[Review] Sony Xperia XZ2: um ótimo smartphone sem grandes encantos

A relação da Sony com os smartphones não é das mais estáveis. De tempos em tempos, ressurge o rumor de que a empresa japonesa vai abandonar a sua divisão mobile, aí os números mostram o oposto, então talvez ela desista de desistir, mas talvez abandone, sim, pois desativou algumas fábricas, pode sair de alguns mercados e até mesmo […]

A relação da Sony com os smartphones não é das mais estáveis. De tempos em tempos, ressurge o rumor de que a empresa japonesa vai abandonar a sua divisão mobile, aí os números mostram o oposto, então talvez ela desista de desistir, mas talvez abandone, sim, pois desativou algumas fábricas, pode sair de alguns mercados e até mesmo do mercado de eletrônicos no geral. Junte a isso o fato de que a marca vem renovando sua linha em um ciclo frenético de menos de um ano e pronto, fica difícil acompanhar e botar fé.

No entanto, mesmo em meio a tantas condições adversas, a empresa conseguiu fazer um ótimo trabalho com o Xperia XZ2, seu novo top de linha. Nós testamos o aparelho por duas semanas e contamos aqui como é usá-lo.

Design

O Xperia XZ2 representa a primeira mudança em muito tempo no design dos smartphones da Sony. Não chega a ser uma ruptura, porém — ele continua com o aspecto de monolito, com a frente “quadradona” e cantos arredondados. A traseira, no entanto, não é mais plana, e sim curvada. Isso deixa o aparelho mais fácil de segurar de maneira confortável.

A tela, de 5,7 polegadas, tira bom proveito do formato 18:9. Apesar do tamanho considerável, o display é mais alongado verticalmente, e o aparelho termina com uma largura bastante aceitável. As bordas mínimas também ajudam. Na prática, é como se você estivesse com um celular pequeno na mão, no qual é possível digitar segurando apenas com uma mão e usando apenas o polegar, mas com espaço suficiente para ver de forma confortável o feed da sua rede social favorita, bem como seus e-mails, documentos e planilhas.

O material usado parece plástico e não dá o ar de acabamento de um modelo premium. Além disso, pega marcas de dedo fácil, fácil. Você vai precisar ficar limpando o celular na camiseta se não quiser que fique parecendo que comeu um balde de frango frito mexendo no smartphone.

O sensor de impressões digitais fica na traseira do aparelho. Particularmente, não gosto tanto dessa opção, pois costumo deixar o celular sobre a mesa, o que acaba bloqueando o uso do leitor, mas admito que isso é questão de gosto. O problema, porém, é um pouco pior no Xperia XZ2, pois o espaço para colocar o dedo fica praticamente no meio das “costas” do smartphone, bem abaixo do lugar onde ele costuma estar em outros aparelhos. Por várias vezes, eu enfiei o dedo na lente da câmera e fiquei esperando o Android destravar feito um idiota.

A lente, aliás, também é bastante baixa, em uma posição que lembra um pouco os primeiros Lumia, da Nokia/Microsoft. Várias vezes, ao abrir o aplicativo da câmera para tirar uma foto rápida, com o celular na vertical mesmo, o sensor acabou captando um pedaço do meu dedo. Leva um tempo até você se acostumar com essas particularidades.

Na lateral direita, ficam todos os botões do aparelho: volume, ligar/bloquear a tela e câmera, todos eles em posições bastante confortáveis. Sim, o Xperia XZ2 tem esse item praticamente em extinção entre smartphones: um botão físico de duas fases para a câmera. Particularmente, eu não gosto — o esforço para apertar um botão físico quase sempre faz o aparelho na hora da foto, então prefiro tocar no botão virtual na tela mesmo. De qualquer forma, é mais uma opção para entusiastas da fotografia, e um bom atalho para abrir a câmera rapidamente.

Na parte de cima do aparelho, fica a gaveta para o chip da operadora (apenas um nanoSIM, no modelo que testamos, mas há a opção de dual SIM) e o cartão de memória. Uma coisa legal é que não é preciso usar uma daquelas chavinhas que parecem uma agulha para liberar a gaveta: basta enfiar a unha e puxar. Nós, jornalistas de tecnologia que vivemos trocando de aparelho e tirando e colocando chips, agradecemos.

Na parte de baixo, a única porta do aparelho, uma micro USB tipo C. Lamentavelmente, o Xperia XZ2 aderiu à tendência de eliminar a porta P2 para fones de ouvido. O smartphone vem com um “rabicho” para conectar fones comuns, mas aí não dá para carregar o smartphone e ouvir música ao mesmo tempo. (Ok, a Sony vende um acessório exatamente para isso.)

No fim das contas, talvez isso não importe tanto para o público-alvo, já que, creio eu, quem paga os quase R$ 4 mil em um aparelho desses deve ter dinheiro para comprar um fone Bluetooth também.

