[Review] LG G8X ThinQ Dual Screen: o preço e a praticidade de ter um celular de duas telas

A LG entrou na onda das telas duplas, mas qual a utilidade desta solução de design da marca? O quanto que isso funciona? Respondemos isso e mais neste review.
Fotos: Alessandro Feitosa Jr./Gizmodo Brasil

Já faz um tempo que as fabricantes de smartphones decidiram que era preciso abrir mão do formato consagrado dos smartphones. Em um primeiro momento, isso significou abrir mão da tela retangular de proporção 16:9. O display invadiu as molduras, e as bordas ganharam recortes para abrigar a câmera frontal.

Isso, porém, ainda era pouco. Algumas fabricantes passaram a explorar materiais flexíveis para fazer aparelhos dobráveis, com telas de dimensões que não caberiam no bolso de outra forma. Houve duas abordagens: 1) aparelhos com dimensões de tablets que podiam ser dobrados e ficar do tamanho de smartphones comuns (Galaxy Fold) 2) aparelhos com dimensões de smartphones alongados que podiam ser dobrados e ficar bem pequenos, como os antigos celulares flips (novo Moto Razr e Galaxy Z Flip).

No meio disso tudo, a LG decidiu tomar um rumo praticamente independente para tentar reimaginar o smartphone do futuro. Em vez de apostar em materiais flexíveis, ela preferiu adotar uma segunda tela que se encaixa em um smartphone comum para adicionar funções extra. O LG G8X ThinQ Dual Screen é o segundo aparelho a testar a viabilidade desse modelo — e a LG já colocou o seu terceiro no mercado internacional.

Eu usei o G8X por dois meses e conto como é andar por aí com um smartphone de duas telas.

O smartphone

O G8X em si é um aparelho bem parecido com o G8S, que testei anteriormente. O desempenho é praticamente equivalente: o Snapdragon 855 e os 6 GB de RAM dão conta do recado muito bem e entregam uma ótima velocidade em praticamente todas as tarefas.

A bateria é um pouco maior, com 4.000 mAh de capacidade, o que é compreensível, já que o aparelho precisa ter energia suficiente para carregar uma segunda tela. Isso é suficiente para fazer durar um dia com bastante folga.

O conjunto de câmeras é mais simples. Na parte traseira, há duas lentes, uma principal e uma ultrawide, que entregam ótimas imagens — como você pode ver na galeria abaixo, com cliques tirados ainda antes da quarentena –, apesar de não terem uma resolução muito grande. Na parte frontal, nada da Z Câmera de reconhecimento facial do G8S. A câmera simples faz o recorte na tela ser bem menor, e cabem mais ícones na barra de notificações.

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Este é um resumão do G8X enquanto smartphone comum. Só que ele não é um smartphone comum. A LG vende o aparelho com um acessório chamado Dual Screen.

A Dual Screen

A Dual Screen é uma capa que encaixa no aparelho principal e agrega uma segunda tela dobrável ao lado do aparelho. Essa segunda tela funciona pela conexão USB-C e tem as mesmas 6,4 polegadas e a mesma resolução Full HD+ da principal. Ela tem até mesmo um recorte para câmera frontal no mesmo lugar, mesmo sem ter uma câmera frontal.

A capa tem também um encaixe para um conector magnético para recarga que vem com o aparelho e se conecta ao cabo USB-C. Assim, você pode carregar seu celular sem precisar desmontar o acessório.

A solução de uma segunda tela tenta entregar mais espaço para rodar mais de um app ao mesmo tempo. Ela também libera outros usos mais complexos sem precisar investir em tecnologias como vidros e painéis flexíveis.

Por um lado, isso confere uma versatilidade interessante. O G8X pode ser usado de forma independente em algumas ocasiões e com a Dual Screen em outras. Falando em português claro: você não precisa levar um trambolho no bolso para todo lado.

Por outro lado, o fato de serem duas telas separadas e não uma tela grande à la Galaxy Fold mata a possibilidade de levar no bolso uma pequeno tablet para consumir conteúdos como séries, filmes e games.

O lado de fora da capa tem uma tela monocromática que mostra notificações e relógio. Ela é bem bonita, mais pouco prática: só mostra os ícones das notificações, o que é pouca informação. Seria bacana uma solução como a do Galaxy Z Flip, que tem uma tela colorida que serve até mesmo para tirar fotos (o que é um grande problema do G8X, como falarei adiante).

Um dos grandes problemas do LG G8X (e, aparentemente, de todos os aparelhos dobráveis) é que é bastante difícil abri-los com uma mão só. Essa é a grande diferença deles para os celulares de flip de 15 anos atrás. Caso você não se lembre, eles eram bem menores, e suas dobradiças contavam com molas para facilitar o fechamento e a abertura — até com um dedo era possível abrir.

