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[Review] Motorola One Zoom: câmeras até demais

A Motorola se utilizou de uma jogada de marketing com o One Zoom. Apesar de o celular levar o nome “One”, característico dos lançamentos com Android One (sem grandes alterações no software e com garantia de atualizações mais ágeis), ele não faz parte do programa do Google. Na tentativa de surfar na onda de outros […]

Motorola One Zoom de frente

Alessandro Feitosa Jr/Gizmodo Brasil

A Motorola se utilizou de uma jogada de marketing com o One Zoom. Apesar de o celular levar o nome “One”, característico dos lançamentos com Android One (sem grandes alterações no software e com garantia de atualizações mais ágeis), ele não faz parte do programa do Google. Na tentativa de surfar na onda de outros modelos que se mostraram interessantes justamente por essa vantagem, a marca meteu o louco e seguiu com o nome.

Não sejamos injustos com a Motorola também. A companhia tem um histórico bastante positivo de atualização de seus smartphones – costuma ser rápido e ajuda o fato deles não encherem o software com inutilidades mil.

Deixando essas questões de lado, este é o Motorola One Zoom. Um smartphone intermediário premium lançado em setembro de 2019 com preço sugerido de R$ 2.499. Hoje, cerca de um mês após o anúncio, já é possível encontrá-lo por cerca de R$ 2.000, mas se for pago à vista.

Um exagero de câmeras

O “Zoom” no nome se deve a um de seus quatro sensores com zoom óptico de 3x – não é tão incrível quanto o P30 Pro e seus 5x, mas já é alguma coisa. São esses os componentes: um sensor de 48 MP, um grande angular de 16 MP, uma lente telefoto de 8 MP de zoom 3x e uma câmera de profundidade de 5 MP. E já que estamos aqui, vamos falar da qualidade dessa turminha do barulho.

Parte da tecnologia do One Zoom é emprestada de outro smartphone Motorola que tem certo foco em fotografia e vídeos, o One Vision. Pegando emprestado o trechinho da nossa outra análise: os 48 megapixels da câmera principal funcionam no esquema Quad Pixel. Isso significa que cada quatro pontos podem virar um único na imagem como forma de compensar a falta de luz.

Em condições favoráveis de iluminação, o Zoom faz um bom trabalho. Fotos nítidas, com riqueza de detalhes e com software ágil para você não perder os momentos mais importantes. O aparelho, porém, sofre de um problema que a maioria dos smartphones que decidem ter múltiplas câmeras também sofrem, mas de maneira bastante acentuada: as cores capturadas entre uma lente e outra são bastante diferentes. Especialmente da grande angular para o sensor principal. Abaixo, separei algumas das fotos que eu tirei com o celular. Repare na diferença de tons na foto do MASP.

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O One Zoom é um celular bem versátil para tirar fotografias, mas eu não tenho certeza do por que você realmente gostaria de um aparelho com tantas lentes. A opção de zoom óptico de 3x, inclusive, fica num chove e não molha esquisito. Os 3x são demais para aproximar algum objeto que está um pouquinho mais distante e insuficientes para capturar algo distante com riqueza de detalhes.

Fui ao estádio ver meu time levar um baile de um clube com nome de suco de caixinha e em determinado momento a organizada levantou um bandeirão que eu queria enquadrar. Estava do outro lado do estádio e pensei em usar o zoom óptico de 3x. Acontece que era zoom demais. E se eu usasse, digamos, 2x, estaria usando o zoom digital do sensor principal. Nessa mesma situação, os 3x não eram suficientes para eu tirar fotos do campo com riqueza de detalhes.

Quando analisei o Huawei P30 Pro, comentei que essas opções exageradas de zoom pouco fazem sentido para o meu uso. Há poucas situações em que ele se mostra verdadeiramente útil, ao contrário da lente grande angular que permite enquadrar mais objetos numa cena e brincar mais com as possibilidades. Um zoom óptico de 2x também pouco adiciona nessa versatilidade.

As cenas noturnas, por sua vez, são inconsistentes. O software da câmera sugere que você pule para o Modo Noturno, que promete mais nitidez para as suas fotos em baixas condições de luminosidade. Para esses casos, prepare-se com uma mão firme e espere resultados levemente artificiais. Não é uma câmera inutilizável à noite, mas você ficará mais dependente do sensor principal.

O Modo Retrato trabalha bem, graças a um sensor dedicado à leitura de profundidade – a não ser que o seu plano de fundo seja confuso para a leitura do software, o que não é exclusividade desse modelo, nem mesmo da Motorola.

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No geral, o conjunto de câmeras entrega fotos boas para um aparelho desse segmento. Agora, para um modelo que se vende como uma opção focada em fotografia, pode decepcionar – principalmente aquelas pessoas que vêm de linhas de cima, como Galaxy S ou iPhone, e quer economizar uma grana.

