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Relembrando a vida do astronauta Edgar Mitchell, que foi à Lua na missão Apollo 14

Edgar Mitchell, astronauta da missão Apollo 14, faleceu no dia 4 de fevereiro, na véspera do 45º aniversário da sua missão à Lua. Ele tinha 85 anos.

Edgar Mitchell, astronauta da missão Apollo 14, faleceu no dia 4 de fevereiro, na véspera do 45º aniversário da sua missão à Lua. Ele tinha 85 anos.

>>> Quem foram os astronautas a andarem na superfície da Lua

Mitchell nasceu em 17 de setembro de 1930 em Hereford, Texas. Ele estudou Gestão Industrial no Carnegie Institute of Technology. Após se formar em 1952, ele entrou para a Marinha americana, onde se tornou um piloto, decolando em aeronaves A3 saindo dos porta-aviões USS Bon Homme Richard e USS Ticonderoga. Mais tarde, ele se tornou um piloto de testes.

Em 1957, a União Soviética lançou o satélite Sputnik em órbita, e Mitchell percebeu que queria fazer a mesma coisa: ir para o espaço.

Tomei a decisão em 1957, quando o Sputnik subiu. Eu estava em um porta-aviões no Pacífico, prestes a voltar aos EUA para um trabalho de piloto de testes, e quando o Sputnik subiu eu percebi que os humanos iriam ao espaço logo depois, então comecei a orientar a minha carreira para essa direção naquela época.

Isso o levou a voltar aos estudos: ele obteve um diploma em Engenharia Aeronáutica da Escola de Pós-Graduação da Marinha em 1961. Depois, ele obteve seu doutorado em Ciências (ScD) em Aeronáutica e Astronáutica no MIT, em 1964.

Em 1966, a NASA selecionou Mitchell para treinar como um astronauta como parte do Astronaut Group 5. Entre seus colegas estavam Vance Brand (que mais tarde voou no Apollo-Soyuz Test Project), Charles Duke (Apollo 16), Fred Haise Jr. (Apollo 13), James Irwin (Apollo 15), Kenneth Mattingly (Apollo 16), Bruce McCandless (especialista de missão nos ônibus espaciais Challenger e Discovery), John Swigert (Apollo 13), entre outros.

Bem, quando chegamos pela primeira vez, tínhamos uma escolha – ou melhor, tínhamos o direito de indicar uma preferência para qual atribuição técnica mais gostaríamos, e havia várias opções: concentrar-se no módulo lunar; concentrar-se no módulo de comando; concentrar-se no equipamento auxiliar, como traje espacial e outros – eu não me lembro de todos eles no momento. Mas eu decidi solicitar a missão técnica de módulo lunar, e consegui obtê-la.

Após seu treinamento, Mitchell foi designado como o piloto de apoio para o Módulo Lunar da missão Apollo 10. Ele inicialmente se juntou ao astronauta Alan Shepard Jr. (comandante) e Stuart A. Roosa (piloto do Módulo de Comando) para a tripulação da Apollo 13, só para ter a sua missão adiada para a Apollo 14, a fim de dar a Shepard mais tempo de treinar.

A missão Apollo 14 foi lançada no dia 31 de janeiro de 1971, e se dirigiu para as terras altas de Fra Mauro, o destino original da missão Apollo 13 (que foi abortada). Shepard e Mitchell pousaram na Lua no dia 5 de fevereiro, e Mitchell se tornou a sexta pessoa a caminhar sobre a superfície lunar.

Lá, os dois realizaram duas caminhadas espaciais: na primeira, eles ativaram equipamentos e realizaram vários experimentos científicos; na segunda, eles tentaram encontrar a borda da cratera Cone para coletar amostras. Esta caminhada foi interrompida quando os controladores de voo ficaram alarmados em como a atividade extraveicular (EVA) estava cansando os astronautas. Sem saber, eles chegaram a 20 m de seu alvo.

Mesmo assim, a missão foi um grande sucesso científico: os astronautas bateram um recorde no tempo de EVA, e trouxeram à Terra um total de 43 kg de amostras da superfície lunar, que foram utilizadas em inúmeros experimentos na Terra.

Apesar de seu trabalho científico, a Apollo 14 se tornou mais famosa por outras atividades: Shepard levou um taco de golfe e duas bolas para jogar, enquanto Mitchell arremessou para longe um coletor de amostras lunares.

A dupla saiu da superfície lunar em 6 de fevereiro e voltou para casa, caindo três dias depois no Oceano Pacífico. Anos depois de seu retorno, Mitchell refletiu sobre suas experiências no projeto História Oral da NASA:

Sim. Essa é uma experiência poderosa, e para mim, foi o culminar do meu ser, e o que posso aprender com isso? O que é que estamos aprendendo. Isso é importante, porque eu acho que estamos tentando descobrir a nós mesmos e nosso lugar no cosmos, e nós não sabemos. Nós ainda estamos procurando por isso. E foi um grande esforço.

Mesmo que possamos falar em termos tecnológicos, políticos e financeiros, e como gastamos muitos bilhões de dólares, o verdadeiro objetivo é encontrar a nós mesmos e nosso lugar no esquema maior das coisas.

O voo espacial seria o único de Mitchell: ele serviu como piloto de apoio para o módulo lunar na missão Apollo 16, mas se aposentou da NASA e da Marinha em 1972.

Ele se tornou um defensor dos fenômenos paranormais e de OVNIs, alegando ter uma experiência psíquica em sua viagem de volta à Terra:

Quando Mitchell se aproximou do planeta que conhecemos como lar, ele foi preenchido com uma convicção interior tão certa quanto qualquer equação matemática que ele já tinha resolvido. Ele sabia que o belo mundo azul para o qual ele estava retornando fazia parte de um sistema vivo, harmonioso e completo – e que todos nós participamos, como ele se expressou mais tarde, “num universo de consciência”.

Em 1973, ele fundou o Instituto de Ciências Noéticas, e se tornou um consultor de negócios.

Mitchell dizia acreditar que OVNIs voavam em torno de bases militares durante a Guerra Fria, em uma missão para evitar uma guerra nuclear entre os EUA e a União Soviética. Alguns anos antes, Mitchell disse que ETs haviam visitado a Terra, alegando que “se eles tivessem sido hostis, nós não estaríamos aqui para contar a história”. Na época, a NASA retrucou: “Dr. Mitchell é um grande americano, mas nós não compartilhamos das opiniões dele sobre esta questão.”

Mitchell confessou em 2013 que nunca havia visto um OVNI na vida: “considero-me muito bem informado, embora eu não tenha visto um [OVNI] pessoalmente. Eu não estou lá fora, olhando – eu sou muito ocupado.”

Com a morte de Mitchell, a tripulação da Apollo 14 já não existe mais: Shepard faleceu de leucemia em 1998, enquanto Roosa faleceu de pancreatite em 1994. Isto também marca a primeira vez que toda uma equipe lunar já faleceu, mesmo que apenas sete dos caminhantes lunares ainda estejam vivos.

Em um comunicado após a morte de Mitchell, o administrador da NASA Charles Bolden disse:

Edgar falou poeticamente sobre ver o nosso planeta a partir da Lua, dizendo: “de repente, por detrás da borda da lua, em longos momentos slow-motion de imensa majestade, surge uma joia azul e branca e cintilante, uma esfera delicada e brilhante da cor do céu decorada com véus brancos que giram lentamente, subindo aos poucos como uma pequena pérola em um mar profundo e misterioso. É preciso mais do que um momento para perceber plenamente que esta é a Terra… é nosso lar.”

[Palm Beach Post, CollectSpace, NASA]

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