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[Review] Motorola DEXT

Quando um fabricante de smartphones que um dia já foi líder no mercado – e hoje está na última posição – descarta o Windows Mobile e parte pro Android, trata-se de uma decisão de tudo ou nada. Quem diria que isto poderia salvar a empresa?

Quando um fabricante de smartphones que um dia já foi líder no mercado – e hoje está na última posição – descarta o Windows Mobile e parte pro Android, trata-se de uma decisão de tudo ou nada. Quem diria que isto poderia salvar a empresa?

O DEXT é o SO Android com hardware Motorola. Como o Palm antes dela, a Motorola decidiu que o Windows Mobile seria fraco demais e chegaria tarde demais para fazer frente à ameaça iPhone. mas em vez de sentar a bunda no laboratório e criar algo do zero, a Motorola decidiu pegar um SO já estável e incluir recursos de networking social diretamente na interface. Então sim, ele basicamente é um telefone Android; mas é um telefone Android++.

O DEXT cumpre admiravelmente a sua promessa de networking social, mesmo que haja alguns problemas de design que impeçam que a experiência seja perfeita. E apesar de ser um tanto lentinho quanto ao hardware – ou melhor, tão lento quanto qualquer outro telefone Android por aí – o fato de possuir um bom teclado físico e o sólido hardware Motorola por trás dele torna o DEXT um concorrente bastante interessante no mundo Android.

O hardware é ótimo, exceto quando não é
A Moto não é nenhuma novata em fazer os seus próprios telefones, então é de se esperar um know-how esperto de hardware no design do DEXT. Isso só é meia verdade. Tudo no telefone está onde você esperaria que estivesse e os botões ficam em posições mais ou menos aceitáveis, mas há uma frouxidão no teclado slider que fica cada hora mais irritante conforme eu brinco mais e mais com ele. Eu não sei dizer se é porque o slider não trava direito no lugar como deveria – tem uma ligeira folga tanto na posição aberta quanto na fechada – mas o que interessa é que este efeito é realmente perturbador. Não é que a parte da tela vá cair, é apenas uma frouxidão incômoda no telefone que faz você sentir como se eles não tivessem encaixado tudo direito no lugar.

Um teclado físico é sempre algo bem-vindo e o DEXT se comporta bem. Tem espaçamento suficiente entre as teclas, facilitando a digitação, mas não a ponto de ocupar muito espaço. É possível que as teclas de símbolo pudessem ser mais bem arranjadas (o underscore fica escondido dentro de um menu de símbolos), mas isso é só picuinha minha. No geral, é um teclado bom e rápido de se digitar coisas.

Outras peculiaridades
A frouxidão – sim, ela, de novo – do slider significa que você precisa segurar apenas a parte de baixo (a do teclado) do telefone quando está tirando uma foto, caso contrário a tela se abrirá e você provavelmente deixará o seu aparelho cair. Além disso, a Motorola decidiu deixar a chave de liga/desliga no mesmo nível do lado direito do telefone de modo que até o Demolidor da Marvel teria dificuldade de encontrá-lo pelo toque. Como o botão de energia também permite que você ative Wi-fi, Bluetooth, Modo Avião e GPS, isso é design ruim.

Você precisa abrir a capa da bateria para enfiar um cartão microSD de até 32GB lá dentro, mas como você raramente precisa substituir isso (use um microUSB para transferir arquivos), não se trata de um grande problema. Eu gostei do fato de não haver capa na entrada do microSD, além da presença da chave – agora obrigatória – do modo vibratório no lado esquerdo do telefone. A sua entrada de fone de ouvido de 3,5mm ser localizada diretamente na parte superior do telefone mais ou menos enrosca os fios, mas eu prefiro um telefone ligeiramente mais feio do que não ter uma entrada de 3,5mm.

Energia e bateria
Como o DEXT roda sob o mesmo processador que os telefones Android de agora – como o Hero e o MyTouch 3G – não há grande diferença de desempenho entre os aparelhos. Eles são todos meio lentos mesmo. Não lentos do tipo inutilizáveis, mas as transições e as animações não aparecem imediatamente. E esta lentidão pode ser parte do motivo pelo qual a interação com a touchscreen não é um processo tão fluido quanto poderia ser e o porquê de às vezes, quando você passa o dedo entre e-mails e tweets, a página volta pro mesmo lugar e você precisa passar uma segunda vez.

Quanto ao tempo de duração da bateria, dá pra imaginar quanto você consegue extrair de um aparelho sempre conectado que recebe e-mails, tweets e atualizações do Facebook o dia inteiro. Mesmo que você não faça muitas chamadas, você precisa recarregar o aparelho todas as noites. E se você fizer muitas chamadas, mandar muitas mensagens de texto e tweets, é bom você arranjar um carregador externo.

