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Podemos ficar otimistas com o primeiro teste de vacina contra o coronavírus?

Na segunda-feira (16), os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) anunciaram que haviam iniciado o primeiro teste em humanos de uma possível vacina contra o SARS-CoV-2, o coronavírus por trás do COVID-19. A primeira participante recebeu a injeção naquele mesmo dia. Mas, embora este teste, com base em Seattle, seja uma boa notícia, ainda […]

Um farmacêutico dá a Jennifer Haller, à esquerda, a primeira dose de uma potencial vacina para o COVID-19 em um estudo clínico de segurança. Foto tirada em 16 de março de 2020, no Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente Washington, em Seattle. Foto: Ted S. Warren/AP Images

Na segunda-feira (16), os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) anunciaram que haviam iniciado o primeiro teste em humanos de uma possível vacina contra o SARS-CoV-2, o coronavírus por trás do COVID-19. A primeira participante recebeu a injeção naquele mesmo dia. Mas, embora este teste, com base em Seattle, seja uma boa notícia, ainda levará muito tempo e muita sorte para que qualquer vacina chegue à população.

A vacina experimental é conhecida, por enquanto, como mRNA-1273. Ela foi criada por meio de uma colaboração entre o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) do NIH e a empresa de biotecnologia Moderna, cuja sede fica em Cambridge, Massachusetts.

Embora o NIH esteja financiando o teste em si, um financiamento adicional para a fabricação da vacina foi fornecido pela Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI), uma fundação iniciada em 2017 pela Fundação Bill e Melinda Gates e outros parceiros especificamente para financiar a pesquisa de vacinas para doenças infecciosas emergentes, como é o caso da COVID-19.

Este é um ensaio clínico de Fase 1, o que significa que os cientistas estão interessados ​​principalmente em testar a segurança do mRNA-1273 em pessoas saudáveis ​​e se ele traz efeitos colaterais perigosos. Quantidades diferentes da vacina serão dadas às pessoas para medir a dose que é mais eficaz em segurança.

Embora os pesquisadores provavelmente monitorem coisas como a resposta imune ao coronavírus de voluntários, esses resultados por si só não podem nos dizer se a vacina funcionará. No total, o estudo envolverá 45 voluntários com idades entre 18 e 45 anos, recrutados por um período de seis semanas, que tomarão duas doses com um mês de intervalo e serão monitorados durante o próximo ano.

“Encontrar uma vacina segura e eficaz para prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 é uma prioridade urgente da saúde pública”, disse Anthony S. Fauci, diretor do NIAID, em comunicado divulgado pelo NIH. “Este estudo de Fase 1, lançado em velocidade recorde, é um primeiro passo importante para alcançar esse objetivo.”

Partículas virais do SARS-CoV-2, o vírus por trás do COVID-19, vistas usando um microscópio eletrônico de transmissão em uma amostra colhida de uma pessoa. Imagem: C.S. Goldsmith e A. Tamin/CDC

Outras tentativas

Alguns cientistas criticaram como essa velocidade recorde foi alcançada. A vacina candidata da Moderna não passou pelo tipo de testes em animais pelos quais drogas e vacinas experimentais normalmente passam. Tratamentos experimentais não são legalmente obrigados a passar por testes em animais, mas desrespeitar essas regras tácitas — mesmo em tempos de crise — pode definir um mau precedente no futuro ou até mesmo colocar em risco a vida das pessoas.

Tentativas anteriores de criar vacinas contra outros coronavírus, como o causador da SARS, tropeçaram porque provocaram uma reação exagerada pelo sistema imunológico em animais de teste — a exposição ao vírus na natureza poderia, na verdade, deixar os animais vacinados ainda mais doentes. Embora as vacinas mais recentes devam ter resolvido teoricamente esse problema, testes em animais ajudariam a descartar essa possibilidade.

Ainda há questões remanescentes sobre a abordagem que a Moderna usou em sua vacina, que se baseia em algo chamado RNA mensageiro, ou mRNA. As vacinas de mRNA trabalham programando células no corpo para produzir um antígeno específico para o germe alvo; esse antígeno inicia o sistema imunológico para reconhecer e atacar o germe. Isso contrasta com a vacina convencional, que se baseia no uso de pelo menos parte do patógeno (possivelmente modificado) para treinar o sistema imunológico.

Em teoria, as vacinas de mRNA devem ter suas vantagens sobre os tipos mais antigos de vacinas, com a esperança de que sejam mais fáceis, baratas e rápidas de produzir em massa e possam ser adaptadas a uma ampla variedade de doenças. Mas, na prática, nenhuma vacina desse tipo foi aprovada por nenhum governo, com a maioria das candidatas ainda em desenvolvimento inicial. Em outras palavras, a tecnologia por trás das vacinas de mRNA ainda não passou por testes maiores.

Mesmo que a vacina de Moderna não funcione, ela não é a única em potencial a ser testada pelo governo dos EUA e outros. Mais de meia dúzia de candidatas estão em desenvolvimento, incluindo uma de Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Baylor College of Medicine, no Texas, e sua equipe.

“Estou mais otimista em relação à nossa vacina, porque ela usa uma tecnologia estabelecida que levou ao licenciamento de outras vacinas, incluindo hepatite B e HPV”, disse Hotez ao Gizmodo, referindo-se à abordagem de sua equipe de modificar uma proteína-chave retirada do vírus. Uma versão de sua vacina já foi testada em animais com sucesso, embora seja uma vacina contra a SARS, não contra o coronavírus causador da COVID-19, que é bem parecido.

Qualquer que seja o resultado desses testes, eles não serão de ajuda imediata. Nós teremos que nos preparar para suportar o COVID-19 da melhor forma possível até lá.

“Em qualquer caso, todas essas vacinas precisam ter sua eficácia e segurança cuidadosamente avaliadas, o que pode facilmente levar de um a dois anos, como disse o Dr. Fauci”, completa Hotez.

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