculamente caros. Que eles venham logo.  

 

[Com informações do Zumo]  

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