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Restrição de banda: como funciona o limite de downloads ao redor do mundo

O termo traffic shaping é bem conhecido por você, amante de tecnologia, mas ainda não é tão discutido no Brasil. Já nos EUA e em outros países, a discussão em torno da limitação de downloads para não afetar a banda larga da operadora está pegando fogo. O belo passado da internet ilimitada, em vários lugares, […]

O termo traffic shaping é bem conhecido por você, amante de tecnologia, mas ainda não é tão discutido no Brasil. Já nos EUA e em outros países, a discussão em torno da limitação de downloads para não afetar a banda larga da operadora está pegando fogo. O belo passado da internet ilimitada, em vários lugares, parece não mais existir. Entenda o que está acontecendo em vários países.

Esqueça aquela liberdade em baixar quantos gigas você quiser de filmes em MKV 1080p, ou aquele distro gigantesco de Linux. Nós vivemos em tempos diferentes. Cada bit e byte que você transmite tem uma etiqueta de preço: você pode sentir que está pagando por um serviço eliminado desde que você ignore os números que mostram como sua operadora de banda larga fica nervosinha depois de tantos downloads.

Mas a coisa está tão feia assim? Para entender, devemos analisar o cenário atual de vários locais do planeta. Acompanhe.

Estados Unidos

No país, as três maiores operadoras de banda larga — AT&T, Comcast e Cox — andam pegando pesado na retenção de banda. A primeira delas é a que mais impõe restrições, mesmo sendo a segunda maior provedora de internet do país. Em um plano básico, por exemplo, de 20 dólares mensais, o usuário só pode baixar até 150GB. Já a Comcast, a gigantesca empresa que lidera o mercado, limou a palavra “ilimitado” de seus planos e agora coloca como limite mensal 250GB de dados baixados ou subidos — que, segundo a empresa, é ultrapassado por “menos de 1%” de sua base de usuários. O mesmo valor é imposto pela Cox, a terceira via de banda larga no país.

Canadá

O país também é dividido em três grandes operadoras: Rogers, Shaw e Bell. A Rogers tem, talvez, a política mais restrita de banda larga do mundo. Dependendo do serviço contratado, você pode usar de 2GB (sério) a 175GB por mês — com valores que variam de uS$28 a US$100. Exceder a cota pode custar US$5 por gigabyte (no plano de 2GB) a US$0,50 por gigabyte. A Bell oferece 25GB mensais (em planos de US$25 a US$35 mensais), e o serviço de fibra óptica varia de 25 a 75 gigabytes mensais (US$35 a US$56 mensais).

Reino Unido

Na terra da Rainha, a AOL não é só um site, mas também uma operadora de banda larga. Quer dizer, no fim das contas, a TalkTalk que oferece o serviço, mas é aí que mora o sucesso do formato: por US$30 mensais, os usuários podem fazer um plano duplo de internet e celular, chamado de TalkTalk Essentials. Nesse caso, o limite é de 40GB. Mas o verdadeiro milagre vem no plano TalkTalk Plus: ele é ilimitado. E, pelo que pudemos notar, é ilimitado mesmo. Pode baixar de tudo… desde que você esteja disposto a pagar US$44 mensais. O curioso é que a TalkTalk não dá exatamente a velocidade contratada, dizendo apenas que é “a velocidade mais veloz que podemos oferecer”.

Outras operadoras inglesas, como a BT e a Virgin Media também oferecem, nos planos mais caros, internet ilimitada. No caso da BT, ela avisa que “controla” a velocidade” para aplicativos “não críticos” durante os horários de pico. Já no caso da Virgin Media, há um grande asterisco no “ilimitado”, dizendo que a operadora se sente no direito de proibir downloads de itens ilegais e que violem regras, além de práticas de download “inconvenientes aos outros usuários de internet”. Ficou bem claro que a vida de BitTorrent por lá não é tão simples, não é mesmo?

Japão

É difícil dizer com precisão os limites de banda do Japão, basicamente porque o escritor desta matéria não entende muito a língua, mas pudemos encontrar alguns detalhes importantes sobre o uso de internet no país. A operadora NTT Communications publicou um alerta aos usuários de seu serviço de fibra óptica (com custo aproximado de US$48 a US$82) dizendo que a empresa cogita restringir o uso para aqueles que passarem de 30GB de consumo diário. Pense bem: 30GB. Pelas contas, isso dá quase 1TB por mês. O que esses japoneses andam baixando? A internet toda?

Austrália

Como será a internet na terra do Silverchair? Surpresa: ela varia muito, claro. A TPG oferece planos mensais de US$10 a US$30. O plano mais barato tem um limite de banda, mas o plano de US$30 quebra todas as amarras: download e upload ilimitado. Isso, claro, desde que você também tenha uma linha telefônica. Pela internet pura e simples, é preciso desembolsar US$60 para conexão ilimitada. Já a Optus oferece internet cabeada por US$80 mensais, com velocidade média de 20Mbps. Neste caso, há um limite de 250GB. Ultrapassando o valor, o usuário deve escolher entre uma conexão ultra-mega-lenta de 64Kbps a 256Kbps até o fim do mês, ou assinar o plano com telefone e internet com 1TB mensal de banda por US$129.

Nova Zelândia

Nós já ouvimos grandes boatos de como a internet na Nova Zelândia é digna de uma ditadura retrógrada, graças às políticas e preços impostos pelas operadoras de banda larga. Será?

Bem, podemos dizer que sim. A operadora WorldNet cobra algo entre US$31 a US$45 (o valor varia pela duração do contrato) por um mísero gigabyte de uso — sério. Mas se você precisa mais do que e-mail, dá para contratar um plano maior, veja só! Uma porção de 50GB mensais custa de US$56 a US$70, e a liberdade total custa de US$99 a US$109. Pelo menos a operadora dá aos que chegam ao limite a opção de pagar por gigabytes extra (5GB por US$10, por exemplo) ou ficar com a internet a 64Kbps e demorar cinco horas para baixar um emulador.

E o Brasil?

Após todos esses cenários diferentes — uns paradisíacos, outros catastróficos — chegamos no Brasil. Como funciona por aqui? Bem, a solução é mais esperta e óbvia do que parece: não há limite de download de gigabytes em praticamente nenhuma operadora, mas todas, uma hora ou outra, praticam traffic shaping.

Mas o que mais incomoda no Brasil, deverdade, é o preço cobrado pelo serviço supostamente prestado. O valor para a assinatura da internet, apenas da internet, continua altíssimo, e as operadoras fazem de tudo para empurrar um pacote com telefone. Até aí, aceitamos, mas o problema reside na velocidade: a Info deste mês usou mais de 11 mil medições de velocidade com quase 6 mil usuários no Brasil e constatou aquilo que já imaginávamos.

A velocidade média dos testes foi de 4,4Mbps para download e míseros 637Kbps para upload. A diferença entre velocidade entregue e velocidade contratada é cruel: em um plano de 20Mbps, a velocidade média de download é de 14Mbps, e a de upload é de 1,3Mbps. Nos planos mais básicos, a situação é a mesma. (Você pode conferir o mapa completo clicando aqui.) Basicamente, não há limite de download, mas, bem, como alguém irá baixar (e subir) a internet inteira, como os japoneses, se não há banda suficiente para isso? Imagine só como ficará o cenário quando Netflix e outros serviços de streaming — que aumentaram a dor de cabeça das operadoras ao redor do globo — chegarem de verdade por aqui.

No geral, olhamos com inveja mesmo para planos com limite de banda, que pelo menos entregam a velocidade prometida. Só podemos torcer para não virarmos uma Nova Zelândia.

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