Usando

O Xperia XZ2 tem um conjunto com processador topo de linha e números aceitáveis de RAM e armazenamento. O chip é um Snapdragon 845, um octa-core com quatro módulos trabalhando a 2,7 GHz e outros quatro a 1,7 GHz. São 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento. Esses últimos não impressionam, quando levamos em conta que há aparelhos por aí com 6 GB de RAM, até mesmo em categorias mais baratas.

Deixando isso de lado, o que temos é um hardware bastante potente, capaz de rodar o Android 8.0 e praticamente todos os aplicativos muito bem, sem engasgos na hora de usar o multitarefas. Aproveitando o espírito de Copa do Mundo, brinquei um pouco com o FIFA e o jogo fluiu muito bem.

A evolução do tratamento dado pela Sony ao software, aliás, merece destaque. Eu já usei alguns smartphones da marca há coisa de três anos e era claramente um ponto fraco dos Xperia, todo bugado, com sérias limitações. Agora, não mais: tudo funciona muito bem e você não tem mais a sensação de estar usando um sistema operacional recortado.

Visualmente, não há grande diferença entre o sistema operacional puro e a versão alterada pela Sony. Há algumas firulas aqui e ali, como um mostrador circular de segundos na tela de bloqueio, ou uma tela de sugestões de app no launcher. O Xperia Home, aliás, ainda não mostra as notificações do aplicativo depois do toque longo, mas isso você consegue resolver com uma passadinha na Play Store.

O Xperia XZ2 vem, sim, com bloatware, como três apps da Amazon (Shopping, Kindle e Prime Photos), um tocador de mp3, uma galeria da própria Sony e alguns apps de efeitos de câmera bem bobinhos. Dá para desativar ou simplesmente esquecer que eles estão ali. Com 64 GB de armazenamento, fica difícil não ter espaço no smartphone.

O smartphone também tem um recurso interessante, chamado de vibração dinâmica. Sabe a vibração do controle do PlayStation? Parece bastante. O aparelho “chacoalha” em vários níveis de intensidade, de acordo com a música ou o som do vídeo que você está vendo. Você pode desativar o recurso, e ele fica mesmo indisponível com o modo Stamina (falaremos mais dele adiante) ligado, para economizar bateria. Há três “volumes” de vibração: leve, moderado e intenso.

Com música, eu não vi muita graça no recurso, não, exceto em uma ou outra canção com graves mais destacados, como uma linha de baixo mais marcada ou um bumbo pulsante. Com vídeos, faz sentido, e certamente vira um diferencial para quem gosta de ver séries e filmes no smartphone.

A tela, aliás, segue a tradição da Sony de fazer displays de alta qualidade. O visor tem 5,7 polegadas de tamanho na diagonal e resolução FullHD+, com 1080 x 2160 pixels distribuídos em uma proporção de 18:9. Mesmo usando a tecnologia IPS, o contraste é bom e as cores, bastante vívidas. A tecnologia HDR certamente ajuda muito na hora de ver imagens e vídeos.

Voltando ao áudio, o Xperia XZ2 vem com muitas tecnologias e opções para quem quer melhorar a qualidade das músicas que você ouve. DSEE HX™, LDAC e Clear Audio+ são alguns dos nomes na sopa de letrinhas da folha de especificações. Ativando o primeiro desses nas opções do aparelho, eu senti uma melhora considerável nas canções que ouvi no Deezer em relação ao meu smartphone (um Asus Zenfone 3 Zoom), usando inclusive os mesmos fones de ouvido.

Bateria

A Sony sempre mandou muito bem no quesito bateria, optando por gerenciamentos de energia muito bem feitos. O modo Stamina, velho conhecido de quem usa smartphones da Sony, oferece três níveis nesta encarnação do SO: desempenho preferencial, equilibrado e economia preferencial.

No primeiro modo, você praticamente não sente nenhuma alteração no uso, e ganha algum tempo a mais longe da tomada, coisa de uma ou duas horas. O modo equilibrado já mata alguma suavidade nas animações de tela, mas garante um pouco mais de tempo.

Eu usei o Xperia XZ2 nesses dois modos em grande parte do tempo e não deixei de receber notificações. Digo isso porque estou acostumado com o gerenciamento de energia da Asus, que é mais agressivo e simplesmente impede que alguns aplicativos sejam iniciados automaticamente, o que pode fazer com que você perca algumas notificações.

Já a economia preferencial se parece muito com o modo de economia de energia nativo do Android: as transições de tela são feitas da maneira mais direta possível, e a conexão de dados é cortada quando o celular está em modo de espera.

Em todos os casos, você pode optar por deixar o modo Stamina ativado sempre ou definir uma porcentagem de energia para o sistema ligá-lo automaticamente. Tem também um atalho para ligá-lo e desligá-lo rapidamente. O sistema, inclusive, notifica com projeções do horário para a bateria se esgotar e sugere ativar o Stamina, se for o caso.

