_Cibersegurança

Relatório da CIA conclui que Rússia tentou ajudar Trump a vencer com ciberataques

Várias fontes anônimas disseram que Rússia teve alguma participação no pleito dos EUA. O problema é que não descobriram se foi uma participação direta do Kremlin

Após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenar que fosse feito um relatório sobre “ciberataques e intervenção estrangeira nas eleições de 2016”, múltiplas fontes estão dizendo a várias publicações que a Rússia usou ferramentas hacker para beneficiar a eleição de Donald Trump e prejudicar sua oponente, Hillary Clinton. As revelações levaram a uma série de acusações de que o partidarismo prejudicou a segurança nacional dos Estados Unidos.

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Na noite de sexta (9), o Washington Post publicou uma reportagem que diz que “a CIA concluiu em uma avaliação secreta que a Rússia interveio nas eleições de 2016 para ajudar Donald Trump a vencer a eleição”. Usando majoritariamente fontes anônimas ligadas ao assunto, o jornal afirma que a Rússia hackeou dados das convenções dos partidos Republicano e Democrata, mas só resolveu vazar dados referentes ao partido da situação, pois queriam ajudar a campanha de Trump.

Diz a reportagem:

Agências de inteligência identificaram pessoas com conexões com o governo russo que forneceram ao WikiLeaks milhares de e-mails hackeados do Comitê Nacional do partido Democrata e de outras pessoas, incluindo do coordenador de campanha de Hillary Clinton, segundo funcionários do governos dos EUA. Estes funcionários descreveram os participantes da operação como atores da comunidade da inteligência e parte de uma operação russa para aumentar as chances de Trump e prejudicar Hillary.

“Esta é a avaliação da comunidade da inteligência: o objetivo da Rússia aqui era favorecer um candidato em detrimento de outro, no caso ajudar Trump a ser eleito”, disse um funcionário sênior do governo em uma apresentação feita para ser apresentada aos senadores. “Esta visão [da questão] é consensual.”.

Ainda da mesma matéria do Washington Post:

A CIA compartilhou sua última avaliação com alguns senadores em uma sessão a portas fechadas no capitólio durante a última semana, na qual funcionários da agência citaram um crescente corpo de inteligência com várias fontes. Funcionários da agência disseram aos senadores que agora estava “bastante claro” que a eleição de Trump era o objetivo da Rússia, segundo fontes que falaram sobre condição de anonimato.

Não houve consenso entre as 17 agências de inteligência que a Rússia estivesse diretamente envolvida em hackear ou manipular a eleição dos EUA por causa de algumas questões que não foram respondidas. Um exemplo citado é que não há evidência se alguém do Kremlin estava diretamente instruindo os hackers para obter dados do comitê do partido Democrata para enviar ao WikiLeaks.

Obama queria expor a Rússia

Outra bomba na reportagem do Washington Post é que o presidente Obama queria deixar mais claro as manipulações operadas pela Rússia. No entanto, ele ficou com medo de que tudo pudesse parecer que ele estava operando em favor de Hillary Clinton. A solução dele foi fazer um encontro secreto com políticos para discutir um “comunicado bipartidário solicitando que autoridades estaduais e locais peçam ajuda federal para proteger o processo de registro de voto e máquinas de votação de invasões russas.”

Diz a reportagem do Washington Post:

Os líderes democráticos presentes no encontro concordaram unanimemente sobre a necessidade de lidar com essa ameaça. Os republicanos, no entanto, estavam divididos, pelo menos dois legisladores republicanos estavam relutantes em aderir ao solicitado pela Casa Branca.

De acordo com várias autoridades, Mitch McConnell levantou uma série de dúvidas estruturais e deixou claro ao governo que ele consideraria qualquer esforço da Casa Branca em desafiar a Rússia publicamente como um ato de política partidária.

Alguns republicanos presentes também se opuseram à ideia de levar a ideia ao público com alegações tão explosivas durante os estágios finais de uma eleição. Seria um movimento que apenas despertaria a desconfiança do público e jogaria o problema nas mãos de Moscou.

Com a vitória de Trump, a esposa de McConnell, Elaine Chao, foi nomeada secretária de transporte pelo candidato eleito.

Mais fontes anônimas confirmando informações

Desde a publicação da reportagem na noite de sexta, mais fontes concordaram em falar com outros veículos de comunicação. “Nós agora temos bastante certeza de que eles [os russos] hackearam o comitê do partido Democrata e do partido Republicano, e eles propositalmente não vazaram nenhum documento sobre os republicanos”, disse uma autoridade ao New York Times.

