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Próxima tempestade solar pode causar catástrofe tecnológica, diz estudo

Além da destruição de satélites, todo o sinal de internet pode ser bloqueado em poucas horas. Entenda.

Imagem: Wikimedia Commons

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Estrelas são corpos celestes dinâmicos. No núcleo do nosso Sol, por exemplo, há uma série de reações químicas acontecendo a todo momento. Algumas delas produzem certa quantidade de energia capaz de liberar prótons e elétrons. Quando esses elementos se concentram, eles podem desencadear o que chamamos de tempestade solar — basicamente, uma liberação em série de partículas superaquecidas. Essas partículas, por sua vez, podem viajar centenas de milhares de quilômetros, e atingir outros corpos celestes — ou mesmo objetos humanos que vagam pelo espaço, como redes de satélite. E é aí que mora o problema.

Cientistas já sabiam há muito que as consequências de tempestades solares intensas podem ser desastrosas. É possível que elas causem, por exemplo, a destruição de satélites artificiais, interferência em sistemas de telefonia e a queda de redes de energia elétrica.

Uma nova pesquisa liderada por uma cientista da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, no entanto, indica que a situação pode ser ainda pior.

Durante a conferência do Grupo de Interesse Especial em Máquinas Computacionais (SIGCOMM 2021), que ocorreu no último mês de agosto, Sangeentha Abdu Jyothi apresentou um estudo em que afirma que a próxima supertempestade solar poderia danificar a infraestrutura mundial de internet — e deixar milhões de pessoas sem acesso à rede por meses. Algo que, como você pode imaginar, seria catastrófico para nosso modo de vida moderno.

“O que realmente me fez pensar sobre isso é que, com a pandemia, vimos como o mundo estava despreparado. Não havia nenhum protocolo para lidar com isso de forma eficaz, e o mesmo acontece com a internet”, disse Jyothi em entrevista à revista WIRED. “Nossa infraestrutura não está preparada para um evento solar em grande escala.”

Por mais que as tempestades solares extremas (também chamadas, no jargão científico, de ejeções de massa coronal) sejam relativamente raras, elas ainda têm chances ocorrer. Os cientistas estimam que a probabilidade de um clima espacial extremo impactar diretamente a Terra está entre 1,6% a 12% a cada década.

Isso afetaria, por exemplo, os longos cabos submarinos de internet, que são equipados com repetidores para aumentar seu sinal óptico, espaçados em intervalos de aproximadamente 50 a 150 quilômetros. Tudo porque esses repetidores são vulneráveis ​​a correntes geomagnéticas. Sendo assim, cabos inteiros podem se tornar inúteis caso um único repetidor ficar offline, de acordo com a pesquisa de Jyothi. “Se cabos submarinos falharem em uma determinada região, então continentes inteiros podem ser separados uns dos outros”, escreveu a cientista.

Países em latitudes elevadas — como os Estados Unidos e o Reino Unido — são muito mais suscetíveis ao clima solar do que as nações em latitudes mais baixas. No caso de uma tempestade geomagnética catastrófica, são as nações de alta latitude que têm maior probabilidade de ser excluídas da rede primeiro.

“O impacto econômico de uma interrupção da Internet por um dia nos Estados Unidos é estimado em mais de US $ 7 bilhões”, explicou Abdu Jyothi em seu artigo. “E se a rede permanecer inoperante por dias ou até meses?”

Na história, duas tempestades dessa magnitude foram registradas: uma em 1859 e a outra em 1921. Um desses incidentes, chamado de Evento Carrington, criou uma perturbação geomagnética tão severa na Terra que fios de telégrafo explodiram, e auroras boreais — geralmente visíveis apenas perto dos pólos do planeta — foram vistas de outros lugares. Tempestades menores também podem causar impacto. Uma em março de 1989, por exemplo, bloqueou toda a província canadense de Quebec por nove horas.

Se não quisermos correr o risco de presenciar uma tragédia, as operadoras de rede precisam começar a levar a sério a ameaça do clima solar extremo, à medida que a infraestrutura global da Internet se expande. Colocar mais cabos em latitudes mais baixas é um bom começo, diz Abdu Jyothi, assim como desenvolver testes de resiliência que enfocam os efeitos de falhas de rede em grande escala.

Quando a próxima grande tempestade solar explodir em nossa estrela, as pessoas na Terra terão cerca de 13 horas para se preparar para sua chegada, acrescentou a pesquisadora. Esperemos que estejamos prontos para aproveitar ao máximo esse tempo, quando ele inevitavelmente chegar.

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