No caso do aparelho de duas telas da LG, eu acabei achando mais fácil deixá-lo fechado “ao contrário” no bolso — pense em como você abria um caderno de espiral para colocá-lo em cima da mesa para escrever. Em vez de a segunda tela ficar de frente com a tela do aparelho principal, eu a girava completamente e a deixava atrás do aparelho. Assim, quando precisava usar a segunda tela, era só desdobrá-la para frente.

Felizmente, o software é inteligente e desliga a Dual Screen quando ela está nessa posição de 360°. Dessa maneira, quando eu estava de pé no ônibus, por exemplo, podia usar o aparelho com uma mão só sem grande dificuldade.

Mesmo assim, a capinha com a segunda tela deixa o G8X bem pesado e volumoso dentro do bolso da calça. Às vezes, eu preferia desconectá-lo e sair só com o aparelho principal em situações que eu sabia que não ia usar a tela secundária — no horário de almoço ou para encontrar os amigos no fim de semana, por exemplo.

Até porque a capa atrapalha na hora de usar a câmera. Esta é a grande desvantagem de deixar o aparelho fechado ao contrário, aliás: a segunda tela bloqueia a câmera do celular.

Com o acessório conectado, você tem duas alternativas para usar a câmera, e as duas são ruins, cada uma à sua maneira.

A primeira é deixar segunda tela aberta e ficar com um negócio do tamanho de dois celulares na mão. A segunda é abrir completamente o aparelho e usar a câmera frontal, o que também é ruim, porque o aparelho mostra a imagem nas duas telas, e não é nada discreto ficar apontando uma tela acesa para as coisas.

Usando (de várias formas)

A operação da segunda tela é um pouco confusa. O software da LG deixa um botão virtual suspenso na tela do aparelho principal. Ao tocar nele, você tem opções como desligar ou ligar a tela secundária (óbvia) e trocar os apps das duas telas (ok) e mostrar tela inicial na Dual Screen e vice-versa (que eu demorei algum tempo para entender que “tela inicial” aqui queria dizer “tela principal”).

Mas você também pode simplesmente esquecer estes botões e fazer o que eu fazia: apertar o botão de multitarefas na tela secundária e escolher o app que você quer ver lá.

Assim como no G8S, a LG manteve o recurso de usar dois apps dividindo a tela no G8X apesar de o próprio Android ter abandonado essa opção. E dá para fazer isso nas duas telas do aparelho, rodando quatro apps ao mesmo tempo! Não sei por que alguém faria isso, mas tá aí, dá para fazer.

E o que dá para fazer com duas telas? Muita coisa, mas muita coisa mesmo. Nem tudo é legal de fazer, mas é um mundo de possibilidades.

Consultas rápidas

A coisa que eu achei mais útil, de longe, é consultar informações na segunda tela sem precisar fechar o app principal. Ver uma letra de música sem precisar parar o YouTube ou fazer uma pesquisa sem fechar o e-mail que você está escrevendo, por exemplo.

Eu achei particularmente útil quando precisei fazer uma transferência de dinheiro para um amigo e pude colocar lado a lado a mensagem dele no WhatsApp com as informações da conta e o app do meu banco. Não precisar ficar alternando entre apps, ou anotando números no papel, ou copiando e colando informações é ótimo. É raro eu precisar disso, mas imagino que quem trabalha com comércio ou pagamentos pode aproveitar bastante as duas telas.

Também é muito bacana poder deixar a segunda tela em um mapa, quando você está no ônibus indo para algum lugar que não conhece muito bem, e continuar usando o aparelho normalmente.

Streaming na segunda tela: muita informação

Um dos primeiros usos que eu imaginei para o LG G8X quando comecei a testá-lo era poder ver streaming e dar uma olhadinha nas redes sociais ao mesmo tempo. Eu vejo muito futebol e basquete enquanto xingo, corneto, faço piada e leio comentários de quem entende de verdade de esporte no Twitter.

Na prática, porém, achei tudo meio caótico. A dinâmica de ver uma coisa na TV ou no computador e aproveitar os intervalos para ver o Twitter funciona bem. Deixar um feed rolando em uma segunda tela, por outro lado, acaba sendo uma distração completamente desnecessária.

Navegador: legal!

Uma das mudanças de software que a LG empreendeu no G8X foi colocar pré-instalado um navegador customizado para o aparelho, o Brave. Ele tem recursos interessantes, como, por exemplo, navegar em uma tela e abrir os links na outra. Assim, você consegue navegar em uma lista de produtos em uma loja e ir vendo detalhes de cada um deles sem perder de vista as outras opções.

