A lua de Plutão, Caronte, é a melhor companheira que um planeta anão poderia ter: inabalável em sua lealdade, com capacidade para ser uma personagem secundária na narrativa de outra pessoa. Mas dois anos depois do vôo da sonda New Horizons, a maior das cinco luas de Plutão finalmente está recebendo a atenção devida. Novas pesquisas sugerem que a história de Caronte inclui atividade tectônica, criovulcanismo e, talvez, um oceano que cobria o globo.
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Enquanto Plutão está vivo e ativo geologicamente, seu grande satélite, Caronte, que provavelmente se formou durante uma colisão maciça bilhões de anos atrás, é um deserto coberto por crateras, com sua superfície envelhecida pelas eras. Caronte hoje está morta – mas enormes abismos vistos pela nave espacial New Horizons sugerem que a lua nem sempre foi assim. Um esforço contínuo de pesquisa, incluindo um levantamento geológico publicado recentemente na revista Icarus, afirma que há bilhões de anos, Caronte passou por pelo menos um período de atividade tectônica, quando toda a sua superfície se expandiu para fora.
Conforme descrito no estudo liderado pelo cientista planetário da NASA, Ross Beyer, o hemisfério de Caronte que fica virado para Plutão, visualizado pelo reconhecimento de imagem de longo alcance da New Horizons, possui duas regiões geológicas distintas. Ao sul, as planícies lisas de Vulcan Planum, revestidas de gelo, que Beyer e seus colegas interpretam como um “fluxo de lava” criovulcânico. Ao norte, uma vasta e diversificada área conhecida informalmente como Oz Terra, cuja superfície está cheia de sulcos, escarpas e abismos profundos e alongados que deixariam o Grand Canyon da terra envergonhado.
“Toda a tectônica observada é extensional, o que significa que a crosta de Caronte está se esticando e separando”, James Tuttle Keane, cientista planetário da Caltech, que não estava envolvido com o novo estudo, disse ao Gizmodo. “Você pode imaginar inflar uma bexiga, pintá-la, deixar a tinta secar e depois inflar um pouco mais. Caronte é o balão, e a tinta é a sua crosta de gelo e água se quebrando”.
Usando as crateras para datar a superfície da lua, os pesquisadores determinaram que Caronte inchou cerca de quatro bilhões de anos atrás. Embora ninguém tenha certeza do porquê isso aconteceu, os autores sugerem que Caronte poderia ter tido um oceano subterrâneo global no passado, mantido quente pela energia contida no núcleo rico em silicatos. À medida que o calor do núcleo se dissipava, o oceano esfriou, congelou e expandiu. “Cresce em volume, e essa pressão é o que faz com que a crosta gelada acima dela racha, se frature e separe”, disse Beyer ao Gizmodo.
Tal expansão, Keane concordou, poderia “resultar facilmente na tectônica observada em Caronte”. Uma vez que o congelamento estava completo, Caronte ficaria adormecido.
Um oceano subterrâneo também poderia explicar esses fluxos de lava gelados encontrados na área do sul de Caronte, que Beyer e seus colegas continuam a estudar. “O que achamos que aconteceu foi que durante esse período, quando Caronte estava se expandindo e formando fendas, por algum motivo, as áreas do norte se afastaram um pouco, mas as áreas ao sul talvez tenham se separado ainda mais”, disse Beyer. À medida que as fissuras adicionais no sul faziam com que pedaços de material da crosta afundassem, a água do oceano alienígena foi expelida para cima, vazando para todos os lados e cobrindo a superfície de gelo.
É uma ótima e clara explicação do porquê Caronte tem a aparência de hoje em dia, mas nada pode ser provado sem mais dados sobre o interior da lua, e isso pode exigir outra missão para o sistema de Plutão. “Somente alguns objetos em nosso sistema solar são mundos de oceano confirmados (mundos como Europa, Encélado e Titã)”, disse Keane. “As medidas necessárias para demonstrar de forma conclusiva que há um oceano subterrâneo geralmente exigem ficar ao redor do sistema por um tempo”.
Ainda assim, a noção de que Caronte pode ter tido oceanos e vulcões de gelo sugere as semelhanças da Lua com Plutão, que pode estar escondendo um vasto oceano de água líquida sob sua superfície. Embora seja improvável que encontremos algo vivo em qualquer um dos mundos, essas descobertas ampliam nossa compreensão dos ambientes em que algumas das condições da vida podem existir.
Beyer, por sua vez, suspeita que os dados do New Horizons continuarão a produzir conhecimento nos próximos anos. “Nós só temos esses dados há cerca de dois anos, estamos tentando descobrir o que aconteceu com mais de 4,5 bilhões de anos de história do sistema solar”, disse ele. “Há muito que ainda não sabemos”.
[Icarus]