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Redes sociais deveriam projetar suas plataformas para promover mais gratidão, diz pesquisa

Estudo analisa como as pessoas online vivenciam sentimentos de gratidão e como as redes sociais podem mudar seu design para promover isso.

Getty

O papel que as redes sociais desempenham na oferta de um espaço para discursos de ódio e conteúdo violento tem sido revelado de formas perturbadoras nos últimos tempos, uma vez que essas ofensas estão diretamente ligadas a atos inimagináveis ​​de desumanidade. É difícil não ver a linha que liga esses fóruns online às atrocidades do mundo real. Mas os pesquisadores estão explorando como o design dessas plataformas pode ter uma influência significativa na promoção de sentimentos mais positivos online. Especificamente, gratidão.

Pesquisadores da City University of London publicaram recentemente um estudo — “Não posso expressar minha gratidão o suficiente: o ‘Ciclo da Gratidão’ em comunidades online”, em tradução livre — no Journal of the Association for Information Science and Technology, que analisa como as pessoas vivenciam sentimentos de gratidão online e como uma melhor compreensão disso pode abrir caminho para mudanças de design que se prestam a um engajamento mais saudável entre as pessoas.

Os pesquisadores conduziram entrevistas sobre incidentes críticos semi-estruturados com oito usuários de comunidades online variadas, que incluíam Facebook, Quora, TripAdvisor e Mumsnet (um fórum de discussão do Reino Unido para pais, de acordo com o estudo). Foram quatro usuários do sexo masculino e quatro usuários do sexo feminino, com idades entre 24 e 44 anos.

Essas entrevistas, que duraram cerca de 45 minutos cada, resultaram em 17 exemplos “memoráveis” de gratidão nessas comunidades. Os pesquisadores também deduziram de seu estudo o que eles caracterizaram como um “ciclo de gratidão”, que eles descrevem como uma “compreensão detalhada e holística da experiência de gratidão online que pode direcionar o design de plataformas comunitárias online que visa motivar os usuários a perpetuar o ciclo”.

De acordo com o estudo, as formas comuns pelas quais as pessoas vivenciaram um ato de gratidão foram as respostas a posts com informações relevantes ou mensagens de apoio.

Uma das entrevistadas, por exemplo, disse que enviou a alguns amigos no Japão um presente de casamento. Ela ficou comovida quando o amigo postou uma foto do presente no Facebook, escreveu um longo post de agradecimento público e enviou uma mensagem particular para ela agradecendo sua consideração.

Outro entrevistado agradeceu a alguém no LinkedIn por seu post no vlog e pediu que continuasse a postar seus vídeos. “Ele estava motivado não apenas porque valorizava o conteúdo”, afirmou o estudo, “mas porque o vlogger questionou se ele continuaria produzindo vlogs, enquanto ele se esforçava para conciliar os vídeos com seu trabalho.”

Stephann Makri, palestrante e professor do Centro de Design de Interação Humano-Computador da City University of London e coautor do artigo, disse ao Gizmodo em um e-mail que plataformas comunitárias como Facebook e Twitter “devem apoiar uma expressão mais significativa e reconhecimentos de gratidão”, como os exemplos detalhados acima. Ele detalhou algumas maneiras pelas quais isso poderia ser alcançado.

Primeiro, Makri disse que as plataformas devem fazer mais do que simplesmente adicionar botões “leves”, citando os botões “curtir” e de upvoting comumente vistos nas redes sociais. Em vez disso, as redes deveriam permitir que os usuários expressem por que eles são gratos. Ele disse que os modelos personalizáveis ​​podem permitir esse tipo de interação.

Makri acrescenta que as plataformas poderiam se afastar de “mecanismos de recompensa baseados em volume”, como curtidas e retuítes. Junto a isso, elas poderiam recompensar os usuários pela qualidade de suas postagens, permitindo que os usuários sinalizem publicações que considerem especialmente úteis, dando-lhes espaço para explicar por que eles classificaram o conteúdo de tal forma.

“Há também espaço para plataformas comunitárias online melhor apoiarem a expressão de gratidão no momento certo”, disse Makri, sugerindo notificações quando alguém tem mais probabilidade de sentir gratidão, como logo depois de comer em um restaurante, chamando-o de uma função “Lembre-me de agradecer”. Isso poderia impedir que os usuários deixassem de expressar gratidão “depois que o sentimento inicial de conforto diminuiu”.

É claro que esta não é uma lista completa ou definitiva de mudanças que as plataformas poderiam adotar para encorajar e perpetuar uma comunidade online mais leve. Em vez disso, o estudo serve como uma lente para como esses tipos de interação já acontecem e como eles podem fornecer uma luz às redes sociais sobre a relação entre o design de seus recursos e a inclinação para um usuário interagir com outro usuário de uma maneira positiva.

Da forma como está, muitas das redes sociais com maior número de usuários e devotos mais fervorosos estão fazendo o mínimo quando se trata de intervir e prevenir conteúdos virulentos. E quando há um reforço positivo para o engajamento, muitas vezes é simplesmente uma moeda social sem sentido para manter as pessoas na plataforma por mais tempo; mais um gesto vazio do que uma expressão de gratidão. Essa sensação de que os botões de “curtir” fracassaram foi discutida pelos próprios engenheiros que os criaram para o Facebook e o Twitter.

Este estudo funciona como pesquisa preliminar sobre um assunto que tem sido amplamente ignorado. É muito difícil determinar como exatamente essas empresas devem reinventar suas plataformas para criar comunidades mais saudáveis. Mas é apenas um pequeno passo, e provavelmente não há escolha de design infalível, que seja uma solução abrangente para encorajar todos os usuários a agir com gratidão. Mesmo assim, é uma maneira de pensar que é desesperadamente necessária em um momento em que fóruns estão sendo descrito como uma “fossa de ódio”.

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