Faca de cocô, jacarés baforando gás hélio e mais ciência absurda no prêmio Ig Nobel 2020

Os vencedores do prêmio Ig Nobel 2020 foram anunciados, e os experimentos anunciados incluem facas congeladas feitas de cocô, um jacaré que teve de inalar gás hélio e minhocas vibrantes.
Faca feita com cocô humano. Crédito: M. I. Eren et al., 2019
Faca feita com cocô humano. Crédito: M. I. Eren et al., 2019

Os vencedores do prêmio Ig Nobel 2020 foram anunciados, e os experimentos anunciados incluem facas congeladas feitas de cocô, um jacaré que teve de inalar gás hélio e minhocas vibrantes. O Ig Nobel é um concurso anual que destaca conquistas que fazem “as pessoas rirem e depois pensarem”.

A 30ª cerimônia do prêmio Ig Nobel foi realizada online devido ao COVID-19. Normalmente, esses prêmios são concedidos pela revista de humor Annals of Improbable Research e entregues em um evento ao vivo realizado na Universidade de Harvard. Mesmo com a pandemia, os Ig Nobels de 2020 ainda conseguiram celebrar o lado mais peculiar da pesquisa científica.

O arqueólogo experimental Metin Eren e seus colegas da Kent State University ganharam na categoria de Materiais científicos por fabricarem facas feitas de cocô congelado.

O experimento foi motivado por um relato etnográfico de um homem inuit no Canadá que afirmou ter feito uma faca com suas próprias fezes. A equipe de Eren, no Laboratório de Arqueologia Experimental da universidade, decidiu testar essa afirmação.

Eles então fabricaram suas próprias facas de cocô fornecido pelos próprios membros das equipe, incluindo o próprio Eren. De forma nada chocante, as facas não funcionaram (a lâmina “derreteu rapidamente e se deteriorou”, de acordo com a pesquisa), colocando o relato etnográfico em dúvida.

Tentativa fracassada de cortar pele de porco com a faca feita de cocô. Crédito: Metin I Eren et al., 2019Tentativa fracassada de cortar pele de porco com a faca feita de cocô. Crédito: Metin I Eren et al., 2019

Falando comigo por telefone, Eren disse que estava “muito animado” por ganhar o prêmio. Ele admitiu que sua equipe já trabalhava com a possibilidade de que eles poderiam ser vencedores. Em 2013, ele e sua irmã compareceram à cerimônia do Ig Nobel em Harvard.

“Nós sabíamos que havia a possibilidade”, disse Eren. “Estávamos muitos conscientes disso.”

Os Ig Nobels são “muito importantes”, acrescentou, pois, além de promover o pensamento crítico, eles “ilustram uma ferramenta importante que os humanos têm para fazer o bem e causar mudanças sociais — essa ferramenta é o humor”, disse ele. O Ig Nobel oferece um bom alívio à indignação, outra ferramenta útil, disse Eren.

O cientista descreveu a pesquisa do cocô como um “grito de guerra bem humorado para demonstrar a importância das evidências e da verificação dos fatos”, que ele disse ser cada vez mais crítica nos dias de hoje.

A título de curiosidade, eu tive a oportunidade de segurar essas facas de cocô. No ano passado, o Gizmodo, junto com a Atlas Obscura, produziu um vídeo sobre o Laboratório de Arqueologia Experimental da Kent State, que inclui um pequeno clipe das facas de cocô congelado.

Outro vencedor foi um artigo de Stephan Reber, da Universidade de Viena, que recebeu o prêmio na categoria Acústica. A equipe colocou um jacaré em uma câmara cheia de gás hélio para estudar as potenciais mudanças dele ao produzir sons.

O objetivo deste experimento esquisito era determinar se crocodilianos e outros répteis podem transmitir algo que indique o seu tamanho por meio de suas vocalizações. O hélio afetou as vocalizações do jacaré da maneira esperada, mas os autores não têm certeza se isso realmente comunica o tamanho às parceiras em potencial.

Na categoria Psicologia, o prêmio foi para um grupo de pesquisadores estadunidenses e canadenses por terem desenvolvido um método para identificar narcisistas ao checar suas sobrancelhas.

Uma equipe liderada por Ivan Maskymov, da Swinburne University of Technology, ganhou o prêmio de Física por mostrar que minhocas vibrando em altas frequências podiam ter seus formatos potencialmente alterados.

Richard Vetter, da Universidade da Califórnia em Riverside, ganhou na categoria Entomologia por mostrar que os entomologistas têm medo de aranhas. Não sei se isso é apropriado, irônico ou simplesmente estranho, visto que entomologistas estudam insetos, algo que que as aranhas não são. O artigo de Vetter tem um título ótimo: “Entomologistas aracnófobos: quando duas patas a mais fazem uma grande diferença”.

Um Ig Nobel muito sarcástico foi o da categoria Educação Médica, concedido a vários líderes mundiais, incluindo o presidente dos EUA, Donald Trump; o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro; o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e o presidente de Belarus, entre outros. Eles receberam o prêmio por “usar a pandemia do COVID-19 para ensinar ao mundo que os políticos podem ter um impacto na vida e na morte das pessoas muito mais imediato do que cientistas e médicos”.

Você pode achar outros vencedores do Ig Nobel de 2020 no site Improbable Research.

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