Na prática, leva um tempinho até entender qual o ícone que ativa esse modo de navegação. Depois disso, porém, a experiência é bem agradável e bastante útil.

Teclado: pequeno demais para notebook, grande demais para smartphone

Um dos usos promovidos pela LG é colocar o G8X como um micronotebook, com uma das telas servindo de teclado.

Na prática, eu não gostei disso. Primeiro que as duas telas são alongadas demais, e você acaba com pouco espaço para, por exemplo, editar texto, já que o formato acaba mostrando poucas linhas por vez. Talvez quem trabalhe mais com planilhas ou código tenha uma opinião diferente sobre esse recurso.

E 6,4 polegadas é espaço de mais para digitar com polegares e espaço de menos para digitar com todos os dedos como em um teclado de computador. Além disso, você precisa usar o teclado nativo da LG para conseguir dividir as telas corretamente. Ele não é ruim, mas não é tão bom quanto um Gboard ou um SwiftKey.

Games: legal, mas não é um joystick

Outro uso promovido pela LG é usar uma das telas como joystick. Novamente, há algumas dificuldades por causa do software. Você precisa abrir o jogo usando um app da empresa, e não é tão intuitivo escolher em que tela o joystick vai aparecer e em qual o game vai passar (dica: use a tela do próprio celular como joystick, porque ele é pesado e não vai ficar suspenso enquanto você segura a secundária secundária).

As opções de controles são bem variadas. Tem até um volante virtual, o que é meio sem sentido — volantes são legais quando você pode pegá-los com as duas mãos… qual o ponto de dirigir um volantinho virtual usando dois dedos? Mas tem também layouts diferentes de botões e direcionais, e até a opção de montar o seu próprio.

A Gameloft é uma das parceiras da LG e prometeu compatibilidade para títulos como a série Asphalt, e o esquema também funciona para jogos grandes como Fortnite. Fora disso, porém, não há garantias de que os games funcionem: eu tentei com FIFA e não consegui fazer funcionar.

Dito isso, mesmo liberando mais espaço da tela para o jogo em si, a experiência ainda fica abaixo de jogar usando um controle real. Não vai ser este smartphone que vai substituir o seu Switch.

Vídeos: nem pensar

Em alguns apps, como YouTube e Chrome, a Dual Screen oferece a opção de estender a interface pelas duas telas. Porém, ao contrário de aparelhos de tela flexível, os dois displays do G8X não ficam unidos e há uma enorme dobradiça entre eles. Você não vai querer ver vídeos ou navegar na internet assim.

Apoio: qualquer suporte resolvia, mas é ótimo mesmo assim

O fato de andar sempre por aí com uma capinha acaba sendo útil de um modo bem besta para usar o aparelho apoiado na mesa. Quando tinha um jogo de futebol rolando e eu estava fazendo alguma coisa no computador ou estava com fome e ia almoçar, eu podia deixar o G8X em um ângulo agradável e continuar assistindo. Lógico, qualquer aparelho com uma capa ou suporte adequado também resolve, e você não vai precisar comprar um celular de duas telas só pra isso.

Conclusão

Julgar o G8X por um critério de “vale a pena?” é meio sem sentido. Ele é um aparelho único, para o bem e para o mal. Com preço sugerido de R$ 6 mil, ninguém vai gastar todo esse dinheiro em um desses porque ele oferece um custo-benefício melhor que de um iPhone ou de um Galaxy S/Note. Você só gasta esse dinheiro se você quer muito as duas telas; e, se você quer muito as duas telas, essa é sua única opção.

Um dos pontos fracos do G8X esbarra nessa tendência de imaginar formatos diferentes para os celulares. O negócio de todos os smartphones terem o mesmo jeitão tornava a experiência de software de todos eles muito próxima.

Quando formatos inovadores começam a aparecer, o software responsável por fazer a coisa funcionar sai das mãos do Google (que é quem entende melhor disso) e vai para as fabricantes (que podem cometer deslizes mais graves no desenvolvimento).

É um pouco o caso desse aparelho: o software que comanda as duas telas merecia uma atenção maior na parte de usabilidade, e a compatibilidade com games pode deixar a desejar porque não vai ser todo desenvolvedor que vai trabalhar tendo em mente um formato tão específico.

Quanto ao hardware, seria bacana também se a capa tivesse uma tela externa com mais recursos, ainda que o aparelho ficasse mais caro. Afinal de contas, já estamos no topo de linha mesmo, né?

O LG G8X me deu mais praticidade para algumas tarefas, sim, como as consultas rápidas e o navegador. Mas não era nada que eu não podia fazer no meu notebook, em casa ou no trabalho. Acredito que ele pode ser mais útil para quem tem um trabalho que exige mais mobilidade. Para mim, um smartphone de tela única resolve meus problemas.

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