_Saúde

Radiação espacial não está matando os astronautas, diz novo estudo

Pesquisa realizada com 418 indivíduos que foram ao espaço sugere que efeitos da radiação não são tão determinantes na saúde e tempo de vida dos astronautas.

Imagem: NASA

A exposição excessiva aos raios nocivos do Sol é um risco ocupacional sofrido pelos astronautas, que estão suscetíveis a contrair câncer e doenças cardíacas como resultado. Pelo menos é o que pensamos. Novas pesquisas mostram que eles não estão morrendo prematuramente, mas os cientistas alertam que as missões de longa duração representarão sérios riscos.

Um estudo publicado nesta sexta-feira (5) na Scientific Reports não conseguiu associar a exposição à radiação espacial com um aumento do risco de morte por câncer ou doenças cardiovasculares entre astronautas e cosmonautas (termo utilizado para se referir a astronautas soviéticos). É um resultado surpreendente, se não encorajador, já que por muito tempo acreditava-se que a exposição a radiações ionizantes prejudiciais acabaria voltando a assombrar os astronautas na forma de doenças no futuro, e possivelmente causar uma morte prematura.

Dito isso, o principal autor do novo estudo, Robert Reynolds, da Mortality Research & Consulting, Inc., na Califórnia, alertou que as missões de maior duração longe do campo magnético protetor da Terra, como uma missão a Marte, têm probabilidade de serem perigosas e potencialmente encurtarem o tempo de vida dos astronautas.

Para o novo estudo, Reynolds e seus colegas realizaram uma análise estatística dos dados históricos disponíveis publicamente. Um total de 418 indivíduos que viajaram para o espaço foram analisados no estudo, incluindo 301 astronautas e 117 cosmonautas.

O estudo considerou todos os astronautas da NASA desde 1959 e todos os cosmonautas soviéticos ou russos desde 1961, que experimentaram uma viagem ao espaço antes de julho de 2018 no caso dos astronautas e em dezembro de 2017 para os cosmonautas. O período médio de acompanhamento para os astronautas foi de 24 anos e para os cosmonautas foi de 25 anos.

Um total de 89 mortes foram registradas, sendo 53 astronautas e 36 cosmonautas. Esses indivíduos morreram por várias causas, mas Reynolds e sua equipe só estavam interessados ​​em duas causas específicas de morte: câncer e doenças cardiovasculares, pois essas condições tinham o potencial de estar ligadas à exposição à radiação. Entre os astronautas, 30% morreram de câncer e menos de 15% morreram de doenças cardíacas. As estatísticas eram um pouco diferentes para os cosmonautas, sendo que 50% morreram de doenças cardíacas e 28% de câncer.

“Se a radiação ionizante está afetando o risco de morte devido a câncer e doenças cardiovasculares, o efeito não é dramático”.

Essas estatísticas podem parecer altas e alarmantes, mas a análise de Reynolds sugere que esses números não são nada fora do comum. Nenhuma tendência ou eventualidade, como exposição à radiação, pode ser detectada nos dados que apontam para uma causa comum de morte. “Se a radiação ionizante está afetando o risco de morte devido a câncer e doenças cardiovasculares, o efeito não é grave”, concluíram os autores do novo estudo.

Mas estas são “doses históricas de radiação espacial”, como os autores descreveram. Além das missões Apollo, os astronautas e cosmonautas na órbita baixa da Terra ainda estavam protegidos pelo campo magnético da Terra. A situação no futuro, quando os astronautas se aprofundarem no espaço, será evidentemente diferente, como observado no novo estudo:

É importante observar que futuras missões de exploração do espaço profundo provavelmente oferecerão doses muito maiores de radiação espacial do que as doses anteriores, o que levará a um perfil de risco diferente para futuros astronautas e cosmonautas. Nos próximos anos, é imperativo que os epidemiologistas continuem a monitorar as populações de astronautas e cosmonautas quanto a possíveis efeitos prejudiciais da exposição à radiação espacial, usando métodos tanto novos como familiares. Isso será essencial para apoiar as ambições humanas de uma exploração maior e eventual colonização do nosso sistema solar.

Infelizmente, uma missão a Marte poderia tirar anos da vida de uma pessoa, impedindo o desenvolvimento de blindagens ou trajes especiais. A pesquisa da NASA de 2013 concluiu que, sem proteção suficiente, os astronautas com destino a Marte receberiam a mesma quantidade de radiação quanto se realizassem uma tomografia computadorizada de corpo inteiro uma vez por semana durante um ano inteiro.

Uma viagem de ida e volta a Marte iria, consequentemente, expor os astronautas a dois terços da exposição permitida durante uma vida. E isso não inclui o tempo na superfície marciana, com sua atmosfera lamentavelmente fina e campo magnético fraco.

A nova pesquisa é encorajadora para os astronautas que se aventuram na órbita baixa da Terra, mas dado o nosso desejo de nos aventurarmos além, precisaremos desenvolver algumas soluções viáveis.

Sair da versão mobile