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[Review] Motorola Edge+: entrando na briga de gente grande

Passei algumas semanas usando o modelo maior, o Motorola Edge+, que tem preço sugerido de R$ 7.999 e conto aqui a minha experiência.

Mão segurando um Moto Edge+

Alessandro Feitosa Jr./Gizmodo Brasil

Faz um tempo que a Motorola não compete no segmento de smartphones premium, daqueles caros que atualmente custam mais de R$ 4.000. Tá certo que a Motorola também lançou o caríssimo Razr, smartphone dobrável, mas o modelo cai mais em um contexto de conceito e vanguarda e não de um produto de alto desempenho.

Em 2020, a companhia decidiu mudar isso e trouxe ao mundo o Motorola Edge e Edge+, aparelhos potentes, com uma telona curva e um conjunto com três câmeras na traseira. Passei algumas semanas usando o modelo maior, o Motorola Edge+, que tem preço sugerido de R$ 7.999 e conto aqui a minha experiência.

O que é?
Smartphone potente da Motorola, que marca a reestreia no segmento de modelos caríssimos.
Preço
R$ 7.999.
Curti
Tela, visual, bateria e desempenho
Não curti
Preço, câmera um pouquinho aquém da concorrência e faltam pequenos ajustes de software

Alguns trechos desta análise podem parecer um pouco repetidas em relação ao review do Galaxy S20 Ultra, não em termos de qualidades ou defeitos de cada aparelho, mas por estarem em uma faixa preço bastante… Segmentada, digamos assim. São pouquíssimas as pessoas que podem pagar R$ 8.000 em um celular e, mesmo entre aquelas que podem, ainda tem que ver se estarão dispostas, né?

E porque é esquisito testar um celular desse naipe em meio a uma pandemia. O Edge+ tem uma autonomia de bateria monstruosa, por exemplo, mas eu nem saio de casa para aproveitar o tanque cheio do aparelho. Pelo menos se eu ficasse sem energia elétrica, teria algo para me entreter à noite.

Deixando de lado essas questões, vamos lá: o Motorola Edge+ parece ter acumulado os números dos smartphones topo de linha que a Motorola não lança pelo menos desde 2017.

Tela e construção

A tela é FullHD de 6,7 polegadas com taxa de atualização de 90Hz e certificação HDR10+. Um dos destaques do modelo é a tela curva em 90 graus, que vai um pouco além de outros modelos com esse estilo de bordas, como o Galaxy S20. O aparelho da Motorola quase não mostra bordas quando visto de frente, o que torna o seu design bastante interessante.

Ele é bem comprido, com proporção de tela de 19.5:9 e dá a sensação de ser compacto na largura. Não é dos celulares mais finos que eu usei nos últimos tempos, com 9.6 mm de espessura, nem dos mais leves (202 g). Isso dá um aspecto de robustez, mas pode incomodar um pouco ao carregar o aparelho no bolso.

Somando isso ao vidro traseiro que ofusca os reflexos, eu achei o Motorola Edge+ bonitão, um aparelho de 2020, sem atrasos em seu visual. Ah, e ele tem uma entrada de fone de ouvido convencional, raridade nos aparelhos mais caros de hoje em dia.

O display, em termos de cores, brilho e nitidez, é muito bom quando visto de frente. Achei curioso que as bordas ficam ligeiramente mais escuras, na parte da curvatura. Quando você olha de lado, a coisa de inverte: a tela lateral brilha com força, enquanto a parte frontal parece um pouco escurecida. No geral, isso não é um grande problema.

A questão da tela curva do Motorola Edge+ é polimento de software em alguns aplicativos. Os elementos de uma página web, por exemplo, se esticam até o limite do display e não necessariamente param no início da curva – isso gerou uma certa estranheza ao ler artigos, já que o conteúdo parecia estar com um leve zoom aplicado. O mesmo acontecia ao navegar pelo Instagram, Twitter e outras redes sociais.

Há uma opção nas configurações em que você consegue desabilitar essa exibição até as bordas completamente ou para alguns aplicativos específicos. Resolve parte do problema, mas qual é a intenção de ter um aparelho com essa característica se é para desligar a opção? A Motorola poderia adaptar a exibição para um modo ligeiramente mais confortável, que adicionasse uma pequena margem às bordas.

Em alguns momentos usei as bordas como um “scroller”, rolava a página só tocando nas laterais do celular. É meio bobo, mas achei legal. O problema é que esses celulares de tela curva são mais difíceis de mexer quando estamos deitados porque a mão que segura o aparelho às vezes interfere na rolagem da página, dá um zoom ou toque desnecessário – surpreendentemente, não passei por essas experiências com tanta frequência quanto foi no S20 Ultra, talvez porque estivesse mais treinado.

A Motorola faz propaganda das bordas da tela mostrando que ela poderia servir como os gatilhos de alguns jogos. Este tipo de configuração é possível por causa do modo Gametime, um sistema da própria empresa para game que permite bloquear notificações e chamadas, além de configurar os “Botões L e R”. Ativando o recurso, aparecem os “tais botões na borda”. Usá-los vai da preferência do jogador. Em jogos de corrida, achei que eles não faziam muito sentido, porém em jogos de tiro podem ser interessantes.

Além disso, há as bordas interativas que permitem adicionar alguns atalhos no cantinho da tela e a opção luzes nas bordas, que acende as laterais ao receber notificações. Funcionalidades protocolares.