O que mais puxa energia parece ser o push e-mail e o fato de você usar bastante o telefone para se manter atualizado com tudo o que está rolando com as suas redes sociais. A Motorola, neste sentido, fabricou uma faca de dois gumes: as pessoas quererão usá-lo bastante para verificar as suas atualizações, mas a sua bateria de 1420 mAh se esgotará em menos de um dia.

Recursos de hardware de que gostamos
Tem uns dois toques bacanas dos quais gostamos bastante, como a luz piscante à frente para notificações, algo que já existe nos BlackBerries há um tempo. Excelente se você não recebe muitos e-mails ou se não segue muitas pessoas. Você também pode despertar o telefone usando os botões frontais, não apenas a chave de energia, assim duas rápidas apertadas no botão do menu lhe jogarão imediatamente pra tela inicial.

Ter um D-pad será útil no futuro quando os desenvolvedores Android começarem a fazer jogos que se utilizem disto, mas você já pode usá-lo em emuladores de NES/SNES. E a câmera é uma potente máquina de 5 megapixels com foco automático, o que produz fotos decentes comparado com outros telefones Android. Além disso, a qualidade da ligação é bem boa, algo que a Motorola conseguiu fazer direito mesmo quando seu software era capenga.

Software
Vendo como o Android já está disponível há um bom tempo e que todos devem estar familiarizados com o que ele faz, eu vou me concentrar nas seções específicas ao DEXT. É suficiente dizer que ele é capaz de fazer tudo o que os outros telefones Android fazem, inclusive baixar MP3s OTA da Amazon e acessar todos os aplicativos do Marketplace. As mais importantes das adições da Motorola são os widgets da tela inicial, então vamos partir daí.

Os widgets da tela inicial
Os quatro widgets dignos de nota são o de status, o de mensagem, o de acontecimentos e o de notícias/RSS. O widget de notícias é auto-explicativo, mas os outros são um pouco mais complicadinhos. O widget de status permite q você atualize o seu “status” em qualquer um dos seus sites de rede social, como Facebook ou Twitter. O widget de mensagens consolida TODAS as suas mensagens 1:1, como e-mails, SMS, DMs no Twitters ou mensagens particulares no Facebook. O de acontecimentos é um feed das atualizações de status das outras pessoas nas suas redes sociais.

Widget de mensagens
Eu não sei o porquê, mas dá uma bela satisfação poder passar com o dedo pelos seus e-mails direto da tela inicial, rapidamente deletando ou respondendo com apenas um toque. O problema vem com a maneira como ela é implementada e a falta de espaço na tela, porque você não consegue ver a lista de destinatários para ver se você é a única pessoa com endereço ´para´ em um e-mail, nem você pode responder para todos caso haja múltiplas pessoas. E ele não informa se você tem algum anexo.

Basicamente é apenas uma janela pequena para o seu e-mail e você precisa abrir de fato o aplicativo tradicional de e-mail para obter qualquer comunicação além da básica. E tem também um aplicativo completo de mensagens que consolida todas as suas contas como o faz o widget.

Widget de acontecimentos
É aqui onde todas as suas redes sociais são apresentadas num único feed grande. Novamente, é uma bela economia de tempo ter todas estas atualizações em um único lugar e poder passar o dedo entre elas, apesar de às vezes você receber muitas atualizações para conseguir de fato realizar tal façanha. O que mais gostaríamos é se houvesse uma opção para personalizar quais redes são apresentadas no widget para podermos, digamos, ter apenas o Twitter e deixar de fora o Facebook. Neste momento é um lance de tudo ou nada e você precisa ir pro aplicativo de Acontecimentos para enxergar tudo em forma de lista e poder visualizar apenas uma rede por vez.

O widget permite que você interaja diretamente e responda às atualizações das pessoas, assim você pode deixar um comentário no mural das pessoas ou dar um @reply no tweet de alguém. Você só precisa é começar a digitar em uma seção em particular e uma opção de menu aparecerá, perguntando se você deseja executar alguma ação específica.

Widget de notícias
O widget RSS se comporta praticamente como os dois anteriores, permitindo que você passe o dedo pelos itens de notícias como você o faria em um leitor RSS padrão. A Motorola foi caridosa o suficiente para unir alguns tipos de feeds RSS e o Gizmodo faz parte do feed de Tecnologia. Bela escolha, rapaziada!

