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Rússia exige que YouTube não notifique transmissões ao vivo de manifestações

Após manifestações contra o governo repercutirem na internet, agência russa caracterizou o Google como promotor de “eventos ilegais de massa”.

Polícia russa detendo um manifestante em 10 de agosto de 2019 em Moscou. Foto: AP

O Serviço Federal da Rússia para Supervisão de Comunicações, Tecnologia da Informação e Mídia (Roskomnadzor) exigiu que o Google pare de promover a transmissão de protestos com notificações push, um dia depois que “dezenas de milhares” de russos “participaram do que os observadores chamaram de maior protesto político do país em oito anos no sábado”, informou a Reuters.

Em um comunicado, o Roskomnadzor avisou o Google que, caso não recebam uma resposta, a “Federação Russa considerará isso como interferência nos assuntos soberanos do Estado, bem como uma influência hostil e obstrução à realização de eleições democráticas na Rússia, deixando o direito a uma reação adequada”.

A agência caracterizou o Google como promotor de “eventos ilegais de massa” ao permitir que “uma série de estruturas com canais do YouTube” usem ferramentas de publicidade, incluindo notificações push. Mas, como observou a Al Jazeera, o protesto no sábado que aparentemente direcionou a ira da agência para o Google (com os organizadores alegando que alguns streams chegaram a 50 mil pessoas ou mais) foi aprovado pelo governo russo.

Embora os protestos tenham se originado de queixas específicas da região de Moscou, como a suposta lista negra para impedir que alguns políticos da oposição concorram nas eleições municipais, eles se expandiram para incluir várias questões de âmbito nacional — como o presidente Vladimir Putin e a administração do seu governo em relação à economia e o declínio dos padrões de vida.

Outra preocupação do governo é que algumas das celebridades e músicos mais famosos da Rússia pediram aos seus milhões de seguidores que se juntem aos manifestantes, de acordo com o Wall Street Journal. As autoridades reagiram de várias maneiras, inclusive ameaçando os participantes dos protestos de serem expulsos das universidades ou fazer com que os oficiais de justiça verificassem as dívidas pessoais dos que foram detidos, acrescentou o jornal:

Moscou não assistia a manifestações dessa magnitude desde os vários protestos entre 2011 e 2013, quando a polícia ficou de braços cruzados, permitindo que ativistas se mobilizassem contra a fraude eleitoral em uma votação parlamentar de 2011 e uma eleição de 2012 que reelegeu Putin à presidência depois de quatro anos como Primeiro Ministro.

Desta vez, no entanto, as autoridades russas estão ansiosas para interromper as manifestações o mais rápido possível, para evitar que se apoiem em outras questões que aumentaram o descontentamento na Rússia, incluindo a queda dos padrões de vida e a corrupção endêmica. O apoio a Putin caiu para 64% no início deste ano, o menor desde 2013, embora tenha se recuperado para 68%, segundo o Levada Center, um instituto de pesquisas independente de Moscou.

O Google já enfrentou a pressão de Roskomnadzor antes, incluindo leis exigindo que os mecanismos de busca excluam alguns resultados (com o Google sendo obrigado a pagar uma multa de US$ 7.663 em 2018 por não conformidade).

Naquele ano, o Google também removeu vídeos do YouTube enviados pelo líder da oposição Alexei Navalny, embora a justificativa oficial do governo seja de que os vídeos violaram as leis que proíbem as campanhas no dia anterior a uma eleição. Na época, a divisão russa do Google divulgou um comunicado dizendo que “considerará todos os recursos justificados de órgãos estatais” e que exige que os anunciantes “ajam de acordo com a lei local e nossas políticas de publicidade”.

Além disso, a tentativa frustrada de Roskomnadzor de banir o serviço de mensagens criptografadas Telegram no ano passado levou a agência a bloquear milhões de endereços IP da Amazon e do Google. A grande interrupção nos serviços de internet russos durou semanas. A agência também exigiu que a Apple e o Google removessem o Telegram de suas respectivas lojas de aplicativos.

Em outras notícias tecnológicas russas, o Serviço Federal Antimonopólio da Rússia disse nesta semana que estava investigando a Apple por motivos de antitruste após a gigante de tecnologia impedir que a empresa de segurança Kapersky Labs introduzisse um aplicativo com certas características de controle parental. Embora a Apple eventualmente tenha admitido, de acordo com o New York Times, autoridades russas analisaram a queixa da Kapersky e “concluíram que a Apple havia rejeitado o aplicativo, que havia aprovado anteriormente, e estabeleceu requisitos pouco claros para desenvolvedores de aplicativos”.

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