Câmeras

A aposta das fabricantes quando o assunto é câmera parece estar na quantidade de sensores. O negócio agora é oferecer versatilidade para o usuário: um pouquinho de zoom óptico aqui, uma grande angular ali e, no caso da Motorola, uma opção para fotos macro, aquelas bem de pertinho.

O sensor principal tem números gigantes: 108 MP com a tecnologia QuadPixel com estabilização óptica – é o mesmo sensor utilizado em concorrentes como o Galaxy S20 Ultra. A lente teleobjetiva tem resolução de 8 MP e zoom óptico de 3x, também com estabilização óptica. Há uma terceira lente híbrida de 16 MP, que capta imagens como uma ultra-grande angular, mas também permite cliques em modo macro. Completa o conjunto o sensor ToF (Time of Flight), ajudando a captar mais informações do ambiente para fotos no modo retrato, por exemplo. Para selfie, o sensor é de 25 MP.

Essa versatilidade é interessante na prática e permite cliques criativos com ótima qualidade, especialmente em cenas com bastante iluminação. Eu não sou muito fã do zoom de 3x, como já comentei na análise do Motorola One Zoom – acho que é zoom demais para aproximar algumas cenas em um estádio de futebol do outro lado da arquibancada ou show, por exemplo; enquanto que também é zoom de menos para capturar com detalhes um objeto menor ou que esteja mais distante. Para o uso que costumo fazer das câmeras (ainda que eu não esteja fotografando nada por causa da pandemia), parece não se encaixar muito, mas certamente tem seu valor.

Uma característica interessante do software da câmera do Motorola Edge é a opção de guias que indicam se você está posicionando a foto reta ou se o clique vai sair meio torto. É como um nível, um prumo, que te ajuda a enquadrar melhor – o celular tem um módulo de resposta háptica mais parecido com o do iPhone, em vez da vibração comum que encontramos nos celulares e é esse retorno que te ajuda a perceber o desnível, além de uma marcação na tela.

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As fotos acima são um oferecimento de Guilherme Tagiaroli, que ficou um tempo com o aparelho e saiu por um tempo para tirar as fotos na rua. Repare que a maioria das fotos são muito boas, até mesmo aquelas capturadas de noite. Há alguns pequenos deslizes nas fotos noturnas tiradas com as lentes secundárias, seja por perder definição ou adicionar mais ruído.

O Edge+ não é o celular ideal para quem quer gravar vídeos constantemente.O aparelho até grava até 6K, mas a taxa de quadros por segundo é limitada a 30 fps. Para gravar a 60 fps, só no FullHD.

Bateria

A Motorola não costuma decepcionar com a autonomia de bateria. A história não é diferente para o Edge+, que tem uma vida útil bastante longa. Considerando os padrões de pandemia, geralmente eu só carregava o aparelho a cada um dia e meio de uso, às vezes a cada dois.

Quando exigi mais do aparelho assistindo vídeos e filmes, ele aguentou tranquilamente um dia inteiro e certamente vai oferecer um desempenho sólido quando as coisas voltarem ao normal.

Trata-se de uma bateria grande, de 5.000 mAh. A caixa vem com adaptador de 18W que ajuda a reabastecer o tanque sem precisar esperar uma eternidade e o aparelho também tecnologia de carregamento sem fio rápido (15W) e carregamento reverso (5W).

Desempenho

Fazia tempo que eu não pegava um Motorola tão potente. O bicho é rápido mesmo, bastante competente e bate de frente com todos os modelos desta faixa de preço. Também, com um processador Snapdragon 865, GPU Adreno 650 e 12GB de RAM, é difícil ficar para trás.

A taxa de atualização de 90Hz dá uma fluidez às animações muito agradável e que parece não sacrificar tanto a autonomia de bateria.

É aquele aparelho que vai mandar bem em qualquer tipo de tarefa, permitirá rodar jogos tranquilamente e alternar entre aplicativos sem engasgos. A gente está em um ponto de performance que olhar para esses números significa também projetar a durabilidade e vida útil de um dispositivo. Com potência de sobra podemos ficar mais seguros em manter o mesmo smartphone por mais anos – ainda mais com um aparelho compatível com o 5G, como é o caso do Edge+ –, esperando saltos maiores de inovação. O problema é ter que desembolsar tanta grana para ter essas vantagens.

Conclusão

O Motorola Edge+ é bonito, rápido e caro. Assim como são os iPhones Pro e o Galaxy S20 Ultra. Há um detalhe aqui e outro ali que podem colocar ele em vantagem ou desvantagem (digamos a tela com taxa de atualização de 90Hz em vez de 120Hz ou a câmera do lado negativo e o visual e autonomia de bateria do lado positivo).

O negócio para a Motorola é tentar se estabelecer neste mercado para ganhar fãs, mostrar a que veio. A disputa tem sido tão acirrada que pode ser difícil apontar o melhor entre os celulares de ponta, muitas vezes vai da preferência de cada um pela marca e pelas particularidades que oferecem. A Apple com seu ecossistema do iOS, por exemplo. A Samsung que manda muito bem na tela, desempenho e consistência.

Já a Motorola está chegando, tem alguns diferenciais bobos (mas bastante úteis) para oferecer, como os gestos clássicos que abrem a câmera rapidamente ao girar o pulso ou ativar a lanterna chacoalhando o aparelho. Outra particularidade é o Android praticamente sem modificações, que pode agradar quem curtia os modelos da linha Nexus.

Quando entramos nessa linha de ponta, é quase tudo exagero, das especificações ao preço. Então, o jeito é terminar o review da mesma maneira que terminei o do Galaxy S20 Ultra:

É muito caro.

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