 

Para casos extremos, tem um modo Ultra Stamina que transforma o aparelho em um dumbphone: a conexão de dados é totalmente cortada e só poucos aplicativos são ficam disponíveis, como Agenda, Mensagens, Telefone e Câmera.

Na prática, isso tudo funciona muito bem. Os 3.180 mAh foram suficientes para um dia de uso com bastante folga. Mesmo em dias de uso mais intenso — ver dois jogos da Copa pelo Globo Play e ouvir dois discos no Deezer, tudo em Wi-Fi e sem fones de ouvido, além de um uso pesado de redes sociais — o Xperia XZ2 não precisou ir para a tomada antes da hora de dormir, apresentando até uma folguinha.

A tomada, aliás, merece ser citada. O carregamento rápido — o Quick Charge 3.0 da Qualcomm — é excelente e leva pouco mais de uma hora para atingir os 90%. O software da Sony vem, ainda, com a opção de controlar a recarga para diminuir a velocidade do carregamento quando a energia chega nesse nível.

O smartphone também aprende a hora que você costuma colocar seu telefone para carregar e a hora que costuma tirar da tomada para limitar a velocidade de carregamento e, assim, prolongar a vida útil da bateria. É um esforço bastante louvável.

Câmera

A Sony andou na contramão da tendência de equipar smartphones com duas ou mais câmeras na traseira. O Xperia XZ2 tem só uma lente e só um sensor na parte de trás.

Assim como ocorre com as especificações de RAM e armazenamento, os números da câmera não chegaram a me impressionar quando recebi o aparelho: a lente tem abertura ƒ/2.0, relativamente pequena em um mundo de tantas ƒ/1.7. Os 19 megapixels são realmente maiores do que a concorrência, mas não tão absurdos quando pensamos que a própria Sony já colocou 23 megapixels em outros aparelhos.

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Tem outras especificações bastante importantes, que você pode conferir em detalhes no site da marca, como sensor de 1/2,3” e pixels de 1,22 μm.

Na prática, porém, a história é bem diferente do que poderíamos imaginar pelos números. A qualidade do conjunto óptico fica nítida, com o perdão do trocadilho. As fotos tiradas têm um nível de detalhes realmente impressionante. Em ambientes com pouca luminosidade, o ISO de até 12800 entra em cena e consegue captar imagens bastante aceitáveis.

Veja, por exemplo, a foto abaixo. Era de noite, e a única fonte de luz, uma lâmpada incandescente não muito forte, estava em um corredor a mais de cinco metros de distância. É praticamente um milagre aparecer alguma coisa na foto.

Para vídeo, a câmera também tem o interessantíssimo recurso de câmera lenta a 960 frames por segundo.

Em outros recursos, também vale destacar o criador de modelos 3D que acompanha o aparelho. Não é nada muito útil ou prático, mas pode ser divertido para brincar em momentos de tédio.

Conclusão

Como dissemos durante a MWC deste ano, o Xperia XZ2 é um aparelho para colocar a Sony de volta no jogo. O problema é que, hoje, eu não consigo imaginar um comprador disposto a gastar todo esse dinheiro — R$3.899 na loja oficial da marca — por alguma coisa que não seja um iPhone ou um Galaxy S9.

E isso serve tanto para o público mais leigo em tecnologia quanto para quem é mais entendido do riscado. O Xperia XZ2 não tem especificações impressionantes, câmeras duplas ou triplas, telas curvas, visual diferenciado. Os recursos exclusivos dele, como a vibração dinâmica e a conexão com PS4, são legais, certamente acrescentam pontos à experiência do usuário, mas me parece pouco para convencer alguém a levar o Sony para casa. Parece que a empresa chegou tarde demais para essa festa.

Discussões de mercado à parte, quem optar pelo Xperia XZ2 dificilmente ficará desapontado com o aparelho. Ele é um excelente smartphone, como há muito a Sony não fazia. Tem uma câmera espetacular, um design muito bem acertado, alterações de software que acrescentam recursos realmente úteis. Os pontos negativos ficam por conta das especificações modestas demais para um aparelho desta categoria — mas que não afetam o desempenho — e o posicionamento esquisito da lente da câmera traseira e do sensor de impressões digitais. É um aparelho para fazer um ótimo campeonato, empolgar a torcida, mas falta um craque para levar o caneco para casa.

Especificações

Android 8.1 • tela de 5,7 polegadas, proporção 18:9, resolução 2160 x 1080 LCD • Snapdragon 845 • 4GB de RAM • 64GB de armazenamento • slot de microSD • bateria de 3180 mAh • resistência à água IP68 • câmera traseira de 19 megapixels • câmera frontal de 5 megapixels• carregamento wireless Qi

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