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Esta é a primeira múmia já encontrada de uma grávida

Originalmente apelidado de "múmia de uma senhora", o corpo envolto em linho foi doado à Universidade de Varsóvia em 1826.

A múmia, vista durante uma análise em 2015. Imagem: Cortesia do Warsaw Mummy Project

Um exame radiológico de uma múmia de 2 mil anos que, acreditava-se ser de um padre, mostrou que é, na verdade, os restos mortais preservados de uma mulher grávida.

Uma nova pesquisa no Journal of Archaeological Science documenta o “primeiro caso conhecido de um corpo embalsamado de uma grávida”, como os arqueólogos, liderados por Wojciech Ejsmond do Projeto Múmia de Varsóvia, escreveram em seu estudo.

Originalmente apelidado de “múmia de uma senhora”, o corpo envolto em linho foi doado à Universidade de Varsóvia em 1826. Durante a década de 1920, e novamente na década de 1960, os hieróglifos no caixão foram traduzidos para “Hor-Djehuty”, que corresponde ao nome de um sacerdote egípcio. Varreduras radiológicas feitas na década de 1990 reforçaram ainda mais a interpretação da múmia como sendo do sexo masculino, mas a “pesquisa atual prova que o sexo da múmia é indubitavelmente feminino”, como escreveram os arqueólogos em seu estudo.

De fato, este poderia ser um caso clássico da múmia não estar em seu caixão original, o que acontece de vez em quando. Os autores do artigo “só podem especular que a múmia foi colocada em um caixão errado por acidente nos tempos antigos, ou foi colocada em um caixão aleatório por negociantes de antiguidades no século 19”.

Três imagens, mostrando o caixão, a múmia e um raio-X. Imagem: W. Ejsmond et al., 2021/Journal of Archaeological Science

Exames de raios-X não e tomografia computadorizada não invasivos confirmaram a múmia como sendo do sexo feminino. Os arqueólogos estavam reexaminando o espécime na esperança de aprender mais sobre o que estava escondido atrás das ataduras, bem como para realizar uma análise de datação e busca por sinais de doença, como Ejsmond explicou em um e-mail.

Mas, além de detectar inesperadamente seios e órgãos genitais femininos, os pesquisadores descobriram algo muito mais incomum e digno de nota: um feto.

“Foi um achado absolutamente inesperado!”, escreveu Ejsmond. “No início não acreditávamos no que estávamos vendo e consultamos outros especialistas que confirmaram a nossa descoberta.”

Localizado na pelve da múmia, o feto “foi mumificado junto com sua mãe” e “não foi removido de seu local original”, escrevem os pesquisadores.

As medições da cabeça do feto sugerem que ele morreu entre a 26ª e a 30ª semana de gravidez, ou seja, entre o final do segundo e o início do terceiro trimestre. É altamente provável, portanto, que a gravidez dessa mulher tenha sido reconhecida. Devido ao “mau estado” do feto, incluindo ossos encolhidos devido à secagem, não foi possível para a equipe medir outras partes de seu esqueleto.

Radiografias e tomografias computadorizadas da região abdominal da múmia, revelando o feto. Imagem: W. Ejsmond et al., 2021/Journal of Archaeological Science

O exame dos dentes da mãe sugere que ela tinha entre 20 e 30 anos de idade quando morreu. A origem da múmia foi rastreada até os túmulos reais em Tebas, então é provável que essa mulher fosse um membro da elite da comunidade tebana. Seus restos mortais foram cuidadosamente mumificados, embrulhados em tecidos e adornados com “um rico conjunto de amuletos”, de acordo com o artigo. Os arqueólogos dataram a múmia ao século 1 a.C.

Fetos mumificados do antigo Egito já foram encontrados antes (veja aqui e aqui), mas o fato de múmias grávidas serem tão raras permanece uma questão sem resposta. Os pesquisadores ofereceram algumas pistas.

“É muito difícil detectar um feto dentro de um corpo embalsamado porque a densidade óssea neste estágio da vida fetal é pequena e pode passar facilmente despercebida”, explicou Ejsmond. “É preciso usar um equipamento muito bom para detectar um feto. Isso pode explicar por que tais descobertas não foram relatadas por outros pesquisadores”.

Quanto ao motivo pelo qual o feto não foi extraído durante o processo de mumificação, Ejsmond especula que era provavelmente difícil extrair o feto devido à “dureza do útero” ou por “razões religiosas”, cuja natureza “só podemos especular.”

Olhando para o futuro, os cientistas gostariam de avaliar melhor a saúde da mulher no momento da morte, o que eles tentarão fazer coletando a amostra de uma pequena quantidade de tecido. Além disso, esta múmia poderia fornecer “novas possibilidades para estudos de gravidez nos tempos antigos” e lançar uma nova luz sobre um “aspecto não estudado dos antigos costumes funerários egípcios e interpretações da gravidez no contexto da antiga religião egípcia”, de acordo com o artigo.

Futuras análises dessa múmia podem fornecer algumas pistas importantes.

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