Corpo controverso

Passado o quesito câmera, vamos de visual. Se você achou o iPhone 11 Pro parecido com um barbeador, provavelmente vai enxergar um fogão de quatro bocas na área reservada para as lentes do Motorola One Zoom.

A protuberância que abriga as lentes também conta com o logotipo da Motorola. Ele fica aceso, como se fosse um Bat-Sinal brega. Toda vez que se acende a tela do smartphone, o negócio também faz questão de aparecer, com bastante destaque à noite. A boa notícia é que é possível desligá-lo, indo no menu Configurações > Som e luzes > desativar a opção Luzes (obrigado pela dica, Jose Adriano Mesquita).

Essa protuberância, inclusive, é muito incômoda. Ao segurar o celular, parte do dedo acaba ficando sobre ela e não é nada confortável. A Motorola parece saber disso, já que mandaram uma capinha de silicone que deixa o celular maiorzinho, mas previne que os dedos fiquem raspando no calombo.

O modelo enviado para testes era marrom e a traseira de vidro tinha uns detalhes na horizontal que eu achei bacaninha. Diferente do visual clássico que vemos por aí. Ah, e ele é grandão (hoje em dia, qual celular não é?) e comprido, com tela de 6,4 polegadas e proporção 19:9.

O display, inclusive, é OLED com resolução de 2340 x 1080 pixels. As cores são bastante vibrantes, mas há opções de ajuste nas configurações caso você prefira tons mais sóbrios. É um painel satisfatório para um celular nessa faixa de preço. Abaixo dele há um sensor de impressões digitais que funcionou muito bem durante o meu tempo com o aparelho. A câmera frontal fica numa gotinha centralizada, relativamente discreta. Na era do entalhe, é uma das soluções menos piores.

Um destaque rápido para a presença de entrada para fones de ouvido

Usando

Em termos de desempenho, é o que você pode esperar de um aparelho de R$ 2.500: não trava, não engasga, não te deixa na mão. O processador é um Snapdragon 675, seguindo a linha de decisões da Motorola de não trazer um smartphone com chip parrudo da linha 800. Acontece que esse chipset é um dos mais avançados dessa linha 600 – o que diferencia ele dos demais é a presença de uma GPU Adreno 612, que é mais potente, além de dois núcleos de alto desempenho (os outros estão lá para lidar com tarefas mais básicas e não sugar a bateria). São 4 GB de RAM que lidam bem com o multitarefas e, em números relacionados, generosos 128 GB de armazenamento.

Minha questão com essa escolha de chipset é longevidade. Pela lógica, é um aparelho que vai sentir a queda de desempenho mais rápido do que um modelo que use um Snapdragon 8xx. Mas faz parte do jogo. Está difícil encontrar um celular com esses números que não seja absurdamente caro – a não ser que você importe de algum lugar.

Bateria

E se a questão é longevidade durante um dia, o Moto One Zoom não decepciona. A bateria de 4.000 mAh dura o dia todo com bastante tranquilidade, como costuma ser a experiência Motorola nesse quesito. Tirando o celular da tomada perto das 8h, usando-o esporadicamente até o meio-dia e fazendo uso mais intenso pela tarde e começo da noite, conseguia chegar em casa entre 30% e 40% restante. Na caixa ainda vem um carregador USB-C TurboPower, então é difícil mesmo ficar sem bateria por muito tempo.

Conclusão

Dá para concluir muitas coisas depois de usar esse celular por alguns dias. A conclusão mais clara que me vem à cabeça é: por R$ 2.499 esse não é o celular para quem quer fotografias maravilhosas – o que é um tiro no pé de um celular que se diz voltado para essa atividade. Neste caso, vá de um topo de linha do ano passado que esteja custando quase a mesma coisa (Galaxy S9+ é praticamente a única opção, os iPhones são caríssimos e não tem outra marca no Brasil com preços competitivos e câmeras que dão show).

Isso não quer dizer que as câmeras são ruins. O sensor principal é interessante, mas os seus pares não ajudam muito. E eu estou pegando no pé da Motorola por causa do marketing e do número de câmeras. Precisava tudo isso? Uma dedicação maior ao software ou a um desses sensores extra não seria o suficiente? São questões complicadas e envolvem a percepção dos consumidores que muitas vezes vê quantidade em detrimento da qualidade. Faz parte do jogo.

Me decepciona o fato de a Motorola incluir o “One” no nome do aparelho e ele não fazer parte do programa do Android One. Algumas escolhas no design também não me agradaram muito.

Agora, o desempenho e a autonomia de bateria são destaques muito positivos. Para quem é fã da marca, está acostumado com aparelhos com software limpo e quer se manter nessa, pode ser uma boa escolha. Eu esperaria uma desvalorização, mas pode ser complicado já que os modelos da Motorola demoram mais para baratear no varejo.

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