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Quatro ideias para acabar com a nuvem de poluição que cobre Pequim (mas só uma irá funcionar)

A China considera controlar o smog em Pequim de algumas maneiras malucas. Infelizmente, a única medida que vai funcionar é também a mais difícil.

Esta semana, Pequim foi mais uma vez coberta por smog, o nevoeiro contaminado por fumaça. Isso a deixou mergulhada em uma escuridão cinza e granulada, semelhante à que a cidade sofreu em 2013, na foto acima.

A China está tentando controlar este problema na qualidade do ar, e está considerando seriamente algumas maneiras malucas de fazer isso. Infelizmente, a única medida que vai funcionar é também a mais difícil.

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Quem está em Beijing agora precisa lidar com níveis extraordinários de uma pequena partícula chamada PM2.5, que adora permanecer em pleno ar por longos períodos. O PM2.5 vem de fontes industriais e incêndios a lenha, e é muito perigoso para os pulmões humanos.

A Organização Mundial de Saúde recomenda uma quantidade máxima de PM2.5 no ar de 25 microgramas por metro cúbico. Pequim atingiu 568 esta semana, mais de vinte vezes o limite máximo. Infelizmente, isso não é incomum: a concentração já chegou a atingir 993 no passado. A poluição é tão intensa que pode ser vista a partir do espaço:

A China consegue controlar o smog muito bem quando necessário. O país fez isso em novembro, quando líderes mundiais estavam em Pequim para o encontro anual da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Os moradores locais diziam brincando que o céu claro estava “azul-APEC”.

Mas tréguas temporárias não ajudam os moradores, por isso a China se tornou um foco de projetos para combater o smog.

Fazendo chover

A grande ferramenta no arsenal da China é a semeadura de nuvens. Trata-se de um conceito levado ao país pela Rússia soviética em 1958. A ideia é bastante simples: um avião (ou lança-foguetes) despeja produtos químicos – iodeto de potássio, propano líquido ou iodeto de prata – em uma nuvem existente, criando partículas de gelo que ficam pesadas e caem na Terra como “chuva”.

A chuva “lava” o ar de partículas PM2.5: as moléculas de água coletam as partículas tóxicas e, em seguida, levam-nas para o chão. Tecnicamente, este processo se chama “deposição úmida”. De acordo com o Quartz, a China faz 55 bilhões de toneladas de chuva artificial por ano para combater a poluição.


Um lançador de foguetes usados para “semear” nuvens e induzir chuva, visto em um posto do Serviço Meteorológico de Pequim. AP Photo/Ng Han Guan.

Há vários problemas nisso, especialmente porque a chuva artificial que cai na China suga enormes quantidades de água preciosa que poderiam ir para os países nas proximidades.

O professor James Lee, da American University, disse à China Dialogue em 2013: “há tantos países envolvidos nisso que eu acho que, em algum momento, um país vai dizer para o outro – ‘ei, você está roubando a nossa chuva’ “. E a China planeja grandes projetos de infraestrutura para trazer mais água doce ao país.

Um borrifador gigante

Há planos mais localizados para fazer chover. No ano passado, o professor Yu Shaocai, da Universidade de Zhejiang, publicou um artigo na revista Environmental Chemistry Letters que explica um novo método de purificar o ar com água.

Nele, seriam instalados enormes borrifadores (sprinklers) no topo de arranha-céus, que iriam funcionar em conjunto quando necessário, cobrindo a cidade com uma precipitação de baixo nível – algo que normalmente exigiria um avião para “semear” nuvens.

A lógica de Shaocai é boa, por mais que as imagens acima pareçam absurdas. As partículas PM2.5 tendem a se concentrar mais perto do solo, a cerca de 90 m do chão. Um borrifador instalado em uma torre permitiria atingir áreas específicas, tornando o processo mais eficiente.

Tinta que come smog

Instalar “chuveiros” gigantescos nos arranha-céus de Pequim pode ser uma ideia muito ousada, mas já existem métodos de combater o smog usando a arquitetura da cidade.

A principal delas é o dióxido de titânio, presente como um pigmento em vários produtos que usamos, como o protetor solar. Ao longo da última década, o dióxido de titânio também passou a ser usado em materiais de construção, incluindo tijolos e tinta.

O dióxido de titânio reage com óxidos de nitrogênio, compostos voláteis que são fundamentais na produção da poluição atmosférica. Os nanotubos de dióxido de titânio sugam o NOx e o convertem em ácido nítrico, relativamente inofensivo quando não está na atmosfera.

Um hospital no México recentemente foi envolto em uma superfície porosa pintada com os nanotubos de dióxido de titânio, para purificar o ar que chega ao prédio. E em 2012, um grupo de arquitetos de Nova York usou o material para construir um pavilhão temporário “que acaba com a poluição”.

Fazendo joias com a poluição

Temos ainda um projeto do artista holandês Daan Roosegaarde, que está trabalhando com o prefeito de Pequim para testar um dispositivo que ficaria em parques locais e “devoraria” a poluição dos céus. Funciona assim:

Da mesma forma que um balão estático atrai fios de cabelo quando está energizado, este dispositivo que devora poluição usa bobinas de cobre enterradas sob a grama para criar campos eletrostáticos e, assim, atrair partículas de fumaça. Uma vez retiradas do ar, as partículas podem ser comprimidas e reaproveitadas.

Parece ótimo, né? Mas a ideia de Roosegaarde é ainda mais ambiciosa. Ele planeja compactar industrialmente os resíduos coletados para transformá-los em uma pequena “joia” de partículas tóxicas – e, em seguida, colocá-la em anéis. “Você estará comprando um quilômetro cúbico de ar limpo de Pequim”, disse ele ao New York Times no ano passado.

Ou seja, temos aqui um ciclo bem curioso: o smog seria coletado e transformado em um bem de consumo, que talvez fosse vendido na mesma economia que ajudou a criar o problema do smog.

Soluções pequenas para um grande problema

Até agora, nós temos um plano para fazer anéis a partir da poluição atmosférica; um plano para colocar enormes borrifadores em prédios; um plano para pintar todos os prédios na cidade com nanotubos químicos; e um programa já existente para criar chuva falsa que poderia, no futuro, estimular uma guerra envolvendo recursos naturais. Não é o ideal!

Na cidade, cada pessoa tem que criar suas próprias soluções. O artista Matt Hope, por exemplo, embutiu um filtro de ar elétrico em um capacete de moto, alimentado pela energia gerada por suas pedaladas. Ou você poderia fazer algo mais simples e apenas colar filtros no seu ventilador.

Mas a verdadeira solução, a única que vai funcionar para milhões de pessoas que precisam lidar com a poluição todo dia, é também a menos glamourosa: restringir a poluição. A China diz que vai fazer isso, com novas leis que proíbem carros que cospem fumaça, e com limites para veículos em geral. Em dezembro, o país anunciou que terá penas mais severas para quem causar poluição, e vai alterar a legislação existente.

Assim, enquanto engenheiros, arquitetos, físicos e artistas podem ter inúmeras ideias para resolver os problemas de poluição atmosférica, há apenas uma solução que irá realmente funcionar. Infelizmente, ela é a mais difícil.

Imagem: Pequim em 2013. ChinaFotoPress/Zuma Press

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