“Isso foi um grande indício sobre o objetivo deles”, disse uma outra autoridade à Reuters. “Se tudo que eles quisessem fazer fosse apenas descreditar nosso sistema político, por que publicar falhas de apenas um partido, especialmente quando você tem um alvo como Trump?”

No geral, isso é o que sabemos até o momento: muitas autoridades falando anonimamente sobre “pistas sobre as intenções da Rússia”. Enquanto não temos uma conexão direta do caso com o governo russo, o NYT tem uma explicação vaga de como a agência vê quem estava por trás de vários hackings durante a eleição:

Autoridades da CIA e de empresas privadas de cibersegurança acreditam que o comitê do partido Democrata foi hackeado por duas unidades russas distintas. Acredita-se que uma, chamada de “Cozy Bear” ou “A.P.T. 29”, como é conhecida por alguns especialistas de segurança do ocidente, gastou meses invadindo as redes dos computadores do comitê do partido Democrata, além de instituições políticas e de governos, porém, nunca revelou nenhum documento. (APT significa “Advanced Persistent Threat”, ameaça persistente avançada, que geralmente descreve um ataque de intrusão sofisticado patrocinado por algum estado.)

Acredita-se que outra unidade, conhecida como “Fancy Bear” ou “APT 28”, criou duas outras ameaças na internet, Guccifer 2.0 e o DCLeaks, para tornar público documentos do partido Democrata. Muitos destes documentos foram fornecidos ao WikiLeaks, que os publicou nas semanas anteriores ao pleito.

Julian Assange, do WikiLeaks, disse que “o governo russo não foi a fonte [dos documentos]” durante uma entrevista em inglês ao Russia Today, um meio de comunicação controlado pela Rússia.

Sem mais detalhes ou evidências, é difícil aceitar afirmações assertivas de que Moscou coordenou ciberataques com o objetivo de manipular a eleição ou de que eles preferiam um candidato em específico. Mesmo se tivessem feito, uma autoridade disse à Reuters que “a conclusão da análise da inteligência sobre as intenções da Rússia não significam que a comunidade da área de inteligência acredite que os esforços de Moscou alteraram ou afetaram significantemente o resultado da eleição.”

Alguns ainda especulam que o presidente russo só queria disseminar a discórdia e minar a confiança na eleição dos Estados Unidos ou nos processos políticos. Se este é o caso, com certeza, eles estão conseguindo o que queriam.

Todas as decisões tomadas por Trump vão ser questionadas. As pessoas se perguntam, dentro e fora dos Estados Unidos, se Putin ou alguém mais inteligente que Trump está manipulando as decisões do candidato eleito. Se ele continuar cuidando de seu império global de negócios, todo mundo vai perguntar como cada uma de suas decisões vão fazê-lo mais rico. Da mesma forma, diplomatas estrangeiros serão observados para sabermos se estão fazendo Trump mais rico para ganharem mais influência com ele. Ah, e no meio de tudo isso, há toda a questão dos colégios eleitorais e a disputa sobre a recontagem dos votos antes que haja a posse.

Além disso, a administração atual parece ter medo de acusações de partidarismo a tal ponto que está segurando informações importantes de inteligência sobre ciberataques provenientes de governos estrangeiros. Isso é o suficiente para que pensemos sobre a necessidade de haver uma maior transparência e esclarecimento de que os Estados Unidos não estão tratando de forma adequada a segurança virtual.

Por ora, isso é apenas uma briga entre os dois principais partidos dos EUA. A equipe de transição de Trump liberou um comunicado negando completamente o que foi dito pelas fontes da agência de inteligência. O comunicado diz: “Estas são as mesmas pessoas que disseram que o Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. A eleição acabou há um tempo com uma das maiores vitórias de colégios eleitorais da história. Agora é tempo de mudar e ‘fazer a América grande novamente’”. Ou seja: nunca confie na CIA! E talvez, nunca confie em ninguém

A única esperança de esclarecimento sobre este assunto é se a administração Obama tornar público o que eles sabem. Mas se dependermos das ações atuais do governo, eles só vão pedir para os cidadãos dos Estados Unidos confiarem neles.

[Washington Post, The New York Times, Reuters]

Foto do topo por Pablo Martinez Monsivais/AP

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