Bons toques
Ao evitar a criação de todo um sistema operacional a partir do zero, os engenheiros da Motorola tiveram tempo em suas mãos para realmente pensar sobre a experiência do usuário e isto é definitivamente comprovado nestes pequenos toques e atalhos que eles incluíram:

•    Tem umas animações de transição bem bacanas quando você abre widgets e aplicativos, que são rápidas o suficiente para não incomodarem, mas lentas o suficiente para distraírem você por um segundo enquanto o seu programa está carregando;
•    Os rostos são buscados e anexados aos seus contatos automaticamente e você pode optar se você quer pegar as imagens do Google ou do Facebook. Desta maneira você pode sempre ter algum tipo de imagem para a pessoa quando esta liga para você, facilitando o reconhecimento;
•    A conta MotoBlur que você precisa criar durante a configuração inicial faz o backup de algumas das suas configurações de forma que você possa recuperá-las em caso de furto do seu telefone;
•    Falando em roubo de telefone, existe um serviço online gratuito que é semelhante ao MobileMe e que você pode usar para localizar o seu telefone pela web;
•    A tela inicial possui cinco painéis. Irado, né? Né?
•    O botão de chamada foi modificado para um botão de software, eliminando a necessidade de dois botões físicos na parte externa do telefone. Você também tem acesso a um botão de contatos em vez de um botão para finalizar a chamada, já que você não precisa desligar se você não está em uma chamada;
•    Tem voicemail visual;
•    Tem rostos das pessoas por todas as partes e você pode ver as suas últimas atualizações de status quando uma chamada é iniciada;
•    Você pode manualmente interligar os contatos, como no webOS da Palm, caso o telefone não reconheça automaticamente que o Pedro que você vê é o mesmo Pedro Burgos que você tem no seu Gmail;
•    Existe um widget de ajuda para ajudá-lo a se guiar pelos poucos recursos que você talvez não esteja enxergando;
•    Existem atalhos por todas as partes, o que geralmente seria algo ruim, já que você precisa fuçar pra encontrá-los, mas eles são implementados de tal maneira que de fato faz sentido;
•    Você pode digitar na tela inicial para encontrar um contato. Isto faz sentido no no mundo do DEXT, já que se trata de um aparelho voltado às pessoas, enquanto em outros telefones faria mais sentido abrir a busca do Google;
•    E digitar nas caixas dos aplicativo faz busca pelos seus aplicativos

Problemas
Contudo, o software não é perfeito e você se deparará com alguns incômodos mesmo com todo o resto de belezura.
•    O Yahoo Mail só funciona com 3G, não Wi-fi. Isto provavelmente tem algo a ver com algum acordo ou restrição legal, mas não torna a decisão menos chata. Se tivéssemos que escolher entre Yahoo somente pelo 3G ou sem Yahoo, escolheríamos 3G;
•    Não existe sincronização com desktop para os seus contatos ou calendário. Você pode enviar filmes, música e fotos pela conexão microUSB, mas a Motorola realmente quer fazer você colocar os seus contatos ou pelo Gmail ou por uma rede social e puxá-los de lá.

Você também não tem um controle muito fino sobre as contas. Por exemplo, você não poderá fazer o seu telefone puxar contatos somente do Gmail e não do Facebook, ou optar por exibir somente os seus contatos do Twitter e MySpace. É basicamente tudo ou nada. Mais personalização de conta seria a meta número um de software que pediríamos para a equipe da Motorola, e algo que estaremos ávidos para ver na versão 1.5 do Blur.

A experiência como um todo
Como dissemos na seção de hardware, o que mais impede o DEXT de ser um telefone fantástico é o processador. As animações são suaves, os toques da interface com o usuário são inteligentes e o lance do networking social é bastante útil; nós só adoraríamos se tivéssemos um pouco mais de controle sobre a conta e que tudo fosse feito com um hardware mais veloz. Quando a Motorola colocar a plataforma Blur em um telefone mais potente e trabalhar em cima de algumas das peculiaridades de software que notamos, eles terão um telefone Android realmente em mãos.

É deste telefone que a Motorola precisa para voltar à corrida dos smartphones? Pode ser. Eles foram espertos o suficiente para saber que fazer apenas mais um telefone Android não era suficiente por si só, então eles botaram a cabeça pra funcionar e criaram toda esta cola de networking social para juntar toda a experiência. Ela é coerente o suficiente para dizer que o DEXT possui uma experiência diferente de qualquer outro aparelho semelhante, como o HTC Hero, e é também um belo passo inicial em um possível retorno da Motorola ao mundo dos smartphones. [Motorola]

Recursos de networking social são muito bons
Diversos pequenos toques que melhoram a plataforma base Android
Teclado físico
Hardware decente exceto pela frouxidão do teclado
É em essência um telefone Android, o que significa que ou você amará ou odiará, baseado no que você pensa a respeito da plataforma

Uma CPU lerda torna a experiência pior do que poderia ser

O DEXT será lançado no Brasil na segunda quinzena de novembro, a princípio com exclusividade da Claro, ao que tudo indica por R$ 1.599 no pré-pago. 

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